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Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo | 7 coisas que deram errado

Por  • Editado por Jones Oliveira | 

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Sony Pictures
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Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo é um filme bem ruim. Não é a hecatombe nuclear que todo mundo imaginava, mas ruim o suficiente para ser lembrado como uma das piores adaptações em live-action de um anime.

O pior de tudo é que ele consegue essa famigerada conquista não por causa das mudanças visuais forçadas pelo curto orçamento. A parte estética do longa é o menor dos seus problemas e ele até consegue ser criativo em muitos momentos para contornar a falta de recursos, principalmente na direção das cenas de ação. O problema mesmo está no roteiro.

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Como falamos em nossa crítica, a impressão é que os roteiristas de Saint Seiya: O Começo odeiam Cavaleiros do Zodíaco e fazem questão de se afastar de tudo o que possa remeter à série original. São conceitos novos que não funcionam em nada, alterações de personagens que os deixam sem sentido e a deturpação de conceitos que não só ofendem o anime como contradizem o que a própria história apresenta até ali.

Confira algumas das razões que fazem do filme ser esse desastre.

7. O maldito raio do céu

Vamos começar já pelo fim por uma razão bem simples: alguém teve a brilhante ideia de tirar aquilo que caracteriza um anime shounen, como Cavaleiros do Zodíaco, para colocar um dos clichês mais pobres do cinema moderno. Sim, Saint Seiya: O Começo tem um maldito raio colorido vindo do céu como essa grande ameaça ao mundo.

Se você assistiu a qualquer filme de super-herói nos últimos 15 anos, com certeza viu algo assim. É aquele portal/raio cósmico/arma alienígena/energia mística ou o que valha que aparece nos minutos finais e força o protagonista a quase se sacrificar para impedir. No caso, temos Athena (Madison Iseman) sem o controle de seus poderes e transformando seu Cosmo nessa grande energia prestes a destruir a Terra.

Assim, o grande momento que o público esperou para ver — quando Seiya (Mackenyu Arata) e Ikki (Diego Tinoco) vestem suas armaduras e vão para a porrada — simplesmente não acontece. Eles trocam dois tapas e acabam sendo engolidos pelo raio roxo.

O pior de tudo é que, além de empobrecer o que já ia muito mal e tirar o que poderia ser o ponto alto desse mar de galhofa, a decisão de apelar para o manjado raio não se justifica pela questão orçamentária. Seria muito mais barato fazer os dois atores caírem no soco em uma bela luta final do que fazer esse festival de efeito especial inútil.

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O dinheiro economizado, por exemplo, poderia ter sido usado para pagar roteiristas melhores.

6. A entidade Athena

Falamos em Athena perdendo o controle e esse é outro erro absurdo de Saint Seiya: O Começo. E não apenas porque é uma mudança conceitual que desrespeita o que o mangá e o anime de Cavaleiros do Zodíaco construíram, mas por não fazer sentido mesmo.

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A proposta, em si, é até promissora. O Cosmo de Athena é tão poderoso que uma jovem adolescente, como Saori, não tem condições de controlá-lo. Assim, os rompantes que ela tem de tempos em tempos é algo que você até compra com um pouco de boa vontade. O problema está em como isso é usado na trama.

Basicamente, o que o filme faz é transformar a deusa grega em uma entidade que está adormecida dentro de Saori. É uma lógica parecida com a da Fênix em X-Men, ou seja, quase como se houvesse outro ser habitando aquele mesmo corpo apenas esperando o momento para acordar e destruir tudo em seu caminho.

Só que o roteiro não sabe trabalhar com isso e a ideia passa a contradizer o que ele próprio apresenta. Se Athena é tão perigosa assim, toda a trama de ter cavaleiros que a protejam não faz sentido e todo o lance de seus defensores fica solto.

