Pombos resolvem problemas e aprendem como uma IA
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela | •
Detestados pela maioria das pessoas e conhecidos por transmitirem doenças, os pombos são também animais bastante inteligentes, mesmo que essa capacidade intelectual seja subestimada. Inclusive, pesquisadores norte-americanos descobriram que esses pássaros resolvem problemas e aprendem de forma semelhante a uma Inteligência Artificial (IA).
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“O comportamento dos pombos sugere que a natureza criou um tipo de ‘algoritmo de IA’ [intuitivo] que é altamente eficaz na aprendizagem de tarefas desafiadoras”, afirma Edward Wasserman, professor da Universidade de Iowa, nos EUA, e um dos autores da recente pesquisa, em nota.
Em estudos anteriores, já foi possível descobrir que os pombos conseguem lembrar rostos, ver o mundo em cores, ter a capacidade de navegar em todas complexas e ser extremamente bem adaptados aos cenários urbanos.
Como os pombos aprendem?
Diferente dos humanos que resolvem problemas a partir do uso explícito de regras e da atenção seletiva (foco), os pombos usam outras artimanhas para lidar com desafios. Em especial, é usada a aprendizagem associativa, ou seja, esses pássaros tendem a ligar dois fenômenos entre si.
A questão é que “a aprendizagem associativa é frequentemente considerada muito primitiva e rígida demais para explicar as categorizações visuais complexas como o que vimos os pombos fazerem”, explica Brandon Turner, professor da Universidade Estadual de Ohio e principal autor do estudo.
No entanto, os testes demonstram que os pombos usam uma forma aperfeiçoada dessa estratégia de aprendizagem. Isso porque aprendiam a corrigir os erros, a partir das experiências anteriores — como se acumulassem o aprendizado.
Testando hipótese em modelo de IA
No recente estudo, publicado na revista iScience, os pesquisadores selecionaram 24 pombos para realizarem uma variedade de tarefas visuais, incluindo jogos de classificação. Em uma tela, os animais tinham diferentes objetos, como linhas de diversas larguras e anéis com formatos inusitados, e precisavam classificar corretamente a qual categoria eles pertenciam, o que era feito através de bicadas. Quando o pombo acertava a classificação, eles ganhavam comida. Em caso de erro, não recebiam nenhum estímulo.
Após coletar os resultados, os mesmos pesquisadores testaram um modelo simples de IA para ver se ele conseguia resolver os problemas da forma como pensavam que os pombos o faziam, e a estratégia funcionou.
Segundo os autores, da mesma forma como os pombos resolviam os problemas, usando a aprendizagem associativa e a correção de erros, o modelo de IA aprendeu a melhorar suas previsões, aumentando significativamente o número de respostas corretas dentro da simulação.
Regras são para humanos
Se o teste fosse feito por humanos, os pesquisadores apostam que os indivíduos tentariam estabelecer regras para resolver a tarefa de forma mais fácil. “Só que, neste caso, não existiam regras que pudessem ajudar a tornar isso mais fácil. Isso realmente frustra os humanos e eles muitas vezes desistiriam de tarefas como essa”, comenta Turner.
O engraçado para o pesquisador é que nós, como humanos, “celebramos o quão inteligentes somos por termos projetado a IA, ao mesmo tempo em que menosprezamos os pombos como animais estúpidos”. No entanto, “os princípios de aprendizagem que orientam o comportamento dessas máquinas de IA são muito semelhantes aos que os pombos usam”, completa. Na verdade, apesar dos preconceitos, são considerados um dos animais mais inteligentes do planeta.
Fonte: iScience e Univerisdade Estadual de Ohio