Estudo revela como o cérebro humano processa o número zero
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |

Números naturais positivos, como um, dois ou três, representam quantidades contabilizáveis que nosso cérebro registra sem muita dificuldade. O zero, no entanto, é um conceito curioso, já que representa a ausência de algo contabilizável, mas, ao mesmo tempo, possui valor numérico — como nosso cérebro o interpreta, então?
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É essa pergunta que cientistas da Universidade de Bonn buscaram respondem em uma pesquisa, onde pacientes que passaram por neurocirurgias foram avaliados enquanto tinham microeletrodos do tamanho de fios de cabelo inseridos no cérebro, mais especificamente no lobo temporal. A eles, foram mostrados números de zero a nove, sob monitoramento dos pesquisadores.
O número zero e o cérebro
Como o zero é um conceito um tanto abstrato, ele surgiu bem tarde na história humana em relação aos números positivos naturais, durante os últimos dois mil anos. No desenvolvimento infantil, crianças geralmente só conseguem entender o zero e suas regras aritméticas por volta do sexto ano de vida.
Aos pacientes do estudo, foram mostrados algarismos arábicos representando os números em uma das mãos, enquanto outra mostrava grupos de pontos, incluindo um grupo vazio, ou, “com ausência”. Em ambos os casos, foi notado um efeito de distância numérica na maneira como os neurônios reagiram.
Eles mostraram uma atividade mais fraca, mas ainda mensurável quando o zero era visto, inclusive junto ao vizinho, o número um. A nível neuronal, o conceito do zero não é codificado como uma categoria separada, o “nada”, mas sim como um valor numérico integrado a outros valores numéricos contabilizáveis — valores na parte mais baixa da linha numérica, segundo os cientistas.
Apesar disso, o grupo vazio foi codificado de maneira diferente à dos outros números a nível de população neuronal, algo especialmente notado quando os pacientes viram o grupo vazio nas mãos.
Isso, dizem os pesquisadores, pode explicar porque o reconhecimento do conjunto vazio também leva mais tempo, a nível de comportamento, para ser reconhecido, mesmo quando comparado com números menores. Nos algarismos arábicos, no entanto, o efeito não foi percebido, tanto em nível neuronal como comportamental.
A conclusão do estudo é que as representações simbólicas são muito importantes para o cérebro. Um exemplo são os numerais arábicos, que integra o número zero no conjunto dos números no cérebro humano. Apesar da grande importância do conceito do zero na matemática, pouco se sabia sobre sua interpretação pelo intelecto humano, algo no qual o presente estudo é pioneiro.
Fonte: Current Biology