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Pomba-rosada se recuperou da extinção, mas vem perdendo diversidade genética

Por| Editado por Luciana Zaramela | 13 de Maio de 2022 às 21h45

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Dick Daniels/CC-BY-3.0
Dick Daniels/CC-BY-3.0

A pomba-rosada, espécie endêmica das Ilhas Maurício, retornou após quase ser extinta, mas estudos demonstram que a ave ainda tem perdido diversidade genética após reintrodução na natureza.

Nos anos 1980, havia apenas cerca de 10 espécimes na natureza, na mesma ilha do Oceano Índico que abrigava o extinto dodô. Entre os anos 1970 e 1980, a Mauritian Wildlife Foundation capturou 12 indivíduos da espécie para estabelecer uma população cativa e permitir sua recuperação: entre 1990 e os anos 2000, os pássaros foram devolvidos à natureza, chegando a mais de 400 animais vivos atualmente. Apesar de sair da lista de risco de extinção para a lista vulnerável, o gargalo populacional tem causado erosão genômica.

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Perigos genéticos

A pomba-rosada, assim como os dodôs e outros pássaros das Ilhas Maurício, foi alvo fácil dos gatos, ratos e outros predadores trazidos pelos seres humanos, que também chegaram perto de derrubar toda a floresta nativa local. Apesar de ter escapado da extinção por pouco, os animais não estão totalmente seguros: cientistas publicaram um estudo na revista científica Conservation Biology tratando das ameaças enfrentadas pela espécie atualmente.

Os pesquisadores sequenciaram o DNA de 175 pássaros entre 1993 e 2010, durante a recuperação populacional, e notaram uma perda contínua na variedade genética, mesmo com os números crescentes de indivíduos na natureza. As amostras foram comparadas com as de 1.112 pombos de zoológicos europeus e estadunidenses, coletadas por quatro décadas, que incluem o nível de sucesso reprodutivo e longevidade, além de endocruzamento.

A carga genética dos animais é alarmantemente grande, dizem os pesquisadores, porque há excesso de indivíduos relacionados entre si, gerando mutações recessivas perigosas em grande quantidade. Isso acaba gerando um número reduzido de ovos que chocam e de filhotes que se emplumam (ou seja, que conseguem voar). Com variedade genética suficiente, essas mutações acabam sendo eliminadas, mas populações menores são mais vulneráveis às flutuações genéticas nocivas.

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Se os filhotes de dois pombos-rosados herdam as mesmas mutações nocivas que eles trazem, por serem "parentes", elas se tornam mais perigosas ainda, gerando as falhas na eclosão e na emplumada. Os cientistas acreditam ser isso a causa da contínua erosão genética das populações de pombo-rosado na natureza.

Todos os 480 indivíduos têm alguma relação com os dez que sobreviveram à extinção nos anos 1980 e aos 12 que foram mantidos em cativeiro. Já que apenas os mais adaptados tinham filhotes capaz de chocar, emplumar e reproduzir, poucos indivíduos contribuíram com material genético para as próximas gerações. Assim, mesmo com muitos indivíduos, há pouca variação genética.

E agora?

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Os pesquisadores afirmam que uma solução seria reintroduzir os filhotes de pombos-rosados ainda presentes em zoológicos europeus e estadunidenses, que ainda têm algumas variações em seus genes que já foram perdidas nos exemplares das Ilhas Maurício, o que pode diminuir o nível de parentesco entre os pássaros locais.

Uma lição maior do estudo é a de que esforços de conservação não podem simplesmente parar após uma aparente recuperação dos números da população animal, sendo necessárias análises genômicas para avaliar o potencial de recuperação e as eventuais necessidades genéticas.

Eles ainda apontam a importância do Earth Biogenome Project, cujo objetivo é sequenciar, catalogar e categorizar genomas de dois milhões de espécies em um período de dez anos, para uso futuro na preservação da biodiversidade e sustentabilidade das vidas humanas e animais. Os dados serão instrumentais na identificação de espécies em risco de extinção, servindo de guia para esforços de conservação no futuro, além de avaliar a biodiversidade do planeta.

Fonte: Conservation Biology, Earth Biogenome Project