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Hyperscalers e open source: uma combinação inevitável

Por| 08 de Agosto de 2023 às 18h00

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Pexels/Jessica Lewis
Pexels/Jessica Lewis

Nos últimos meses, a tecnologia de hyperscalers foi manchete nos principais noticiários digitais e televisivos. Sob o pretexto dos tristes acontecimentos nas escolas em todo o País, o ministro da Justiça, Flávio Dino, editou uma portaria que estipula limites às redes sociais e aos demais sites de propagação de conteúdo de discursos de ódio que possam influenciar ataques. Na época, muito se falava em limitar a autonomia de empresas com estratégias de hyperscalers e que isso poderia, de alguma forma, impactar na dinâmica do mercado tecnológico. Um primeiro ponto a se entender é que a lei em questão diz respeito à gestão de conteúdo violento e não à forma como grandes empresas de redes sociais gerem atividades.

Nessa linha, é importante estabelecer uma diferença entre hyperscalers sociais e computing hyperscalers, que representam uma fatia consideravelmente maior para negócios e empresas. Também chamado de computação de hiperescala, o modelo está baseado no ecossistema de nuvem e de data centers robustos e compreende o uso mais eficiente da infraestrutura de cloud por meio de soluções resilientes, automatizadas, seguras e, acima de tudo, escaláveis. Um dos grandes diferenciais desse sistema é sua flexibilidade para adaptação de necessidades e adaptabilidade para trabalhar com os principais fornecedores de tecnologia no mercado, sejam dentro de uma lógica on-premise ou até em contexto de computação de borda, também conhecida como edge computing.

Em outras palavras, muitas organizações já fazem uso de estratégias de hyperscalers para dinamizar suas atividades e transformar o ambiente corporativo, tanto para desenvolvedores quanto para outros setores da empresa. Não à toa, segundo um levantamento da Precedence Research, consultoria canadense, esse mercado global movimentou mais de US$ 80 bilhões em 2022 por meio de ferramentas internas para corporações, como a criação de marketplaces e a introdução ferramentas de segurança, e soluções finais de consumidores, a exemplo de APIs e outras funcionalidades para o front-end do negócio. Ainda de acordo com o estudo, esse mercado tem previsão de valer US$ 935 bilhões daqui a uma década, mediante o aprofundamento dessa lógica em outras partes do globo como na Ásia, África e na América Latina de maneira geral.

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Oportunidades, serviços e parceiros

De maneira resumida, existem pelo menos três principais fornecedores que chamamos de hyperscalers: aqueles que são provedores de nuvem, os que oferecem extensões e recursos para o ambiente de cloud e aqueles que se dispõem a entregar o pacote completo. Desde servidores, espaço de armazenamento e serviços integrados para esses ecossistemas, como soluções de compressão e organização de informações, automatização de funções e aprimoramento de segurança até recursos de segurança e análise preditiva de dados tanto para resguardar corporações como para produzir valiosos insights e padronizar entregas por meio de protocolos internacionais e políticas de boas práticas entre empresas.

Dadas as suas especificidades tecnológicas e serviços únicos, geralmente, organizações trabalham com dois ou mais hyperscalers de maneira conjugada, potencializando resultados e expandindo o valor de dados para todo o sistema corporativo. Assim, empresas podem dispor de um fornecedor de nuvem, um parceiro que disponibiliza ferramentas e recursos para trabalhar dentro dessa cloud e outro provisor que fornece parte de uma infraestrutura de dados e, ainda por cima, oferece a clientes certificados e treinamentos especiais para novas tendências de Machine Learning/Inteligência Artificial (ML/AI) e para os recursos de DevSecOps, por exemplo.

Isso significa que para além de fomentar a transformação tecnológica em organizações, o sistema de hyperscalers propicia a consolidação de um ecossistema de parceiros de negócios cujo objetivo é favorecer a experiência do cliente e do consumidor final. Em outras palavras, não é só o ambiente corporativo que ganha escala com a introdução dessa lógica, mas sim de todo o mercado tecnológico de provedores e prestadores de serviços que agora competem e cooperam entre si para um contexto de negócios benéfico a todos. Entendido como sob paradigma do ganha-ganha, a “coopetição” de provedores, como muitos especialistas apontam, vem revolucionando a maneira como soluções, ferramentas e, principalmente, padrões de qualidade são estipulados e critérios de segurança, exigidos.

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Para além de fomentar boas práticas em todo o mercado, hyperscalers são extremamente procurados graças à sua resiliência e flexibilidade para se adequar aos novos desafios do ambiente de negócios. Tanto é assim que, de acordo com previsões do Gartner, o advento da inteligência artificial generativa, como a do Chat GPT, irá aumentar a demanda por estruturas robustas, ecossistemas escaláveis e serviços de análise de dados em tempo real, características claras desse novo sistema de parceiros e contribuidores de tecnologia. Na avaliação da consultoria, até 2026, 75% de todas as organizações terão algum tipo de plataforma integrada que reúna provisionamento de nuvem e serviços integrados à rede corporativa, seja ela pública, privada ou híbrida.

A evolução do negócio na abordagem open source

A despeito de representar um importante avanço para reestruturação e ampliação do mercado de tecnologia como um todo, grande parte dos provedores de hyperscales trabalha com metodologias exclusivas de atendimento, o que significa que uma vez que você assinou com aquele determinado fornecedor, você ficará refém de toda superestrutura, a exemplo dos celulares da Apple e smartphone da Samsung, que não encaixam nem na mesma tomada. No contexto de tecnologia, especialistas chamam essa cláusula de exclusividade como Lock-in, porque você está literalmente amarrado àquele prestador de serviço. Segundo previsões recém-publicadas pela Forrester, pesquisadores contam que essa mentalidade não é só desastrosa para o fluxo de negócios como também afeta o ritmo do desenvolvimento de soluções.

