Cientistas descobrem tipo inédito de comunicação neuronal no cérebro
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Pesquisadores norte-americanos descobriram uma forma de comunicação entre os neurônios que ainda não era conhecida pela ciência. No futuro, a descoberta pode permitir o desenvolvimento de novos tratamentos para alguns tipos de demência — como Alzheimer — e outras doenças neurológicas, segundo a equipe responsável.
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Publicado na revista científica Cell Reports, o estudo sobre a nova maneira de comunicação das células cerebrais foi liderado por pesquisadores do Scripps Research Institute, nos Estados Unidos.
Entenda a nova comunicação dos neurônios
De acordo com a equipe, no cérebro, centenas de proteínas são constantemente transportadas por toda a região em pequenos "sacos", envoltos por membranas. Para sermos mais precisos, os "sacos" recebem o nome de exossomos. Estes funcionam como se fossem pequenos compartimentos, fechados por membranas, cheios de proteínas, como malas cheias de roupas.
“Esta [descoberta] é uma maneira totalmente nova sobre como as células do cérebro podem se comunicar umas com as outras, nunca antes integrada à forma como pensamos sobre saúde e doença”, explica Hollis Cline, uma das autoras do estudo, em comunicado. “Isso abre muitos caminhos interessantes de pesquisa”, reflete a cientista do Scripps Research Institute.
Anteriormente, sabia-se que os neurônios, normalmente, se comunicam usando substâncias químicas chamadas neurotransmissores, que se movem de uma célula para outra. É assim que enviavam sinais para todo o cérebro.
“Os métodos anteriores não permitiam que os pesquisadores identificassem proteínas específicas sendo transportadas ou observassem o processo em um nível ultraestrutural”, acrescenta Lucio Schiapparelli, um dos autores do estudo e pesquisador da Duke University.
Alzheimer
Até então, a ciência apenas suspeita que um pequeno número de proteínas pudesse se mover de forma mais independente pelo cérebro em casos isolados. No entanto, a ideia era de que essa movimentação atípica fosse associada a algumas doenças.
Uma das provas dessa movimentação pode ser encontrada no cérebro de pacientes com Alzheimer. Isso porque duas proteínas associadas à neurodegeneração — a alfa-sinucleína e a tau — conseguiam se mover entre as células cerebrais, formando placas indesejadas e tóxicas.
“Esta é uma confirmação de que no cérebro saudável, tau e alfa-sinucleína — e seu movimento ao redor do cérebro — são normais”, explica a pesquisadora. “Mas, na doença de Alzheimer, uma forma tóxica das proteínas é transportada entre os neurônios”, completa.
Agora, novos estudos devem investigar esse mecanismo recém-descoberto de comunicação intercelular. Entender esses processos pode permitir a descoberta de novos tratamentos contra as doenças neurodegenerativas.
Fonte: Cell Reports e Scripps Research Institute