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Crítica | O Grande Ivan traz a tradicional moral da história de um filme Disney

Por| 25 de Janeiro de 2021 às 12h00

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Reprodução/Disney+
Reprodução/Disney+

A polêmica sobre a presença de animais em circos já não é de hoje. No Brasil, apenas 12 dos 26 estados possuem leis que vetam a prática, incluindo o Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo entre outros — e a oposição é bem clara: esses seres são tirados precocemente de seu habitat natural e forçados a viverem em um local que não conhecem para gerar lucro e entretenimento à raça humana.

Esse tipo de caso acaba gerando diversos traumas e consequências psicológicas aos animais, como agressividade, depressão, stress e até males que deixam sequelas físicas, como tumores, úlceras e até automutilação devido ao agito emocional. O Grande Ivan, o mais novo longa da Disney que chegou ao streaming na última sexta-feira (22), traz como tema essa realidade exploratória humana sobre esses seres. Mesmo que de forma mais leve, o filme cumpre o objetivo de conscientizar sobre essa prática que, infelizmente, ainda não é criminalizada em diversas partes do mundo.

O filme usa como base a história real do gorila que dá nome à obra — Ivan, que nasceu num país da África Central em 1962 e tirado de seu habitat natural ainda bebê e transportado aos Estados Unidos, onde viveu com uma família humana como um animal de estimação. Quando completou três anos, Ivan foi levado a um shopping center em Tacoma, em Washington, onde foi utilizado como atração de entretenimento para os visitantes do local durante 27 anos.

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Atenção! A partir daqui, o texto contém spoilers sobre o filme O Grande Ivan. Leia por sua conta e risco.

Assim como o live-action de Dumbo (2019), O Grande Ivan traz em seus momentos iniciais a experiência mágica que uma tarde no circo pode proporcionar. Ivan vive uma rotina sem muitas novidades, porém contraditória — nos palcos, é vendido como a atração principal do show, botando medo nos espectadores como uma criatura agressiva e assustadora, enquanto atrás das cortinas e entre seus amigos, esbanja calma, paciência e poucas palavras.

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Por mais que a imagem de um animal falando com um humano possa causar estranheza, principalmente porque em O Grande Ivan os personagens já tagarelam nos minutos iniciais, é válido destacar o trabalho do elenco de voz original, que conta com grandes nomes do cinema, como Sam Rockwell, que vive o protagonista e contracena boa parte do tempo com Danny DeVito que embarca em mais um projeto cirsense com a Disney dando vida a Bob, o cachorro que vive em segredo com os outros animais. Há de se falar também sobre o trabalho de Angelina Jolie, que apesar de não possuir muito tempo de tela, emociona com pouco interpretando a elefante Stella; e, por fim, o talento mirim Brooklynn Prince sendo o grande destaque de todo o longa com o bebê elefante Ruby.

O início do filme tem como objetivo apresentar não só a rotina de Ivan que resume-se em transitar entre o palco e sua jaula no centro comercial Big Top Mall, mas também dá detalhes do show e do "trabalho" de outros animais do espetáculo, como Stella (Jolie), a galinha Henrietta (Chaka Khan), a foca Frankie (Mike White) e o coelho Murphy (Ron Funches). Mesmo de maneira subtendida, o longa mostra que os animais estão tão acostumados com a realidade em ser um entretenimento humano que estranham comportamentos típicos de sua espécie, como, por exemplo, o coelho Murphy, cuja atividade no circo é pilotar um caminhão de brinquedo e, no momento em que o veículo quebra, o animal se vê sem saber o que fazer ao caminhar com suas próprias patas no chão.

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Apesar de o roteiro não se preocupar muito em aprofundar a história de seus personagens, O Grande Ivan acaba conquistando pelo mais simples. A história tem grande impacto visual, em que cada centavo da produção é nítida na tela, seja nas expressões faciais e traços do gorila protagonista quanto os detalhes que praticamente beiram o realismo em qualquer outro animal feito por CGI, diferente do live-action A Dama e o Vagabundo, em que foram usados cachorros reais nas filmagens. O filme não peca em esbanjar cor e utilizá-las muito bem para retratar o contraste de realidade dentro do circo e na natureza, mesmo o ambiente do espetáculo geralmente oferecer uma aparência vibrante e jogos com luzes, aqui a produção acaba trabalhando em tons mais opacos para entregar essa ideia de tristeza e mesmice ao espectador.

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Assim como o esperado, O Grande Ivan é destinado à toda a família e para todas as idades, entregando momentos de emoção, alegria e angústia em poucos minutos. A história é um pouco apressada em diversos momentos, jogando as informações na tela sem a menor cerimônia, e isso às vezes dá a impressão ao espectador de ter perdido algo durante a transmissão do filme. Por outro lado, é possível pegar no embalo ao ignorar o pouco desenvolvimento dos personagens coadjuvantes e focar apenas na história de Ivan e, mais tarde, da bebê elefante Ruby, cuja história só começa a ficar mais interessante após um triste ocorrido no local.

É frustrante também observar que diversos aspectos da personalidade de Ivan, bem como de sua história, poderiam ser melhor desenvolvidos se o filme tivesse 15 ou 20 minutos a mais. O público descobre repentinamente um dos maiores talentos do gorila — que depois acaba se tornando uma de suas mais marcantes características: seu dom com a pintura, introduzido pela pequena Julia (Ariana Greenblatt), filha do funcionário George (Ramón Rodriguez), que também possuem pouco ou quase nada de suas histórias exploradas, o que acaba sendo uma pena após a personagem revelar a Ivan que gostaria de ajudá-lo a escapar do circo, assim como gostaria de ajudar sua mãe doente.

Por mais rasos que sejam os coadjuvantes, é nítido que a presença de quase todos no filme gira em órbita do gorila protagonista. Com exceção de Ruby, que acaba sendo elemento essencial para Ivan dar o pontapé inicial em sua fuga do circo e a vontade de voltar a viver na natureza, tanto Bob, quanto Julia e até mesmo o dono e apresentador do espetáculo Mack (Bryan Cranston, que faz um ótimo papel como visionário capitalista da trama) tem como arcos contribuir apenas para a história e desenvolvimento de Ivan.

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Embora a relação desse último com o gorila seja pouco retratada na tela, o histórico subjetivo acaba vindo a tona na última cena da dupla (e que promete emocionar mais uma vez os espectadores), estrelando um momento de puro silêncio que dura quase 40 segundos — uma raridade em filmes da Disney, que costumam ser cheios de informações e acontecimentos ocorrendo o tempo inteiro.

Apesar das falhas, O Grande Ivan é um dos grandes destaques do catálogo atual do Disney+, com personagens fáceis de se apegar (o que hoje, para um filme destinado à família, é um dos pontos principais a se acertar), eventos emocionantes e belo impacto visual. Com uma duração ideal para crianças, o longa promete entreter na medida do possível, além de entregar uma trilha sonora impactante durante todo o filme — com destaque à faixa dos créditos Free, que marca o retorno de Charlie Puth às músicas voltadas para o cinema após a indicada ao Grammy See You Again, de Velozes e Furiosos 7.

O Grande Ivan está disponível no Disney+.

Fonte: Com informações de VEGAZETA