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Crítica O Mundo Depois de Nós | Em meio ao caos, em quem podemos confiar?

Por  • Editado por  Durval Ramos  | 

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Divulgação/Netflix
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O Mundo Depois de Nós, filme que chegou no catálogo da Netflix nesta sexta-feira (8), é um suspense inteligente, que se passa em um EUA perdido em meio ao colapso. Dirigido por Sam Esmail, ele é baseado em um livro de Rumaan Alam, que curiosamente teve seus direitos de adaptação comprados pela gigante de streaming antes mesmo de chegar às livrarias.

À época, a Netflix entrou em uma guerra de licitações com outros estúdios para conseguir arrematar o projeto. Já com Denzel Washington (posteriormente substituído por Mahershala Ali) e Julia Roberts confirmados, o roteiro foi vendido para a empresa por um valor na casa dos sete dígitos — um investimento e tanto, considerando o seu resultado final.

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O filme se passa durante um evento apocalíptico no qual os EUA são “desconectados” de todos os seus sistemas tecnológicos, e não apenas mostra os perigos da nossa dependência digital, como também sabe causar apreensão no telespectador de um jeito incomum.

Aqui, a tensão nasce de coisas “simples”, como a presença de animais, uma estrada deserta ou um celular fora de cobertura; mas que, quando colocadas no contexto de um mundo de incertezas, podem se transformar em um de nossos piores pesadelos.

Os primeiros sinais

A história de O Mundo Depois de Nós começa nos apresentando a Amanda e Clay, um casal de classe média que decide passar alguns dias de férias na praia. A ideia é ficar em uma casa luxuosa e isolada do resto do mundo, onde poderão passar um tempo com os filhos: um adolescente de dezesseis anos e uma menina de treze.

Embora o local se mostre extremamente adorável, não demora muito para que alguns acontecimentos chamem atenção da família. Pequenas coisas, como o sinal de Wi-Fi que não funciona e a TV que saiu do ar, mas também situações absurdas, como a invasão de um navio-petroleiro nas areias da praia, causando confusão entre os banhistas.

Tudo isso, no entanto, atinge seu ápice com o cair da noite e a chegada de duas pessoas desconhecidas, George e Ruth, que afirmam ser os donos da casa. Pai e filha, eles contam que houve um apagão em New York e pedem abrigo no local com a promessa de reembolsar parte do valor do aluguel.

É a partir desse encontro inesperado — e claramente hostil por parte de Amanda, que tem dificuldade em acreditar que uma família negra é a dona da casa — que O Mundo Depois de Nós realmente começa. Obrigados a estarem juntos, os personagens tentam encontrar explicações para o que está acontecendo lá fora, ao mesmo tempo em que suspeitam das intenções uns dos outros, sem saber em quem realmente podem confiar.

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Um mundo desconectado

Ao decidir contar uma história pós-apocalíptica, em que o fim do mundo é causado justamente pela tecnologia, um dos bens mais preciosos da atualidade, O Mundo Depois de Nós não poupa esforços em mostrar todas as possíveis (e terríveis) consequências dessa catástrofe.

Imaginando um cenário em que até os satélites foram desligados, o filme escancara o tamanho de nossa dependência tecnológica, mostrando tudo o que deixaria de funcionar em uma situação como essa.

No pacote estão, é claro, algumas coisas óbvias do nosso dia a dia, como a falta de acesso à internet e ao GPS do carro. Além deles, no entanto, também estão a desconexão de outros sistemas que usamos quase sem perceber, mas que são essenciais para muitas atividades, como, por exemplo, a navegação de aviões e navios.

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Isso tudo sem falar dos carros autônomos, ou ainda de todo o conhecimento e produções acumuladas no online que se perderiam se alguém simplesmente cortasse o “fio que conecta o mundo”.

Vale lembrar que todo esse traquejo para descomplicar um tema tão complexo — e ainda entregar uma história angustiante, que faz com que nos coloquemos no lugar dos personagens — se deve em grande parte à experiência e direção impecável de Sam Esmail.

Conhecido como o criador e roteirista de Mr. Robot, Esmail tem bastante familiaridade em retratar histórias de choque entre a tecnologia e a humanidade, mostrando as muitas possibilidades, mas também os muitos perigos, de um mundo que nunca sai do online.

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O medo do desconhecido

Conforme o clima de tensão do filme cresce e os personagens se veem reféns da (falta de) tecnologia que antes tanto gostavam, outro elemento muito interessante é inserido em O Mundo Depois de Nós.

Como se já não bastassem as tragédias diretamente causadas pelo apagão, estranhos acontecimentos são presenciados pelos personagens.

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Flyers com os dizeres “Morte À América” são jogados pelos ares; flamingos aparecem nadando na piscina; cervos são vistos pelo jardim. E, alimentando ainda mais as teorias da conspiração que vão surgindo ao longo do filme, um barulho ensurdecedor, que quase não permite que eles parem em pé, parece ser ativado de tempos em tempos.

Enquanto brinca de assustar os telespectadores, o filme deixa claro que, embora não faltem especulações a respeito do que de fato está acontecendo, o que importa aqui não é a causa, mas sim as consequências. Como reagiremos ao fim do mundo? Em quem ousaríamos confiar à beira do colapso?

Enquanto mostra o comportamento de cada um dos personagens diante da série de catástrofes que vão ocorrendo, temas como preconceito, saudosismo e capitalismo pairam no ar, trazendo à tona nosso instinto de sobrevivência, mas também nossos defeitos e falhas de caráter escondidos. Aqueles que quando ninguém está vendo, colocamos debaixo do tapete.

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Assustadoramente real, O Mundo Depois de Nós é um thriller envolvente que não traz todas as respostas, mas faz muitas perguntas. Bem dirigido e com um elenco de estrelas que se entregam aos personagens, ele só cresce em tensão, nos assombrando não com monstros ou fantasmas, mas por eventos que estão aqui, na iminência de acontecer.

Uma realidade que, esperamos, nunca se concretize.