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Estranho animal híbrido entre raposa e cachorro é identificado no RS

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Vinicios de Moura/CC-BY-S.A-3.0
Vinicios de Moura/CC-BY-S.A-3.0

Há dois anos, no Rio Grande do Sul, um animal curioso semelhante a um cachorro foi encontrado em uma estrada no município de Vacaria, atropelado e ferido. Fêmea, ela foi identificada como uma espécie silvestre de canídeo, um graxaim-do-campo, popularmente chamado de raposa. Chegando ao hospital veterinário da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no entanto, uma surpresa — o bicho era bem diferente de um graxaim, talvez uma espécie desconhecida.

Os graxains-do-campo são de fato mais parecidos com raposas, apresentando pêlos cinzentos e só sendo encontrados na América do Sul, especialmente Uruguai, Paraguai, Bolívia, Uruguai e sul do Brasil. Seu nome científico é Lycalopex gymnocercus e o animal não é, na verdade, da família das raposas, parecendo com elas por uma coincidência evolucionária — seus parentes mais próximos são lobos e chacais.

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Devido à confusão, o animal atropelado foi enviado ao canil de espécies domésticas, mas, uma vez lá, não comeu ração e se comportou de forma muito diferente à de um cachorro. Quando os veterinários ofereceram roedores, o canídeo comeu sem hesitação, como um graxaim-do-campo faria. Mais confusão.

Desvendando o híbrido

A dificuldade em identificar a espécie requereu a presença do geneticista Thales Renato Ochotorena de Freitas, do Instituto de Biociências da UFRGS, que notou uma pelagem escura incomum no bicho — ele também latia como um cachorro. Graxains-do-campo soltam ganidos breves e agudos e são cinzentos. Com a ajuda do citogeneticista Rafael Kretschmer, da Universidade Federal de Pelotas, e da bióloga Bruna Elenara Szynwelski, da UFRGS, investigações mais profundas se seguiram.

Análises cromossômicas ajudaram a desvendar o caso. Os cães (Canis lupus familiaris) possuem 78 cromossomos, e os graxains-do-campo, 74 — como todos os seres vivos herdam o material genético dos pais na mesma quantidade, isso revelaria a origem do canídeo.

Uma biópsia e cultura celular da pele mostrou 76 cromossomos no animal, algo apenas presente em lobos-guará (Chrysocyon brachyurus), mas era claro que não se tratava da espécie. Só poderia ser uma nova espécie, um híbrido que herdou 39 cromossomos de um cão e 37 de um graxaim-do-campo.

Análise mitocondrial do DNA — estrutura fora do núcleo celular e do restante do DNA — mostrou que a linhagem materna do animal era de graxaim-do-campo. Embora híbridos canídeos já tenham sido descritos na África, Europa e América do Norte, é a primeira vez que um caso destes é posto em detalhes na América do Sul. A curiosidade é que os canídeos participantes na hibridização são relativamente distantes na árvore evolutiva, o que rendeu um artigo, publicado na revista científica Animals em agosto.

Sozinha no mundo?

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Já recuperado, o híbrido foi castrado e mandado ao Mantenedouro São Braz, santuário e zoológico em Santa Maria, também no Rio Grande do Sul. No final do mês de agosto, os pesquisadores informaram à BBC News Brasil que, após contato com o santuário, descobriram que o canídeo havia falecido, embora não se saiba a causa mortis.

Agora, suspeita-se que a espécie diferenciada já havia sido vista no passado — Hasse Junior, o biólogo que resgatou o animal, também encontrou um canídeo estranho em Vacaria em 2019, e filmou o encontro. Em ambos, podia ser vista uma mancha branca no tórax.

Segundo Szynwelski contou à BBC News Brasil, cruzamentos entre canídeos como o caso gaúcho podem ser prejudiciais à natureza — para começar, o próprio bicho corre riscos, já que o híbrido tem uma coloração escura, que se destaca no mundo selvagem. O graxaim-do-campo consegue se camuflar melhor com os pelos cinzentos. Outro aspecto é o transporte de doenças, que podem ser passadas do cães domésticos para os canídeos silvestres, ameaçando sua sobrevivência.

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Fonte: Animals com informações de BBC News Brasil