Computador mecânico mais antigo do mundo seguia calendário lunar
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |

Um dos mistérios envolvendo a Máquina de Anticítera (ou Antikythera, em grego), considerado o computador mais antigo do mundo, de mais de 2.000 anos atrás, foi solucionado por cientistas — e por um amador, como forma de passar o tempo. Parte do cálculo ainda envolveu técnicas de análise do espaço-tempo, mostrando a complexidade do antigo aparelho.
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A Anticítera é um computador mecânico — o que significa que usa mecanismos analógicos para computar, ou calcular — encontrado em um naufrágio no mar Egeu, na ilha de Anticítera, em 1901. O mecanismo data do século II a.C., é feito de bronze e tem pelo menos 30 engrenagens, muito precisas e intrincadas.
Desvendando a Anticítera
Para que servia a antiga calculadora, afinal? Segundo os cientistas, para prever a data de eventos futuros diversos, desde os astronômicos, como eclipses, movimentações planetárias e fases lunares, e mais mundanos, como o calendário das próximas olimpíadas (e não a existência de fendas no tempo, como em Indiana Jones e a Relíquia do Destino). O que a ciência desconhecia, no entanto, era o caráter do calendário — seria ele solar ou lunar?
A resposta veio aos poucos. Em 2020, uma análise com imagens de raio-x mostrou diversos buracos espaçados regularmente abaixo do círculo de calendário do dispositivo, este incompleto. Assim, não era possível saber quantos buracos teriam existido na Anticítera completa, mas estimava-se entre 347 e 367, o que poderia incluir tanto os calendários lunar quanto solar.
Cientistas da Universidade de Glasgow, então, notaram algo interessante — um YouTuber chamado Chris Budiselic estava fazendo, de forma amadora, uma réplica do círculo do calendário, e buscando maneiras de calcular quantos buracos havia nele.
Graham Woan, da Faculdade de Física e Astronomia da universidade, contou em comunicado que isso o inspirou a buscar análise bayesiana para o cálculo, um método que lida com incerteza e dados incompletos. O resultado mostrou entre 354 e 355 buracos.
Já Joseph Bailey, da mesma universidade, mas do Instituto de Pesquisa Gravitacional, usou um método estatístico desenhado para detectar e calcular incertezas nas ondas gravitacionais, elementos delicados do espaço-tempo afetados por eventos grandiosos, como a colisão de buracos negros.
O resultado mostrou 354 ou 355 buracos em um raio circular de 77,1 mm, com incerteza de ⅓ mm. O cálculo também revelou que cada buraco varia apenas 0,028 mm na distância até o próximo, uma precisão incrível para algo tão antigo.
Além de técnicas de medição muito precisas, os gregos precisariam de uma mão muito estável para perfurar os buracos com tal exatidão, o que mostra quão engenhosos os povos da época eram.
Os resultados, revelando que o calendário era lunar, foram publicados no periódico científico Horological Journal, e são descritos pelos cientistas como “poéticos”. Segundo eles, é uma simetria interessante que técnicas usadas para calcular elementos do universo lá fora tenham servido para entender melhor um mecanismo tão antigo usado para acompanhar os céus há dois milênios.