Equipe que fez incrível reconstrução facial 3D de Tutancâmon inclui brasileiros
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Uma equipe diversa de cientistas, que inclui dois brasileiros, produziu uma reconstrução facial de Tutancâmon, o jovem faraó, com base em estudos e informações coletadas nos últimos anos através de várias pesquisas diferentes. Foram dois resultados, um mais objetivo e científico e outro mais artístico e subjetivo, ambos confirmando algumas características do antigo rei — deformidades faciais, como prognatismo e um crânio mais longo do que o normal.
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Provavelmente o monarca mais conhecido do Antigo Egito, Tutancâmon ascendeu ao trono com apenas 9 anos, reinando por cerca de uma década até sua morte, com cerca de 19 anos, em 1323 a.C. Apesar da tenra idade, ele foi um faraó reverenciado, já que reverteu as decisões impopulares do pai, Akhenaton, que havia tentado tornar o Egito monoteísta através do banimento de todos os deuses, menos Aten, o deus solar.
Seu filho retomou o politeísmo, acreditando que a heresia paterna houvesse tirado o reino das graças das divindades. Tutancâmon foi enterrado com cerca de 5.000 amuletos e joias, coberto com 3 caixões diferentes incluindo um sarcófago de ouro maciço e uma máscara mortuária dourada. Sua tumba e múmia foram encontradas, intactas, pelo egiptólogo britânico Howard Carter, em 1922, no Vale dos Reis.
O fascínio pelo faraó e seu legado vem desde essa época, especialmente porque outros túmulos haviam sido saqueados em épocas mais antigas.
A fisionomia e a face de Tutancâmon
O resultado de todos os levantamentos e aproximações faciais, como é chamado o trabalho dos cientistas, mostrou que o monarca tinha prognatismo maxilar e retrognatismo mandibular, ou seja, o queixo era retraído e a parte superior da boca era pronunciada. Isso dava uma aparência “nariguda” ao jovem rei.
Deformidades como essas provavelmente vieram do costume dinástico da época de realizar casamentos entre irmãos — o que era o caso dos pais do faraó. O próprio Tutancâmon casou-se com a meia-irmã, tendo duas filhas que não sobreviveram à infância. Uma delas nasceu prematuramente, entre 5 e 6 meses de gestação, não sobrevivendo ao parto, e a outra nasceu com espinha bífida, escoliose e deformidade de Sprengel.
Tanto o estudo que revelou sua face em mais detalhes quanto anteriores apontaram todas estas características corporais na reconstrução do egípcio, que também tinha escoliose, deformações no pé esquerdo e, provavelmente, doença óssea de Köhler, que causa inchaço e dor nos pés. Ele também pode ter contraído malária, dado que mais de uma cepa do parasita que a transmite estava presente em sua tumba.
Escaneamentos passados ajudaram bastante a equipe, inclusive os primeiros raios-x do corpo faraônico, feitos em 1968. Em 2005, a múmia de Tutancâmon passou por uma tomografia computadorizada completa, e, em 2010, um exame de DNA foi realizado, revelando laços familiares e questões de saúde.
Com isso, projeções acerca do tamanho dos lábios, posição dos olhos, altura das orelhas, tamanho frontal do nariz e dimensões cranianas inferiores puderam ser feitas, como contou o designer brasileiro Cicero Moraes à Folha de S. Paulo. O artista 3D trabalhou em conjunto com o também brasileiro Thiago Beaini, dentista e professor de odontologia, além de mais 3 autores de diversos países.
As características faciais, segundo Moraes, são estimadas com base em estudos estatísticos feitos com pessoas de diversas ancestralidades diferentes. A espessura de tecido mole, calculada depois das projeções frontais, por exemplo, foi baseada em medições de ultrassom feitas em egípcios modernos. Por fim, um “doador virtual” forneceu dados sobre o seu crânio e tecido mole, que foram ajustados até chegar nas medidas de Tutancâmon, processo conhecido como deformação anatômica.
O jovem faraó tinha um crânio alongado, além de um volume cerebral maior do que o normal — um homem comum tem, em média, 1,23 cm³ de cérebro, enquanto Tutancâmon tinha 1,43 cm³. As medidas cranianas tomadas pelos cientistas são semelhantes às de crânios que passaram por deformações propositais, mas no caso do monarca, tudo indica que o formato era natural, apesar de incomum.
A primeira aproximação facial foi gerada em escala de cinza, com os olhos fechados e sem cabelo, uma visão mais neutra e científica, sem marcadores de tom de pele, totalmente baseada nos dados gerados pela pesquisa. Já a segunda tomou liberdades artísticas para humanizar e especular sobre a aparência do Jovem Tut — ele é visto com sobrancelhas, cabelo raspado e maquiagem nos olhos, como era o costume da época.
Fonte: Research Gate, Folha de S. Paulo, LiveScience, Interesting Engineering