Entorpecimento psíquico: entenda o desejo de ignorar notícias de guerra e covid
Por Nathan Vieira | Editado por Luciana Zaramela | 18 de Março de 2022 às 09h40
Em 2020, muito já se falava sobre a "fadiga da pandemia", sensação que acompanha um inconsciente desprezo às restrições impostas para controlar a covid-19. Atualmente, a soma da doença com a guerra na Ucrânia levou a população mundial a um fenômeno chamado "entorpecimento psíquico". Dessa vez, o desgosto é tanto que desencadeia uma vontade de ignorar tudo, até mesmo as notícias.
- Rússia x Ucrânia: como lidar com a ansiedade causada por uma guerra?
- Sobreviventes da covid-19 têm risco 60% maior para transtornos mentais
Segundo um estudo desenvolvido pela American Psychological Association, chega um momento em que as pessoas ficam tão entorpecidas que param de se envolver na vida e de interagir até com os familiares. A equipe entrevistou 3.012 pessoas, e identificou a sensação em pelo menos 50% delas.
O sentimento é caracterizado, principalmente, pela recusa em discutir ou até mesmo pensar sobre os assuntos que tanto machucam, e leva a pessoa a não se comover mais com as milhões de mortes deixadas pelo vírus.
O que é entorpecimento psíquico?
Os pesquisadores apontam que esse entorpecimento psíquico é uma reação diferente da tristeza, porque tem relação direta com a apatia e a indiferença. As pessoas afetadas já não conseguem reagir a experiências antes consideradas prazerosas, como ver uma pessoa querida ou realizar determinada atividade.
O responsável pela criação do termo foi o psiquiatra Robert Jay Lifton, que entrevistou sobreviventes do bombardeio nuclear em Hiroshima e ouviu relatos de que as emoções simplesmente "desapareceram" depois que algumas dessas pessoas se depararam com o desastre. Em sua obra Death in Life: Survivors of Hiroshima, Lifton descree que o entorpecimento psíquico se sobrepõe a outros mecanismos de defesa.