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Estudo mostra que linguagem humana provavelmente não começou com grunhidos

Por| Editado por Luciana Zaramela | 21 de Março de 2022 às 08h30

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twenty20photos/envato
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A habilidade humana de utilizar a linguagem para se comunicar é um dos maiores trunfos da nossa espécie, permitindo-nos acumular e transmitir conhecimento através das eras, tornando a cooperação possível das escalas mais domésticas às mais globais. Não temos, no entanto, evidências diretas de como a comunicação entre seres humanos possa ter começado, envolvendo o surgimento da comunicação verbal em mistério.

Cientistas cognitivos da University of Western Australia, no entanto, resolveram fazer experimentos para esclarecer alguns aspectos da teorizada origem da nossa comunicação: é comum imaginar que nossos ancestrais utilizavam grunhidos para transmitir significado. Os experimentos da equipe de pesquisadores, então, tinham a pretensão de descobrir se a transmissão de significado entre indivíduos — função primária da linguagem — era mais eficiente utilizando gestos ou através de sons não-verbais. O estudo foi publicado na revista Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences.

Métodos da pesquisa

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Para a o experimento, os pesquisadores juntaram um grupo de 30 voluntários de culturas diferentes — da Austrália e de Vanuatu, república insular na Oceania, respectivamente — e realizaram atividades onde eles deveriam transmitir significados específicos utilizando gestos ou vocalizações não verbais. O mesmo teste foi reproduzido com um grupo de voluntários composto por 10 pessoas com deficiências visuais severas e 10 pessoas com visão funcional. Neste caso, um grupo de universitários tentava entender o que os voluntários bucavam transmitir.

Resultados e teorias

O estudo teve resultados claros: a comunicação foi duas vezes mais bem-sucedida quado os voluntários utilizaram gestos em relação a vocalizações — na proporção de 61,17% versus 29,04% de sucesso nas interações —, tanto quando a comunicação era feita entre culturas diferentes quanto entre pessoas que enxergavam e deficientes visuais. No artigo, os cientistas apontam que os dados são consistentes com uma teoria de origem da linguagem onde os gestos teriam vindo primeiro.

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Entre os aspectos analisados pelo estudo, está o fato de que gestos são muito mais universais, e foram mais similares entre os comunicadores estudados do que os grunhidos: para representar "fechadura", por exemplo, todos fizeram o gesto de girar uma chave. Não há um som comum que possa representar isso, no entanto.

As maiores diferenças apareceram nos vanuatuenses que tiveram pouco contato com a cultura ocidental. Um deles representou uma corrente com um gesto de jogar algo (como se fosse uma âncora), enquanto um australiano fez um gesto de puxar (como se levantasse algo pesado).

A pesquisa parte da premissa de que nosso sistema cognitivo não mudou nos 500.000 anos desde que se acredita que desenvolvemos linguagem. Os pesquisadores notam, também, que é possível uma coexistência e evolução conjunta das duas formas de comunicação estudadas. Gritar, por exemplo, é um comportamento universal simples, e é provável que tenha sido combinado com gestos desde o início.

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Nicolas Fay, cientista cognitivo e autor principal do estudo nota que, no entanto, há evidências de que a vocalização pode prejudicar o sucesso da comunicação gestual. Outros estudos apontam ao fato de que primatas não-humanos usam mais gestos do que vocalizações e que crianças pequenas e chimpanzés se utilizam de gestos muito similares, por exemplo.

De qualquer forma, agora sabemos ser muito provável que tenhamos usados gestos para transmitir significados mais complexos antes de sair inventando palavras por aí.

Fonte: Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences