IA ajuda a traduzir textos cuneiformes de 5 mil anos
Por Augusto Dala Costa | Editado por Luciana Zaramela | 28 de Junho de 2023 às 17h36
Uma nova iniciativa usando inteligência artificial criou uma máquina capaz de traduzir os textos em acádio da mais antiga civilização do mundo, escritos em alfabeto cuneiforme de 5 mil anos atrás. Os responsáveis foram os cientistas da Universidade de Tel Aviv, que treinaram o computador para reconhecer os padrões das tabuletas de argila que contém as formulações no alfabeto antigo.
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O idioma acádio, que pertencia às línguas semíticas do leste, era usado em diversas regiões da antiga Mesopotâmia, como Acádia, Assíria, Isim, Larsa, Babilônia e provavelmente Dilmun. Os humanos da época marcavam tabuletas de argila com um alfabeto baseado na forma de cunha (por isso o nome cuneiforme) em tempos tão antigos quanto 2.500 a.C. O acádio em si foi falado na região entre 3.000 a.C. e 100 d.C., sendo posterior ao idioma sumério.
São guardados, até hoje, registros de centenas de milhares de tabuletas, que contém a história política, econômica, social e científica da Mesopotâmia, mas a maioria desses documentos de argila segue sem tradução — a falta de acessibilidade se dá pela sua quantidade em contraste com os poucos especialistas em acádio capazes de ler o idioma.
Treinando IA em acádio
Para começar o treinamento da inteligência artificial, os cientistas puseram a tecnologia para converter o acádio tirado do cuneiforme em uma transliteração no alfabeto latino, ou seja, apenas trazendo a língua para um ambiente mais legível a quem não é letrado na antiga escrita. A precisão do processo ficou em 97%, cortando muitas etapas da tradução, antes bastante complicada.
Já traduzir do acádio para o inglês diretamente, como é o objetivo dos pesquisadores, é uma tarefa muito mais complicada, já que envolve gerar sentenças e orações coerentes na língua a partir dos símbolos cuneiformes, bastante diferentes de representações linguísticas atuais. Isso se reflete no fato de que a IA se dá muito melhor na hora de traduzir decretos reais e profecias, textos que seguem padrões muito mais fixos.
Textos mais poéticos e literários, como tratados ou cartas de sacerdotes, apresentaram chances muito maiores de acabar gerando “alucinações”, um termo da IA usado quando a máquina gera resultados completamente não relacionados ao texto que deveria traduzir.
O objetivo da tradução neural de máquina (NMT, na sigla em inglês) é parte de uma colaboração máquina-humano dos pesquisadores para ajudar os estudiosos da língua e acadêmicos envolvidos com seu estudo. O modelo de tradução está disponível em código aberto no link Akkademia, do GitHub, e os pesquisadores estão desenvolvendo um aplicativo online chamado Babylonian Engine.
Fonte: PNAS Nexus, History, Heritage Daily