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Este caprino foi o único mamífero de sangue frio do mundo

Por| Editado por Luciana Zaramela | 09 de Outubro de 2023 às 21h28

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Joan Gené/CC-BY-4.0
Joan Gené/CC-BY-4.0

Você deve se lembrar das aulas de biologia, onde é dito que o reino animal se divide entre animais de sangue frio e de sangue quente. Os primeiros, compostos pelos répteis, se aquecem com banhos de sol, enquanto os mamíferos (inclusive marinhos) precisam comer com frequência para ter energia o suficiente para manter a temperatura interna constante. Um animal, no entanto, quebrou o ciclo evolutivo e se tornou o único mamífero de sangue frio do mundo.

Extinta há muito tempo, a espécie de cabra Myotragus balearicus ficou presa em uma ilha mediterrânea com poucos recursos, tendo cruzado a ponte terrestre que já ligou as Ilhas Baleares ao continente europeu. Quando o oceano separou seu habitat do continente de vez, formando a Ilha de Mallorca, na Espanha, adaptações foram necessárias para sobreviver com menos comida.

Virando uma cabra sangue-frio

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O M. balearicus tinha apenas 45 cm de altura, com os filhotes do tamanho de um rato, e passou por uma série de mudanças morfológicas, ficando com membros, cérebro e órgãos sensoriais menores, basicamente passando por um nanismo insular. As cabras da espécie foram os únicos animais, aliás, a terem a mesma estrutura de esqueleto dos répteis. Eles crescem devagar e conseguem controlar o crescimento, sendo capazes até de pará-lo com base na quantidade de recursos disponível. Isso deixa sinais nos ossos.

A histologia dos ossos dos caprinos extintos de Mallorca encontrou os mesmos tecidos lamelares que se formam nos répteis ectotérmicos, (ou seja, de sangue frio). Comparando os ossos das cabras aos de crocodilos, as semelhanças foram notáveis, mostrando habilidade de modificar a taxa de crescimento e até mesmo de pará-la. A maturidade dos M. balearicus era tardia, em torno dos 12 anos, enquanto espécies de cabra comuns a atingem antes dos nove meses de idade.

Pesquisas indicam que o extinto animal também tinha um estilo de vida bem mais lento do que as espécies modernas — ao invés de saltar por rochas, o bicho teria ficado muito mais tempo tomando sol e se locomovendo devagar pela ilha. Suas capacidades aeróbicas eram limitadas. Essas definições, no entanto, não estão livres de polêmicas.

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Em espécies de sangue frio atuais, os ossos geralmente são feitos de osso lamelar de crescimento lento, mas ossos fibrolamelares de crescimento rápido, geralmente achados em espécies de sangue quente, também já foram vistos em espécies de dinossauros e aves. Segundo os pesquisadores, é possível que tenha existido uma terceira condição intermediária entre sangue quente e frio.

O caprino anão M. balearicus acaba sendo um ótimo estudo de caso para a ciência, já que viveu numa ilha sem predadores naturais, mas com poucos recursos, desenvolvendo características répteis que permitiram sua sobrevivência por 5,2 milhões de anos, mais do que o dobro da média das espécies continentais. A espécie acabou extinta cerca de 4.500 anos atrás, 1.500 anos antes da chegada humana em Mallorca, provavelmente por conta do declínio do buxo balear (Buxus balearica), sua planta de consumo favorita.

Fonte: Biological Sciences, Phys.org