Ainda de acordo com os especialistas, a inovação do mercado de hyperscales reside em sua característica única de aglomerar fornecedores e trazer à tona um grande leque de soluções para o benefício do cliente; dessa forma, não faria sentido restringir o acesso dessas empresas a qualquer tipo ferramenta ou código-fonte específico, porque o objetivo do hyperscaler é, como o próprio nome diz, fomentar transformações para consumidores e em sua própria estrutura, buscando o melhor a todo o ecossistema de forma a criar escala. Assim, esse delicado ecossistema que reúne provedores, intermediários, empresas e, em última instância, o consumidor final dessas inovações pode ser beneficiado pelo mindset do código aberto, o qual estabelece uma lógica de ganha-ganha (win-win) em todos os elos da cadeia.

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Com efeito, tecnologias de dados abertos contribuem não só a proteção individual de empresas e ambientes de TI, mas também com a criação de padrões de segurança globais por meio de protocolos e boas práticas universais em entregas e fornecimento de dados. Para coroar essa estratégia de negócio, um boletim informativo da União Europeia ressalta que o open source é o melhor modelo para estabelecer parcerias, tanto no âmbito público-privado quanto no B2B e B2C, dada o seu baixo custo de implementação no mercado e seu alto fator de reprodutibilidade em ambientes comerciais e governamentais.

Armadilhas de uma estratégia cloud driven & metodologia FinOps

Em grande medida, o open source pode, sim, destravar uma série de oportunidades para a segurança informacional, agilidade operacional e, em última instância, o ecossistema de hyperscalers como um todo. No entanto, esse modelo não deve ser encarado como uma solução final para os problemas mais diversos encontrados por empresas, nem entendido como um alicerce único para a estratégia de corporações no médio, curto e longo prazos.

Um bom exemplo de ter uma mente open inclusive com a tecnologia open source é a migração em massa do ambiente de nuvem para o on-premise, no qual empresas dos Estados Unidos, Canadá e Europa seguem na dianteira. Apesar de grandes consultorias como Gartner, Forrester e McKinsey assegurarem que o mercado de cloud continuará inchado nos próximos anos, um instituto de tecnologia foi contra os ventos e assinala um tempo mais nebuloso nos próximos anos. De acordo com um levantamento realizado com 300 empresas globais, a Device42 aponta que 80% dos consumidores acreditam que o cloud computing representa um custo muito alto para ser mantido sem nenhuma ponderação, ao ponto que 20% dos ouvidos já têm um plano de rollback em mente, estruturando estratégias híbridas ou o retorno completo para o ambiente local.

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Segundo o estudo, a maioria dos respondentes (85%) ainda almeja implementar a maior parte de suas cargas de trabalho (workloads) no ambiente de nuvem pública, mas estão receosos sobre o aumento de taxas de subscrição e do valor de outros serviços nesses ambientes, ao ponto de que um terço do gasto anual dessas organizações esteja destinado à adesão do ecossistema. Nesse sentido, um conceito emergente vem ganhando o mercado como uma solução rápida e eficiente para que organizações extraiam o valor máximo de seus provedores e prestadores de serviços de cloud e encontrem o melhor caminho financeiro, operacional e cultural para o ecossistema de negócios.

Para ter uma visibilidade e controle dos custos flexíveis da utilização de nuvens públicas, surgiu o conceito de FinOps, que integra equipes de tecnologia, finanças e de produto para entregar um relatório robusto e detalhado sobre o uso, as necessidades e os gargalos com serviços de nuvens. Em outras palavras, por meio desse recurso, organizações têm uma visão global de quanto foi o investimento em nuvem e quais medidas podem ser utilizadas para melhorar a governança nesse espaço, desde a política de treinamentos e capacitação de pessoal até o congelamento de alguns serviços pouco requisitados pelo ambiente corporativo. Assim, a metodologia propicia uma série de mudanças culturais para que empresas de todos os tamanhos possam avançar em suas jornadas digitais.

E não por acaso, a mentalidade colaborativa também está por trás desta instrução. Ainda que não exista um único modo de estruturar e fomentar práticas de FinOps, a instituição por trás dessa ideia, a FinOps Foundation, promove uma série de materiais, encontros, treinamentos e, sobretudo, boas práticas para que empresas encontrem as soluções para se auto-organizarem segundo sua cultura. Contanto com mais de 5.000 membros e cerca de 1.500 empresas filiadas, a fundação FinOps tem como principal valor enfatizar o papel único de cada organização em sua tomada de decisões e estratégia comercial; afinal, não há ninguém que saiba tão bem sobre seu negócio do que a própria empresa.

Eis a principal característica do open source: a capacidade de desvendar valores e lapidar talentos em qualquer conjuntura. Seja no contexto de grandes inovações para o mercado, como o de hyperscalers, seja para a própria consistência financeira, social e do ESG de empresas, a filosofia de dados abertos evidencia o peso da cultura comunitária e ressalta a urgência de uma inteligência coletiva para a resolução de problemas. Por certo, nem todas as imprecisões tecnológicas ou até falhas dos sistemas de negócios serão redimidas da noite para o dia, mas a partir da adoção de uma visão de mundo open, poderemos tomar decisões mais conscientes acerca do meio em que nos encontramos e do impacto de nossas decisões no dia a dia.

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Boris Kuszka é Diretor de Arquitetos de Solução da Red Hat LATAM.