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Ao mesmo tempo, o fato de Saori ser essa bomba atômica ambulante não agrega em nada na construção do relacionamento entre ela e Seiya. Há um momento bem legal em que ela fala sobre como sua vida é solitária e ele se conecta com isso — o que é um acerto do filme —, mas o seu descontrole não encaixa na justificativa de fé que o cavaleiro de Pégaso faz na hora de decidir acreditar em Athena e lutar ao seu lado.

5. Guraad e a corporação do mal

Se a gente procurasse a raiz de todos os problemas de Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo, certamente cairíamos em toda a trama envolvendo Guraad (Famke Janssen), a grande vilão do filme. E ela é mesmo uma inimiga poderosa, pois conseguiu estragar e afundar o longa como ninguém.

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Ela personifica essa ideia da corporação do mal que não existe no anime original e foi colocada na animação em 3D lançada pela Netflix há algum tempo. E, se isso já era ruim naquele desenho questionável, fica ainda pior por aqui quando o roteiro faz uma enorme salada misturando aquele conceito de Athena com outros erros que ainda vamos citar.

Em resumo, Guraad é ex-esposa de Alman Kido (Sean Bean) e mãe adotiva de Saori. Contudo, depois da menina ter uma explosão de Cosmo, ela entendeu que Athena é uma ameaça e o melhor é eliminá-la. Em paralelo, ela precisa absorver o Cosmo de outras pessoas para se manter viva, já que a Armadura de Ouro de Sagitário foi integrada ao seu corpo para mantê-la viva após o incidente com a filha.

Entendeu alguma coisa? Pois é realmente difícil acreditar que algo bom vai sair dessa salada.

4. Quem pensou no Cassius?

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Na história original, Cassius é um personagem do elenco C de Cavaleiros do Zodíaco. Ele é um brutamontes de mais de 2 metros de altura que treinou com Seiya no Santuário e com quem disputou a Armadura de Pégaso. E, ao longo de toda a saga, ele aparece muito pouco, quase sempre para fazer essa conexão com o passado do herói.

Pois alguém teve a brilhante ideia de colocá-lo como um dos antagonistas de Saint Seiya: O Começo. Para piorar, acharam de bom tom fazer com que esse gigante grego fosse interpretado por Nick Stahl, o John Connor de O Exterminador do Futuro 3.

Só que o 1,78m do ator é o menor dos problemas em relação ao personagem. Ainda que seja difícil acreditar quando o chamam de grandão — o ator que faz o Seiya tem a mesma altura e é tratado como alguém pequeno —, o personagem é terrivelmente escrito. Na verdade, mal é possível chamá-lo de personagem de tão raso que ele é.

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Cassius é apresentado como o chefe do local onde as lutas clandestinas acontecem no começo do filme e que, mais tarde, descobrimos estar trabalhando para Guraad. Só que ele desenvolve um ódio irracional por Seiya sem qualquer razão. Eles lutam na arena e o personagem vence o herói, mas acaba sendo jogado longe por causa de uma explosão do Cosmo.

E isso é o suficiente para que ele jure o rapaz de morte e passe a persegui-lo o filme inteiro. Pode parecer algo bobo, mas é um destaque desnecessário a um personagem que não precisava de todo esse espaço e que ainda toma atitudes importantes baseadas nessa não existência de um motivo. Por que ele aceita virar um ciborgue de Guraad? Por que trata essa perseguição como pessoal? Por que insistem nessa tragédia? Jamais saberemos.

3. O Ikki genérico

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Outro vilão que é desperdiçado é o icônico Ikki de Fênix. O personagem era um dos mais adorados pelos fãs no anime e começa a história original como esse vilão. O ponto é que Saint Seiya: O Começo não consegue trabalhar essa ideia e transforma um antagonista tão marcante em um mero capanga que não faz muita coisa além de cara feia.

É claro que o fato de o ator Diego Tinoco ser muito ruim explica isso, mas o roteiro também não colabora. Ao longo de todo o filme, o personagem não entrega nada além de algumas frases de efeito e aquela pose de bad boy retirada de capa de revista dos anos 2000.

