Como é viajar de carro elétrico nos EUA em comparação ao Brasil?
Por Felipe Ribeiro • Editado por Jones Oliveira |
O Canaltech já conseguiu avaliar muitos carros elétricos em sua cobertura automotiva, de diferentes capacidades, estilos e preços. E está muito claro, com a evolução desse produto, que o problema de se ter um modelo desses não está em sua autonomia, e sim na infraestrutura para o recarregamento da bateria, principalmente no Brasil.
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Em grandes cidades como São Paulo, já há uma grande oferta de pontos de recarga, inclusive com eletropostos bem estruturados e que oferecem o serviço de carregadores rápidos, mesmo que com a cobrança de tarifa. Com um bom planejamento, é possível ter um carro elétrico na capital paulista e grandes centros urbanos sem maiores dificuldades.
Mas e para viajar? Bem, esse é um ponto que ainda deixa a vida de quem tem um carro elétrico um pouco mais difícil. Algumas empresas, como a Tupinambá e a Volvo, investem em corredores com carregadores rápidos em pontos estratégicos, ligando a cidade de São Paulo a cidades como Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte.
Mas, analisando friamente, se trata de uma iniciativa do setor privado, ainda incipiente, e que carece de mais players e de uma maior participação governamental.
Segundo a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), o Brasil hoje possui pouco mais de 3 mil estações públicas e semipúblicas de recarga. Para efeito de comparação, os Estados Unidos possuem 45 mil e já têm um programa para a construção de 500 mil pontos de recarga.
Recentemente, o Canaltech teve a oportunidade de fazer a cobertura in loco da CES 2023, maior evento de tecnologia do mundo. Como parte dessa cobertura, fizemos uma viagem de carro elétrico, um Volkswagen ID.4, entre Los Angeles e Las Vegas para ter noção de como funciona a infraestrutura do país para a viagem de carros à bateria.
Do mesmo modo, experimentamos o recém-lançado corredor de carregamento da Volvo entre São Paulo e Belo Horizonte, que liga as cidades e tem dois pontos com carregadores rápidos.
Caminho natural x caminho forçado
Antes de falarmos propriamente das viagens, é bom ressaltar que ambas foram feitas com carros diferentes. No caso da viagem nos Estados Unidos, utilizamos o já citado VW ID.4, enquanto no trecho brasileiro foi usado um Volvo XC40. Mas para o exercício que fizemos muda pouquíssimo e explicaremos adiante.
Tanto no Brasil como nos Estados Unidos, nos planejamos previamente para fazer as paradas e recarregar os carros em pontos estratégicos, mas, aqui em casa, caso não tivéssemos feito isso, certamente não chegaríamos ao destino final, não sem percalços. E ai já começa a primeira grande diferença estrutural: eles estão bem à frente.
No percurso entre Los Angeles e Las Vegas, com 470km, sabíamos que iríamos utilizar uma estação de recarga da Electrify America localizada em um Walmart. Nessa parada, enchemos a bateria do ID.4 até 80%, o suficiente para efetuar a segunda perna do passeio em segurança, mesmo que a distância não fosse a mesma que marcava no mostrador do SUV elétrico.
Acontece que, no meio do caminho, encontramos não apenas um, mas três grandes eletropostos de outras empresas que administram carregadores elétricos nos EUA: um bem grande da Electrify America, outro da Shell, que instala carregadores em seus postos, e outro da Tesla, dona de suas próprias estações. Isso sem falar nos carregadores espalhados por restaurantes e lojas de conveniência.
Já sabíamos que a diferença entre as viagens seria grande. Não na experiência em si, já que carregamos o Volvo XC40 muito rápido nos carregadores que a empresa instalou estrategicamente em duas cidades mineiras: Perdões e São Gonçalo do Sapucaí, suficientes para preencher o trajeto de 592km. Mas o que nos deu um verdadeiro choque de realidade foi o maior número de opções fora do percurso preestabelecido.
Caso tivéssemos saído de LA sem nos planejarmos e fossemos em direção à Las Vegas, certamente chegaríamos no destino com autonomia de sobra, seja com o ID.4, seja com o Volvo, já que o sistema multimídia do SUV sueco também mostra pontos de recarga em tempo real caso você precise.
A conclusão nesse trecho em específico é que, para os estadunidenses, o uso do carro elétrico é muito mais natural do que para os brasileiros. Embora o crescimento desse tipo de carro esteja em um bom ritmo em nosso mercado, por lá o incentivo governamental e as metas das empresas — incluindo startups — parecem mais audaciosas e urgentes.
Estrada ajuda ou atrapalha?
Quando pensamos em infraestrutura, também temos que levar em conta outros aspectos para a viagem, ainda mais com um carro elétrico. E aí entram outros fatores, como o relevo, o clima e a qualidade da estrada. Nesse ponto, cada uma teve suas vantagens e desvantagens.
No trajeto entre Los Angeles e Las Vegas, utilizamos um percurso que passou no meio do deserto de Mojave, um dos maiores e mais famosos dos Estados Unidos. Na maioria do trajeto, a estrada estava plana e exigiu mais aceleração do ID.4, mas houve momentos de subida e descida, e aí entra a administração da regeneração da energia por parte dos freios, o que nos garantiu um pouco mais de autonomia.
Já no caminho entre São Paulo e Belo Horizonte, a rodovia Fernão Dias tem suas peculiaridades. Além do sobe-e-desce, há muitas curvas e, saindo do estado de São Paulo, a qualidade do asfalto cai demais. De todo modo, sentimos que o gasto de energia foi condizente com o que a montadora propôs e não sofremos fazendo contas.
Onde é melhor viajar de carro elétrico: Brasil ou Estados Unidos?
Se você se programar bem antes, dá para ter uma experiência bem parecida nos dois países. A diferença é que, nos Estados Unidos, o convívio com o carro elétrico é mais natural e se aproxima muito de um modelo a combustão. No Brasil, essa realidade ainda é para poucos.