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Múmia de mulher gritando eterniza morte dolorosa no antigo Egito

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Saleem et al., 2024/Frontiers in Medicine
Saleem et al., 2024/Frontiers in Medicine

Se você tem interesse no antigo Egito e em arqueologia, já deve ter visto alguma imagem nas redes da famosa “múmia que grita”, de 3,5 mil anos. Em uma nova pesquisa, cientistas egípcias sugerem que a expressão agonizante da mulher está, muito possivelmente, relacionada a uma morte dolorosa, como a maioria das pessoas imagina. 

Esta é a principal hipótese apresentada pela dupla Sahar Saleem, professora de radiologia da Universidade do Cairo (Egito), e Samia El-Merghani, pesquisadora do Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito, em artigo recém-publicado na revista Frontiers in Medicine.

"A expressão facial de grito da múmia neste estudo pode ser lida como um espasmo cadavérico, o que implica que a mulher morreu gritando de agonia ou dor", afirmam as autoras, em artigo. Embora os espasmos cadavéricos tenham causa desconhecida, são normalmente associados a mortes violentas em situação física e emocionalmente extrema.

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Nesse processo de análise da múmia de mulher gritando do antigo Egito, a equipe obteve dados a partir de tomografias computadorizadas, das análises químicas e de registros arqueológicos.

História da múmia de mulher gritando

A múmia da mulher que eterniza uma morte dolorosa foi encontrada no complexo de sepulturas Deir el-Bahari, perto da margem ocidental do rio Nilo, em 1935. A identificação foi feita durante as escavações do túmulo de Senenmut, um importante arquiteto. Por isso, é possível que ambos compartilhem um parentesco próximo.

Quando foi sepultada, a múmia foi adornada com uma peruca preta (feita a partir de fibras de uma tamareira) e com dois anéis decorados com escaravelhos. Apesar dos detalhes, não se sabe o seu nome real. Oficialmente, é registrada como CIT8 (1479–1458 a.C.).

Através da tomografia computadorizada, as pesquisadoras apontam que a mulher tinha cerca de 48 anos (segundo a análise do osso pélvico), media 1,5 m e apresentava alguns problemas de saúde, como artrite devido ao estado dos ossos de sua coluna. 

Ela perdeu alguns dentes antes de morrer, já que os alvéolos dentários não estavam cicatrizados. As análises não permitiram concluir qual foi a causa da morte da “múmia que grita”.

Morte dolorosa e espasmo cadavérico

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"A boca amplamente aberta pode ser resultado de uma expressão facial de sofrimento antes da morte, fixada após o espasmo cadavérico”, sugerem as autoras.

Para entender, o espasmo cadavérico “ocorre após atividade física ou emocional extrema, levando ao rigorpost-mortem imediato, pois os músculos contraídos tornam-se rígidos logo após a morte e são incapazes de relaxar”, detalha a equipe. 

Devido a essa rigidez, é possível que os embalsamadores não tenham conseguido fechar a boca da mulher. Outra probabilidade é que o embalsamento tenha ocorrido logo, não dando tempo para a expressão de dor e horror se desfazer.

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Mesmo incomum, há outros dois casos conhecidos de múmias que parecem gritar: Pentawere (1173 a 1155 a.C.) e Meritamun (1525 a 1504 a.C.). A causa da morte de ambos é conhecida, sendo suicídio e ataque cardíaco, respectivamente.

Outras possíveis explicações

A morte dolorosa no antigo Egito é a principal hipótese para explicar a boca aberta da múmia, como se estivesse gritando. No entanto, as próprias autoras do artigo explicam que outras alternativas são possíveis e não podem ser completamente descartadas. A boca aberta pode ser resultado do processo de putrefação, ou da força compressiva dos envoltórios, por exemplo.

Para os curiosos, a "múmia que grita" está em exposição no Museu Egípcio do Cairo. Enquanto isso, o sarcófago e os anéis em formato de escaravelho podem ser vistos no Metropolitan Museum of Art (The Met), em Nova York, nos EUA.

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Fonte: Frontiers in Medicine