No final, é apresentado um plot twist para colocá-lo como o grande vilão de verdade da coisa toda, mostrando que o seu objetivo era roubar a Armadura de Ouro desde o início, além de matar Athena. Mas por que ele tem esse ódio imenso por Saori ou pelos deuses a ponto de assumir os planos depois que Guraad desiste? O longa não explica, preferindo focar nos biquinhos e na testa franzida.

Tudo é tão ruim que até mesmo o uso do Golpe Fantasma de Fênix fica jogado e sem propósito dentro da trama.

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2. Os guerreiros biônicos

Para dar conta de seu plano e bater de frente com os cavaleiros de Athena — embora não haja nenhum antes da chegada de Seiya —, Guraad usa sua fortuna para criar um exército de guerreiros biônicos. Na prática, são os equivalentes aos Cavaleiros Negros na forma com que a animação 3D já tinha apresentado antes, mas levado para o cinema de forma ainda mais tosca.

Trata-se de um erro que é consequência de um problema maior, que é a já citada insistência nessa organização do mal chefiada pela ex de Alman Kido. Só que isso fica ainda mais incômodo quando percebe o quanto esses personagens ajudam a tirar a pouca personalidade que Saint Seiya: O Começo tem.

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Afinal, são bonecos de preto e sem rosto correndo para lá e para cá. Eles não representam ameaça em momento algum e só fazem com que você sinta falta de ver uma pessoa de verdade levando um soco na cara, nem que fosse uma única vezinha só.

Além do mais, esse argumento bobo dos robôs serve só para criar o suspense vazio sobre o protótipo que Guraad planejou para Cassius — provando como todas as desgraças desse filme estão conectadas.

1. O Cosmo

Só que nada em Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo é tão ofensivo e terrível quanto o que fizeram com o Cosmo. O conceito fundamental que define o que é a franquia e que dá personalidade e coração para essa história foi deturpada de um jeito que cospe em cima do anime e ainda ignora o que o próprio filme apresenta.

A ideia dessa energia cósmica presente em tudo o que existe, do corpo humano a uma simples pedra, traz um tom místico e transcendental que é muito rico para a mitologia da série — e que se conecta às pessoas. É fácil relacioná-la ao chakra, ao Espírito Santo ou mesmo à Força em Star Wars. É algo metafísico e que funciona justamente pela beleza que existe nisso.

E isso está presente no filme. Durante o treinamento de Seiya, Marin (Caitlin Hutson) traz toda essa explicação de forma muito semelhante ao que o anime apresenta. Ela afirma com todas as letras que o Cosmo é essa energia presente em tudo e que a força de um cavaleiro está em saber controlar esse poder, concentrando-o em um único ponto e disparando um soco como uma estrela cadente.

Chega a ser bonito quando a gente vê isso na tela — ainda mais com os primeiros acordes de Pegasus Fantasy, a canção-tema da franquia —, só que toda a poesia é jogada fora quando os roteiristas nos lembram do quanto odeiam Cavaleiros do Zodíaco. E como fazem isso? Transformando tudo isso em pseudociência.

Saint Seiya: O Começo transforma essa energia em algo literal e dá um jeito de fazer com que seja possível extrair essa força das pessoas. Assim, inventam de colocar uma máquina com tubos conectados nas pessoas para o Cosmo, sob a forma de um líquido azul, seja transferido para outra pessoa. E, como você bem pode imaginar, isso acaba matando o indivíduo no processo.

É outro clichê dos mais vagabundos do cinema, mas que fica excepcionalmente ofensivo por ignorar toda a beleza do que há de melhor em CDZ e ainda contradizer o que o próprio roteiro apresenta. Para piorar, é o tipo de situação que traz à tona a memória dos Mid-Chlorians de Star Wars: A Ameaça Fantasma, outra tentativa de racionalizar o transcendental e que é tão ruim quanto.