Crítica Besouro Azul | Um tempero latino na tentativa de renovação do DCU
Por André Mello • Editado por Jones Oliveira |
A produção de adaptações de histórias em quadrinhos da DC Comics é algo que, algum dia, renderá um livro incrível, vide a constante mudança de liderança e planos para o futuro do seu universo cinematográfico. Chega a ser fascinante como filmes com Superman, Batman e Mulher-Maravilha custam a cativar o público geral, enquanto outros bem menores, parecem alcançar esse objetivo com mais facilidade.
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Veja, por exemplo, Besouro Azul. Mesmo não sendo um filme perfeito, em que mundo você acreditaria que ele consegue ser melhor que a adaptação de The Flash, que tinha parte da Liga da Justiça, promessa de multiverso e o retorno de uma das versões mais queridas do Batman?
Pois é, esse mundo é o nosso, já que Besouro Azul é uma adaptação honesta, divertida, com personagens secundários bastante carismáticos, ainda que se apoie bastante em uma fórmula já batida de origem de herói dos quadrinhos.
Tentando encontrar seu lugar no mundo e no DCU
Besouro Azul conta a história de Jaime Reyes, interpretado por Xolo Maridueña (Cobra Kai). Jaime acabou de se formar em Direito, em Gotham City, e retorna para Palmera City para viver com seus pais. Os Reyes são uma típica família latina, bastante afetuosa e, muitas vezes, até atravessada demais na vida dos seus membros.
Para nós, esse tipo de representatividade bate perto de casa, pois é impossível não se identificar com alguma coisa da família Reyes. Seja pela vovó abençoando o neto antes de uma entrevista de emprego, até um tio esquisito, ou adoração por novelas, todo latino é representado de alguma forma neles.
Jaime se encontra perdido, mesmo formado, pois não consegue entender muito bem a sua posição no mundo. Apesar de não ter sido proposital, isso pode se aplicar ao filme como um todo. Criado dentro de um regime em que compartilharia o universo com as antigas versões de Superman, Batman e Flash, apenas para ser jogado para depois de um reboot em que muitos se questionam se ele está na realidade antiga ou nova da DC.
Essa falta de direcionamento se resolve tanto para Jaime quanto para o longa, mostrando como ele acaba se tornando o herói que precisava ser, estando no lugar certo e no momento certo.
Isso porque Besouro Azul opera de verdade como o primeiro projeto do novo DCU, por mais que tenha sido produzido antes da entrada de James Gunn e seus planos para o futuro.
O longa consegue ser diferente, ainda que bastante familiar, e tem um clima que não combinaria com o Superman de Henry Cavill (The Witcher) ou com o Batman de Ben Affleck (Procura-se Amy). Porém, é possível entender como ele pode combinar dentro da promessa de um universo sem tanta bagagem.
A velha fórmula da origem do herói
Besouro Azul é uma história de origem de Jaime Reyes, mas não exatamente do herói. Sendo mais fiel aos quadrinhos do que o esperado, ele mostra que o jovem é a terceira pessoa a vestir o manto do Besouro Azul — assim como nos quadrinhos. Isso cria uma mitologia por trás do personagem em poucas cenas, algo que foi bastante esperto.
Porém, o filme segue uma fórmula batida, com Jaime lutando contra a responsabilidade, até que ela bate à sua porta e ele precisa virar o herói que nasceu para ser. O longa não surpreende em momento algum, sendo bastante fácil prever o que vai acontecer cinco minutos antes de aparecer na tela.
Em pouco mais de duas horas de duração, o filme é exatamente aquilo que você espera dele, já que provavelmente assistiu a dezenas de adaptações similares. O que faz a diferença é com certeza o "tempero latino" e seu elenco de apoio.
Xolo Maridueña demonstra segurança e carisma como Jaime Reyes, mas o ator tem uma sorte de trabalhar com atores que brilham nos seus papeis, em especial George Lopez, como seu tio Rudy, e Bruna Marquezine, como Jenny Kord.
Se Lopez é o grande alívio cômico da trama, ele ainda consegue entregar uma boa atuação quando é necessário que ele seja um ponto emocional que ajuda no desenvolvimento de Jaime. Já Marquezine impressiona no seu primeiro papel em Hollywood pelo simples fato de parecer bastante à vontade trabalhando em um blockbuster e em um idioma que não é o seu.
Para nós, brasileiros, dá orgulho ver a atriz se sair tão bem no papel de Jenny e, ao lado de Xolo, levar o filme nas costas. A química entre os dois é muito boa e ajuda bastante a fazer a adaptação funcionar.
Enquanto a família Reyes é o ponto alto, a vilã Victoria Kord, interpretada por Susan Sarandon (As Bruxas de Eastwick) não acrescenta muito. Ela é basicamente uma vilã genérica, sem um grande motivo por trás de suas ações além de querer mais poder.
O filme tenta dar um pouco de profundidade à Carapax, o Homem Indestrutível, mas o máximo que entrega não transbordaria um pires.
Um filme de herói sincero
Besouro Azul não tenta ser muito além do que poderia ser em seu primeiro filme. Em dado momento, Rudy Reyes fala sobre o segundo Besouro Azul e como ele foi o grande herói de Palmera City. "Como o Superman em Metrópolis e o Flash em Central City, só que não tão bom quanto eles", ele comenta.
Talvez por saber que o personagem não é particularmente conhecido, a adaptação é bastante contida, mesmo com uma ameaça que poderia eventualmente causar problemas globais. Ao deixar tudo mais centrado na família Reyes e na própria ideia dos poderes do Besouro Azul, o longa se mostra muito mais sincero e expande o universo do personagem.
Se um dos problemas atuais de adaptações de heróis é aumentar demais o escopo de suas aventuras, tornando impossível contar uma história mais intimista, Besouro Azul é sincero. Mesmo sem ser particularmente original em sua estrutura, ele consegue vender a ideia de um universo grandioso, com perspectivas diferentes.
Assim como acontecia nos tempos dourados do universo cinematográfico da Marvel (MCU na sigla em inglês), o primeiro filme do novo DCU tenta apenas contar uma história dentro de um mundo repleto de heróis. Em momento algum, vemos a história de Jaime ficar de lado para o filme virar um trailer de uma nova produção do estúdio.
O DCU ainda tem que lidar com a estreia de Aquaman e o Reino Perdido para finalmente começar de verdade, com produções feitas inteiramente sob a supervisão de James Gunn. Porém, Gunn teve sorte em ter Besouro Azul caindo no seu colo para dar esse pontapé inicial.
Considerando que uma série do Gladiador Dourado, velho parceiro do herói, já foi anunciada para o novo DCU, parece que a dupla ainda pode render muito. Depois desse primeiro filme, ainda bem.