Publicidade

Será que existem vulcões no Brasil?

Por| Editado por Patricia Gnipper | 11 de Novembro de 2021 às 12h36

Link copiado!

Unsplash/Frenky Harry
Unsplash/Frenky Harry

O território brasileiro é muito vasto, sendo palco dos mais variados tipos de relevos, como planícies, planaltos e montanhas. Aí surge a dúvida: existem vulcões no Brasil? Para a tranquilidade de todos, não existe nenhum vulcão ativo em nosso território — mas nem sempre foi assim.

O Brasil (assim como boa parte da América do Sul e da porção sul do Oceano Atlântico) está localizado bem acima da placa tectônica Sul-Americana. Como o vulcanismo, ou seja, a erupção de rocha derretida, só ocorre nas áreas de encontro entre as placas tectônicas, o território brasileiro está bem afastado desta região e é justamente por isso que ele não sofre com a ameaça de uma erupção vulcânica.

Vulcões no Brasil: nosso território já expeliu lava há milhões de anos

Continua após a publicidade

Apesar de toda a fúria e violência que uma erupção vulcânica possa oferecer, as atividades vulcânicas cumpriram e ainda cumprem um papel fundamental para a formação da crosta terrestre e, consequentemente, das placas tectônicas. Estima-se que 5% da crosta seja formada por rochas sedimentares, enquanto 95% é constituída por rochas ígneas, aquelas que se formaram pelo resfriamento e solidificação do magma.

Em entrevista ao Canaltech, o geólogo Marcel Besser, do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), explicou como o passado vulcânico no território brasileiro é observado a partir das rochas. “É como se as rochas fossem livros que a Terra escreveu ao longo do tempo e, hoje, o geólogo abre essas rochas e lê o que aconteceu — como ela foi feita”, acrescentou Besser. Neste caso, são as rochas ígneas que revelam o vulcanismo em um passado bem remoto.

Além disso, Besser explicou que a superfície onde hoje fica o Brasil foi formada na Era Mesozoica, entre, aproximadamente, 251 milhões de anos e 65,5 milhões de anos atrás. Neste período, o então supercontinente Gondwana estava se dividindo, separando a América do Sul da África, e houve muito derramamento de magma. Como exemplo, Besser destacou as Cataratas do Iguaçu: “cada degrau das Cataratas é um derrame vulcânico, um fluxo de lava que se solidificou”.

Continua após a publicidade

Os corpos vulcânicos, ou seja, os grandes volumes de magma solidificados desta época, sofreram com a ação do intemperismo ao longo de milhares de anos, modificando a paisagem e a transformando como a conhecemos hoje. “Aquele vulcão criado há 130 milhões de anos já não tem a forma de um vulcão. Ele foi desgastado pelo tempo e o que sobra são resquícios do que existiu ali”, disse Besser.

Portanto, o vulcanismo só ocorre, em sua maioria, nos limites entre as placas tectônicas, pois é ali que o calor e pressão do interior do planeta escapam na forma de vulcões. A dorsal mesoatlântica, localizada entre 5 a 6 mil metros de profundidade no meio do Oceano Atlântico, é uma região próxima ao Brasil onde ainda ocorrem vulcões — conhecidos como vulcões submarinos.

O vulcão mais antigo do mundo fica no Brasil

Continua após a publicidade

Embora hoje o Brasil não abrigue nenhum vulcão ativo, o país possui o vulcão mais antigo do mundo já descoberto. Com 1,89 bilhão de anos, o que sobrou deste antigo vulcão está localizado na região amazônica, especificamente entre os rios Tapajós e Jamanxim. Ele teria atingido até 400 metros de altura, algo baixo o suficiente para a ação do intemperismo varrer boa parte desta formação antiga.

Como exemplo de recente vulcanismo no Brasil, o geólogo Marcel Besser citou a Ilha de Trindade, localizada a 1.200 km do litoral do Espírito Santo. O extinto Vulcão Paredão, segundo Besser, tem uma idade estimada em 200 mil anos — ou até menos. Parte do que sobrou do cone vulcânico foi desgastado pela ação do tempo, de chuvas e de ventos, mas, por ser geologicamente recente, mantém-se relativamente preservado.

Além desta herança vulcânica, Besser também destacou Fernando de Noronha, o arquipélago brasileiro localizado na costa de Pernambuco. O conjunto de ilhas é, na verdade, a parte visível de uma cadeia de montanhas submersas que se formaram através das atividades vulcânicas ocorridas região há 12 milhões de anos. A base da ilha principal fica a cerca de 4 mil metros abaixo do nível do mar.

Continua após a publicidade

Em conversa com o Canaltech, André Gatto, doutor em geologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse que muitas rochas ígneas encontradas em mapeamentos geológicos são, na verdade, câmaras magmáticas solidificadas quase por inteiro. “É aquele bolsão de magma que fica embaixo do vulcão antes dele explodir”, acrescentou. Esses bolsões de magma que não foram expelidos, posteriormente se resfriaram e, por fim, solidificaram-se.

Gatto disse que a costa do Rio de Janeiro, especificamente a Serra do Mar — uma cadeia montanhosa que se estende por cerca de 1.500 km até o Rio Grande do Sul — tem partes formadas por câmaras magmáticas solidificadas. “O que estava em volta, sedimentos menos densos, foram varridos pelo tempo e as câmaras soerguidas, até virarem montanhas”, acrescentou geólogo. A origem vulcânica é observada pela presença das rochas ígneas, como é o caso do granito.

Continua após a publicidade

A famosa “terra roxa”, encontrada principalmente nos estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, é um tipo de solo avermelhado muito fértil que se formou como o resultado de milhões de anos de decomposição de rochas basálticas — um tipo de rocha ígnea. Enquanto o supercontinente Gondwana ainda estava se dividindo, ele provocou um dos maiores derramamentos vulcânicos da história do planeta, deixando o território brasileiro rico em rocha basáltica.

Vale destacar que a Terra é dinâmica, e isto significa que nada na superfície permanecerá para sempre igual a como é hoje. As placas tectônicas continuam se movimentando lentamente acima do manto terrestre e nada impede que, daqui a milhares de anos, o Brasil — ou o que existir dele nesse futuro distante — não volte a ser um local onde existam vulcões ativos.

Fonte: CPRM (1,2), LPI, Live Science