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Blockchain, Kubernetes e código aberto: bases de um futuro colaborativo e seguro

Por| 19 de Janeiro de 2024 às 08h30

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Pexels/Ketut Subiyanto
Pexels/Ketut Subiyanto

Popularmente, quando se pensa em Blockchain logo vêm à mente as grandes moedas digitais como Bitcoin, Ethereum e Polygon. Embora seja uma de suas principais atribuições, a tecnologia não é sinônimo de criptoativos nem se destina somente ao mercado financeiro. A solução de decodificar e alinhar blocos de informação tem visto usos para os mercados de logística, varejo e até para o uso dentro de cartórios e repartições públicas. Baseado em mecanismo descentralizado de compartilhamento de informações, a inovação permite criar um fluxograma para o acompanhamento e verificação de diversos dados, sejam estes produtos, serviços ou transações financeiras.

Seus atributos de inovação, colaboração e ciberproteção devem-se, em grande parte, a protocolos de criptografia e descriptografia engenhosos que envolvem desde a mais simples conexão Peer-to-Peer (P2P) até formas de validação automática como smart contracts e Proof-Of-Work (PoW). São eles que garantem segurança e transparência aos negócios, uma vez que são diretamente enviadas aos participantes, sem a intermediação de um terceiro, seja ele um promovedor de e-mail, um serviço de mensageria ou, ainda, uma instituição financeira. Para além disso, os dados enviados neste fluxograma sempre estarão disponíveis para consulta e, em alguns casos, podem pedir autorização dos integrantes para a evolução do ledger, o registro, seguir adiante.

Em outras palavras, associar Blockchain a criptoativos é limitar todo o universo disruptivo presente na tecnologia. De acordo com previsões do Gartner, o uso dessa tecnologia em serviços e produtos aumentará exponencialmente no futuro, chegando a movimentar US$ 176 bilhões nos próximos dois anos. Ainda segundo a consultoria, o grande diferencial da tecnologia é sua capacidade de criar ecossistemas autônomos, colaborativos e livres de ameaças hackers, o que proporcionará segurança, eficiência e escala para governos, indústria e negócios cujo ambiente de Tecnologia da Informação (TI) é cada dia mais vulnerável a ataques.

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Da lavoura ao mercado: rastreio, eficácia e controle de qualidade de alimentos

Invisível para a maioria da população, as cadeias de suprimentos apresentam-se como um elo fundamental do modo de vida moderno. Responsáveis por abastecer, organizar e sistematizar indústrias, lojas, centros comerciais e supermercados, historicamente esses sistemas logísticos sempre estiveram sujeitos a vários tipos de incertezas em sua execução. De intempéries climáticas, gargalos operacionais a eventuais restrições alfandegárias e furtos de carga, um simples mal entendimento ao longo desses ecossistemas pode significar prejuízos bilionários, incerteza produtiva para negócios e até insegurança alimentar para milhões de indivíduos, dependentes do comércio local.

Uma maneira simples de entender o desafio logístico é visualizá-lo como a nascente de rio, o qual a cada movimentação por afluente, leito, margem e confluência vai tornando o fluxo mais complexo. No caso de uma cadeia de suprimentos de alimentos, por exemplo, a lógica é semelhante: para um carregamento de maçãs chegar ao empório ou a mercearia do bairro ele é colhido de uma fazenda, transportado para um armazém, obtido por uma distribuidora, enviado ao Ceagesp, negociado com um comerciante ou rede de supermercado para então ser adquirido pelo consumidor final. Agora, o que aconteceria se houvesse uma greve de caminhoneiros ou a safra atrasasse por falta de chuva?

