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Humanos expressam pelo menos 6 emoções gritando, diz estudo

Por| Editado por Luciana Zaramela | 27 de Outubro de 2022 às 15h34

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Ümit Yıldırım/Unsplash
Ümit Yıldırım/Unsplash

Cientistas da Universidade de Oslo, na Noruega, vêm estudando os gritos humanos e tudo que envolve a vocalização mais alta que conseguimos produzir — e descobrindo segredos muito interessantes sobre ela. Para começo de conversa, gritos podem expressar pelo menos 6 emoções diferentes, longe de ser apenas uma forma de alerta primitivo.

Uma das inspirações e lembranças dos cientistas é a Beatlemania, onda de aclamação e quase fanatismo expressado aos Beatles em seus shows, na década de 1960. Incapazes de expressar o júbilo e exaltação sentidos pelos músicos de outra forma, muitos fãs davam gritos de alegria durante as performances. Apesar de o fenômeno ser bem conhecido, a ciência havia focado, até agora, apenas em vocalizações angustiadas.

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Ciência no grito

A pesquisa norueguesa, então, decidiu gravar e estudar gritos em estúdio, gravados em uma sala à prova de som. Publicada na revista científica PLOS Biology, a pesquisa identificou emoções de dor, raiva, medo, alegria, paixão e tristeza. E para surpresa dos cientistas, as emoções reconhecidas mais rapidamente pelos voluntários — e processadas mais rápido pelo cérebro — foram as positivas.

Muitos animais também gritam, já que essa vocalização é uma maneira fácil e rápida de avisar sobre perigos, então supunha-se que emoções relacionadas a interpretações negativas seriam as mais reconhecidas. Por isso, descobrir que as emoções positivas — com gritos de alegria ficando no topo da lista — foram as que geraram respostas mais fortes foi surpreendente, e é algo ainda sem explicação.

Mesmo o estudo de linguagem não-verbal é relativamente novo, já que estudar fala e língua era mais interessante, afinal, somos os únicos animais com uma comunicação tão complexa. Descobrir os segredos da diversidade de outras vocalizações, agora, pode nos ajudar a entender a comunicação humana e de onde ela veio.

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No início do estudo, a equipe simplesmente gravou seus próprios gritos, usando as gravações para descobrir as variações de emoção possíveis. Para isso, imaginaram diversos cenários possíveis enquanto gritavam, como quando seu time ganhava o campeonato ou passavam por uma viela escura.

Após identificar os 6 tipos já citados, recrutaram 12 voluntários para reproduzir os gritos, dando descrições das emoções pretendidas a eles. Cada um deles deu um grito "neutro", para ter uma base de comparação: era um simples "ahh" bem alto. Gritar, dizem os cientistas, é fácil, mas cansativo, já que é o som mais alto que conseguimos produzir. Embora tenha alguma artificialidade nos gritos soltos em laboratório, ficando mais uniformes do que os naturais, são próximos o suficiente para serem usados na pesquisa.

Foram analisadas 88 características dos gritos, como tom e intensidade, e um algoritmo foi treinado para categorizá-los, sendo bem-sucedido nisso em quase 80% das vezes. Os melhor reconhecidos foram os de alegria, com classificações corretas sendo feitas 89,7% do tempo.

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Os participantes, então, ouviram os gritos gravados, e tiveram de classificar as emoções que os causaram clicando em uma opção numa tela. Em uma categoria, escolhiam entre as seis emoções e uma neutra, e em outra, escolher um tipo entre duas opções. Mapas da atividade cerebral enquanto ouviam os gritos também foram feitos com ressonância magnética funcional (fMRI).

Cérebro, emoções e linguagem

Os sistemas cerebrais estudados foram o auditivo, que analisa e classifica os sons, o límbico, envolvido em respostas emocionais, e o córtex frontal, que cuida da tomada de decisões e coloca os sons no contexto de cada situação. Os gritos reconhecidos mais rápido pelos voluntários foram os que não eram de alerta, especialmente os de alegria, e padrões semelhantes surgiram nos mapas de fMRI: gritos que não eram de alerta também desencadeavam mais atividade nos cérebros dos participantes.

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Isso desafia a crença de que gritos foram feitos para serem avisos de perigo, algo que os cientistas acreditavam vir de uma função evolucionária. Agora, as nuances desses sons primitivos estão sendo melhor conhecidas. Em 2015, uma equipe de cientistas identificou uma nova variação sonora, chamada de "aspereza" (roughness, no original em inglês), um tom alto considerado importante na identificação rápida de sons por um interlocutor, presente tanto em gritos quanto em alertas artificiais, como apitos.

O novo estudo identificou a aspereza tanto em gritos negativos quanto positivos, embora seja mais fraca nestes últimos. Mesmo com ela, no entanto, os negativos não foram reconhecidos ou processados mais rápido — o que não elimina sua importância, mas torna a questão mais complicada. Há, ainda, a possibilidade de que o ambiente mude a forma com que cada grito é interpretado.

Por fim, um resultado esperado foi que os gritos positivos eram os mais identificados erroneamente como sendo de alerta: identificar emoções dessa forma teria sido um benefício na evolução, uma espécie de "melhor prevenir do que remediar" durante a seleção natural humana. O plano dos pesquisadores, agora, é continuar investigando as nuances dos gritos e a resposta humana a eles, levando às raízes da linguagem.

Fonte: PLOS Biology, Current Biology