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Trio conquista Nobel da Computação com abordagem que foi questionada em sua área

Por| 29 de Março de 2019 às 21h30

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Jirsak/DepositPhotos
Jirsak/DepositPhotos

Você sabe o que carros autônomos e robôs de autoatendimento têm em comum? Eles funcionam porque são impulsionados pela inteligência artificial, tecnologia criada nos anos 1980 e que tinha como um de seus maiores entusiastas o estudante de mestrado Yoshua Bengio.

Ele conta que se encantou com um experimento realizado por pesquisadores que tentavam criar um software que imitasse o modo como as redes de neurônios processam dados no cérebro. Na época, as evidências de que o experimento funcionaria eram escassas. "Eu me apaixonei pela ideia de que poderíamos entender os princípios de como o cérebro funciona e também construir a IA", disse ele ao Wired. Atualmente, Bengio é professor da Universidade de Montreal.

Mais tarde, foi a indústria que se apaixonou pela tecnologia. E nesta última quata-feira (27) foi a vez de reconhecer os esforços dos "padrinhos da revolução da inteligência artificial", profissionais que desempenharam um importante trabalho ao reorientar a tecnologia em torno das redes neurais.

Bengio, 55, faz parte do seleto grupo que conquistou o Prêmio ACM Turing, conhecido como o Nobel da Computação. Os outros vencedores são o pesquisador da Google, Geoff Hinton, 71, e o professor da Universidade de Nova York, Yann LeCun, 58.

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Depois de décadas de pesquisa, o trio conseguiu transformar uma ideia antiquada e marginalizada em uma das mais importantes da ciência da computação. A tecnologia que eles defendem se tornou o elemento central para os planos futuros de grandes companhias: na Google, por exemplo, um software em testes consegue ler e interpretar exames médicos.

Outras gigantes já utilizam a tecnologia. No Facebook, a inteligência artificial permite a remoção imediata de discursos de ódio da plataforma. Já na Tesla, a tecnologia combinada ao piloto automático distingue faixas de pedestres e outras marcações de estrada.

“Houve um período de blecaute entre 1990 e meados dos anos 2000, onde essencialmente ninguém, a não ser algumas pessoas loucas como nós, trabalhavam em redes neurais”, comentou LeCun.

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Perguntado sobre o que significa ganhar o Prêmio Turing, Hinton fingiu surpresa. "Eu acho que as redes neurais são agora respeitáveis na ​​ciência da computação". A piada é que, na ciência da computação, não há nada mais respeitável do que um Prêmio Turing, nomeado após o matemático britânico Alan Turing estabelecer as primeiras bases da computação nos anos 1930, 1940 e 1950.

"Para os vencedores, este não é apenas um Prêmio Turing. É o reconhecimento de que o aprendizado de máquina se tornou um campo central na ciência da computação ”, diz o professor da Universidade de Washington, Pedros Domingos, que lidera uma pesquisa em aprendizado de máquina para o fundo Shaw Group.

Redes neurais na IA

As redes neurais são uma das abordagens mais antigas da inteligência artificial, estabelecendo-se no campo no final dos anos 1950. Pesquisadores adaptaram modelos simples de células cerebrais criadas por neurocientistas em redes matemáticas que poderiam aprender a classificar dados em categorias, filtrando-os através de uma série de "neurônios".

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Apesar dos sucessos práticos da aprendizagem profunda, ainda existem muitos obstáculos. As redes neurais são inspiradas no cérebro, mas as semelhanças acabam aí. A tecnologia pode até ser excepcional em tarefas restritas — como em um game ou reconhecendo sons específicos —, mas não é adaptável e versátil como a inteligência humana. Bengio até destaca que mesmo as melhores ferramentas de tradução ainda lutam para entender corretamente a linguagem humana.

Nenhum dos vencedores do Prêmio Turing diz saber como resolver os desafios restantes. Eles aconselham qualquer um que queira fazer a próxima descoberta vencedora do Turing em IA que ignorem as ideias tradicionais. "Eles não devem seguir a tendência — que agora é a do aprendizado profundo", diz Bengio.

Ventos soprando a favor

Um momento crucial para a abordagem de redes neurais ocorreu em 2012, quando Hinton, então na Universidade de Toronto, e dois estudantes de graduação surpreendentemente ganharam um concurso anual de software que identifica objetos em fotos. O triunfo deles deixou os métodos favoritos do campo na poeira. Eles conseguiram classificar corretamente mais de 100 mil fotos em mil categorias com 85% de precisão, mais de 10 pontos percentuais a mais do que o vice-campeão. Em seguida, a Google adquiriu a startup fundada pelo trio no início de 2013 e Hinton passou a trabalhar para a empresa desde então. Mais tarde naquele ano, o Facebook contratou LeCun.

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“Até que pudessémos produzir resultados claramente melhores do que o atual estado da arte, as pessoas eram muito céticas”, comentou Hinton.

Todos os três vencedores são agora parte do mainstream da indústria acadêmica e tecnológica. Hinton e LeCun são vice-presidentes de duas das empresas mais influentes do mundo. Bengio não se juntou a um gigante da tecnologia, mas é consultor da Microsoft e já trabalhou com startups adaptando o aprendizado profundo a tarefas como descoberta de drogas e ajuda a vítimas de assédio sexual.

Fonte: Wired