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Máquina psicodélica causa alucinações em nome da ciência

Por| Editado por Luciana Zaramela | 29 de Maio de 2023 às 18h28

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nanihta/envato
nanihta/envato

A Dreamachine é uma máquina que induz experiências alucinatórias com luz estroboscópica e música eletrônica. Com várias delas instaladas em salas por todo o Reino Unido, mais de 40.000 visitaram e tiveram a chance de ver como o aparelho funciona — tudo com auxílio de “guardiões”, funcionários que guiam e relaxam os usuários no início do tour com exercícios de respiração.

A cada “sessão”, de 20 a 30 pessoas eram admitidas na sala, tendo de deitar e fechar os olhos. Após uma sessão de 30 minutos, as experiências dos usuários foram descritas como “poderosas”, “vívidas”, “caleidoscópicas” e “mágicas”.

Anil Seth, neurocientista da Universidade de Sussex e um dos participantes do projeto — que inclui engenheiros, designers, artistas e músicos — comentou que ouvir os relatos dos participantes foi raro e mágico, ou, em suas palavras à Wired, “estamos realmente dando algo interno e transcendental como uma experiência coletiva às pessoas”.

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O objetivo do pesquisador, aliás, é estudar o efeito de luzes estroboscópicas no cérebro — os efeitos psicodélicos disso ainda não são entendidos pela ciência. Inesperadas e poderosas, as experiências conscientes geradas pela luz piscante não estão relacionadas ao que está sendo mostrado, afinal, é apenas luz branca, que, no entanto, gera cores e formas na mente das pessoas.

As experiências visuais surgem mesmo quando os participantes estão com os olhos fechados. Entender esse efeito psicodélico pode ser a chave para entender a base neural da experiência visual nos seres humanos. Em acordo com o estudo de Seth, um dos objetivos da Dreamachine é analisar a origem dos efeitos psicodélicos e como a nossa fisiologia está relacionada ao processo.

Dreamachine e efeitos alucinógenos

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Um dos aspectos fascinantes do Dreamachine, para os cientistas, é que os indivíduos que o experimentam relatam experiências bastante diferentes, mesmo estando no mesmo ambiente e passando pelos mesmos efeitos de luz. Isso, claro, também acontece no dia-a-dia, com pessoas tendo percepções diferentes do mesmo fato. É um lembrete poderoso de que, mesmo que a realidade objetiva seja a mesma, não percebemos o mundo da mesma forma — por uma série de motivos psicológicos e físicos.

Mesmo com essa diversidade de experiências, os participantes compartilham, quase todos, de um mesmo sentimento: paz. Isso abre a possibilidade de que a máquina possa ser usada para tratar a saúde mental, sendo um novo tipo de opção terapêutica.

A luz já foi muito utilizada em tratamentos de depressão e luto, seja em casos de transtorno afetivo sazonal ou outras formas da doença. Assim como substâncias psicodélicas, a experiência traz percepções vívidas, inesperadas e incomuns ao cérebro, fazendo com que as pessoas se sintam diferentes — e, na maioria das vezes, melhor.

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O efeito psicodélico causado pela luz piscante é chamado de ganzflicker, e já falamos sobre o assunto aqui no Canaltech, em uma matéria que conta tudo sobre a história de como a ciência descobriu o curioso efeito de alteração de consciência causado pela luz estroboscópica e como cientistas e artistas buscaram trabalhar com o tema — criando, inclusive, a primeira dreamachine de todas, em 1962.

Além da Dreamachine mais recente, a equipe de Seth também tem uma iniciativa que busca documentar a diversidade na percepção humana — é o Perception Census (Censo da Percepção, em uma tradução livre), uma pesquisa online que mede as diferentes perspectivas de tempo, som, cor e até expectativas dos participantes.

A ideia, diz o cientista, é entender o espaço oculto, a estrutura que nos faz variar em última instância e que é bastante difícil de descobrir. Para nós, parece que vemos o mundo como ele é: fica difícil notar que os outros possam vê-lo de outra maneira. Mais de 20.000 pessoas de mais de 100 países já participaram do censo, o que o torna um dos maiores experimentos da área.

Fonte: Wired, Dreamachine