Tendo em vista a dimensão e a complexidade que essas cadeias de alimentos podem atingir, organizações em todo mundo têm investido em projetos para aumentar a eficiência logística possibilitando o rastreio de remessas, a diminuição de desperdícios e, principalmente, o aumento de agilidade nas entregas de material perecível. Uma iniciativa que ganhou destaque nos últimos anos foi a Food Trust, programa encabeçado pela IBM para otimizar o conjunto produtivo do setor de alimentos. Utilizando uma robusta ferramenta de monitoramento com tecnologia de Blockchain, fornecedores, distribuidores e, sobretudo, clientes podem observar a rota de procedência, o estado de conservação e outros detalhes sobre os produtos diretamente de seus celulares.

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Trabalhando com parceiros como Walmart, Farmer Connect e Pietro Coricelli, a iniciativa tem se mostrado um sucesso para detectar gargalos ao longo da cadeia de suprimentos e evitar que produtos cheguem avariados nas lojas. Para além disso, o sistema de rastreamento e uniformização de entregas reduziu custos ao longo do percurso, criando boas práticas entre todos os participantes e, inclusive, automatizando os contratos entre fornecedores, retalhistas e autoridades locais. Em poucos cliques, participantes podem negociar acordos e adequar o escopo de ledgers em tempo real.

Para se ter uma ideia do tamanho dessa inovação, um levantamento recente da KPMG aponta que a tecnologia de Blockchain, também chamada de Digital Ledger Technology (DLT), será fundamental para o cumprimento da agenda ESG corporativa. De acordo com a sondagem, 55% creditam a estabilidade de sua cadeia produtiva à introdução de ferramentas de automação, rastreamento e padronização de processos, o que permite mapear gargalos e sistematizar as mudanças dentro de setores que estão se adequando aos compromissos ambientais. Em outras palavras, a intensificação do uso da ferramenta de blocos permite reestruturar o cenário logístico de uma forma ágil, segura e eficiente para todos os envolvidos e transmitir confiança para os clientes.

Serviços & cidadania: para além da cultura cartorial

 Outro exemplo para o uso disruptivo da solução de BlockChain é dentro do ambiente de cartórios, estabelecidos extrajudiciais que promovem uma série de serviços fundamentais ao cidadão. No entanto, geralmente, o funcionamento de repartições é altamente burocrático o que torna um simples reconhecimento de firma ou assinatura de venda de automóvel, um verdadeiro imbróglio de filas, taxas ou até a não realização do compromisso civil. Por sorte, o advento da tecnologia pode revolucionar a maneira com que interagimos com essas atividades e enxergamos a importância dessas atividades.  

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Por meio de sua estrutura descentralizada e autenticada apenas entre pares dentro da mesma cadeia, a ferramenta de blocos apresenta-se como uma grande candidata a derrubar a papelocracia dessas instituições. Afinal, sua disposição se baseia em princípios fundamentais para o Poder Público: lisura, transparência e segurança. Atributos que garantem que indivíduos autentifiquem documentos, assinem papéis ou, ainda, comparecem a encontros obrigatórios de forma rápida e objetiva. O BlockChain tem o potencial de transformar não apenas a maneira como lidamos com serviços públicos como também a forma como estabelecimentos extrajurídicos são organizados.

Um exemplo de como a tecnologia permite alinhar tradição e inovação é o caso pioneiro do cartório Azevêdo Bastos, em João Pessoa (PB), o primeiro do País a utilizar o Blockchain para agilizar processos. A iniciativa é fruto da parceria com a startup OriginalMy, a qual introduziu toda a estrutura de autenticação de dados dentro da instituição. A partir dessa colaboração, a repartição aumentou as taxas de assertividade em seus serviços, destravou filhas e ainda foi a primeira instituição do Brasil a celebrar um casamento à distância, durante a pandemia. Tudo isso foi possível graças à metodologia rápida e segurança da cadeia de blocos.

No entanto, nem tudo são alegrias para entusiastas do Blockchain. Uma decisão recente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) suspendeu o uso da criptografia para a realização de serviços cartoriais. No entendimento do órgão, que foi emitido em 2021 e até hoje não possui uma resolução, a autenticação de documentos ainda precisaria ter a contrapartida física de documentos para a transmissão ao sistema e-Notariado. Além disso, a instituição acredita que o cartório violou o princípio de territorialidade entre colégios extrajudiciais, uma vez autenticou registros de outros estados. Em meio a esse imbróglio, todos os serviços digitais que utilizam a tecnologia Blockchain estão, temporariamente, suspensos no País.

Metodologia open source: a chave para escalar processos

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Os casos acima comprovam que a tecnologia de BlockChain está apta para atuar com diferentes aplicações e dentro de vários ambientes, proporcionam robustez, flexibilidade e segurança para processos. Por outro lado, sua implementação depende, na maioria das vezes, de uma vontade política ou uma adequação cultural de organizações do que, de fato, um convencimento maior sobre o custo-benefício da aplicação, seja para reduzir desperdícios, otimizar cadeias produtivas ou, ainda, propor um serviço revolucionário para alguns setores. Em tempo, para potencializar o ambiente de inovação, é fundamental trabalhar com soluções abertas que permitam expandir a colaboração dos envolvidos na cadeia produtiva.

Conhecido como a ferramenta mais completa para gerenciar, desenvolver, automatizar e escalar microsserviços, plataformas de Kubernetes ganharam tração no mercado nos últimos anos por serem soluções simples, flexíveis e resilientes para transformar o ambiente de negócios. Sua combinação com o Blockchain pode ser a chave para destravar a implementação da tecnologia em segmentos com baixa tolerância para mudanças ou com grandes desafios de segurança, como no setor agrícola e no e-commerce. Por meio da integração tecnológica, desenvolvedores poderão automatizar o deployment e manutenção de nós presentes na cadeia, nivelando o tráfego de dados e assim facilitando a construção da infraestrutura e do desenvolvimento de serviços.   

Para além disso, o trabalho conjunto de ambas as tecnologias traz previsibilidade e segurança para técnicos especificarem protocolos. Essa feature permite a especialistas criar ambientes seguros e independentes para que consumidores, fornecedores e demais integrantes desses ecossistemas registrem dados em tempo real ao mesmo tempo que protegem informações privadas de qualquer risco. O grande trunfo dessa parceria, no entanto, é garantir que outros desenvolvedores, parceiros e clientes envolvidos no ecossistema atuem como cocriadores, apontando mudanças, sugerindo ideias e até recomendando novas propostas à arquitetura virtual.

Em resumo, a tecnologia de blocos revela-se uma ferramenta robusta, flexível e segura para a otimização de processos internos e cadeias produtivas, assim como no desenvolvimento de serviços disruptivos. Por ora, o grande obstáculo para implementação da solução em alta escala não é técnico, mas sim cultural para a maior parte das organizações. Afinal, a combinação do Blockchain com plataformas de Kubernetes permite dimensionar e administrar grandes quantidades de dados de forma rápida e segura, impulsionando a inovação entre setores, mercados e consumidores. A adoção conjunta promove uma série de benefícios imediatos, mas requer um direcionamento por parte de consultorias e agências de treinamentos especializadas no amadurecimento digital de organizações. 

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A despeito da incipiência da tecnologia do mercado brasileiro e as inúmeras fronteiras para a efetivação nos setores público e extrajudicial, como foi o caso do cartório de Azevêdo Bastos, em Pernambuco, o código aberto apresenta-se como um excelente parceiro para evolução do ambiente de TI. Por meio de suas práticas e protocolos abertos, a filosofia tem sido uma peça fundamental para transformar setores e democratizar o uso de instrumentos digitais como o PIX, o portal do cidadão no domínio Gov.Br e, mais recentemente, no aprimoramento da Inteligência Artificial em Apps e sites. Com o Blockchain não será diferente. Alinhando esforços, evoluindo e otimizando a tecnologia, incluindo algoritmos mais eficientes com menores custos energéticos, em pouco tempo teremos plataformas blockchain modernas, baseadas em open source, seguras e inteligentes para a indústria, o comércio e o bem-estar civil em todo território nacional.

Boris Kuszka é Diretor dos Arquitetos de Solução da Red Hat LATAM