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Nômade digital na prática: repórter conta como é ser "mochileira virtual"

Por| Editado por Claudio Yuge | 15 de Fevereiro de 2022 às 19h20

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Envato/simonapilolla
Envato/simonapilolla

Depois de quase dois anos sem chegar nem perto de um aeroporto, acordei cedo na sexta-feira (4 de dezembro) e fui para o Aeroporto Internacional de São Paulo. Embarquei para Foz do Iguaçu. Ao chegar lá, precisaria de um serviço de transporte para me levar, ao menos, até a aduana argentina, já que entraria no país vizinho por via terrestre.

Em tempos normais, poderia pegar um ônibus que me deixaria diretamente no centro de Puerto Iguazú. Com a pandemia, porém, o transporte público coletivo internacional ainda não está em funcionamento por lá. Pesquisei agências de turismo locais de Foz do Iguaçu para ter alguém à minha espera na chegada. Os preços eram absurdos: até R$ 300 para um trajeto de 15Km.

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Fiz, então, pesquisas em apps de transporte, já que Uber e 99 estão disponíveis na cidade. Os preços eram de cerca de R$ 20 até a aduana. Outra opção seriam os táxis do aeroporto. Como a cidade é bastante turística, é comum que os preços sejam altos. Decidi arriscar com os aplicativos de transporte ao desembarcar. Como alternativa, eu pegaria um táxi se não conseguisse nada pelos apps.

Diferentemente de São Paulo, que tem opções dessas plataformas em qualquer região, em Foz do Iguaçu é mais difícil conseguir um carro quando se está longe do centro. Ao desembarcar, tentei os aplicativos por cerca de meia hora. Ninguém aceitava a corrida.

Táxi até a fronteira

Optei pelo táxi e combinamos R$ 60 pelo deslocamento. É bastante caro em relação à distância percorrida, mas, ainda assim, mais barato que as opções que eu havia pesquisado inicialmente. Foi um meio-termo que achei adequado.

O taxista me levou até a fronteira — um trajeto percorrido em menos de 20 minutos. Lá, apresentei as documentações sanitária e pessoal aos oficiais da imigração argentina — eles certamente tinham acesso ao formulário com os dados que preenchi online. Foi simples e rápido: não levou mais que 15 minutos, mesmo tendo de enfrentar uma pequena fila.

Haviam táxis disponíveis alguns metros depois de atravessar a fronteira, já em Puerto Iguazú, para o centro da cidade. A distância de cerca de 1,5Km foi percorrida em menos de 10 minutos e custou $ 600 (o símbolo do peso argentino é apenas o $), algo como R$ 20.

Além disso, troquei R$ 200 por pesos com o taxista. Troquei pouco dinheiro porque imaginei que poderia conseguir taxas de câmbio melhores na cidade. Não consegui e, no dia seguinte, troquei mais dinheiro da mesma forma porque em Buenos Aires eu não conseguiria cotação favorável.

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Na pousada em que fiquei, a internet era rápida e estável, havia ar-condicionado (essencial em Puerto Iguazú e Foz do Iguaçu no verão) e tudo era próximo: padaria, supermercado, sorveteria, restaurantes e a famosa feirinha da cidade estavam a poucos metros de distância.

Ida para Buenos Aires

No dia seguinte, meu voo sairia às 8h20. Do centro de Puerto Iguazú ao aeroporto, leva-se cerca de meia hora. Combinei com o taxista do dia anterior que ele me pegaria às 6h30. Ele me deu o número de WhatsApp e me senti tranquila.

Aí cometi um grande erro: não o adicionei no app. No dia seguinte, ele não apareceu. Quando inseri o número dele no mensageiro, não aparecia a opção de enviar mensagem. Sem internet no celular, eu não podia pesquisar. Sem um chip local, eu não podia ligar para o taxista.

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Não havia táxis no ponto localizado na rodoviária. Comecei a entrar em pânico porque não tinha como ir para o aeroporto dali àquela hora. Mesmo que aparecesse um ônibus, ele demoraria mais que um táxi até o destino — e a essa altura eu já estava quase atrasada.

Para minha sorte, outro taxista veio atender a um chamado e o passageiro não tinha dinheiro para a corrida. Ele, então, ficou liberado para me levar. Paguei $ 1.300 (cerca de R$ 43) e troquei outros R$ 400 por pesos com ele.

A dica, então, é procurar opções confiáveis de transporte quando se tem voos em horários pouco movimentados. Descobri, depois, que poderia ir e voltar do aeroporto de Puerto Iguazú por $ 500 (ou $ 350 só um trecho, que foi o que usei na volta à cidade). Paguei bem mais caro e ainda passei por um estresse desnecessário às 6h30.

Enfim, deu tudo certo e embarquei rumo a Buenos Aires. Alguns minutos após a decolagem, o piloto informou que passaríamos sobre as Cataratas do Iguaçu. Foi um lindo espetáculo visto de cima!

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Eu já sabia que, ao chegar lá, poderia usar um aplicativo de transporte: embora não regulamentados, Uber e Cabify funcionam na cidade. Baixei ambos para o celular e, ao desembarcar, usei a internet do aeroporto para pesquisar qual tinha a melhor tarifa para meu hotel. Cabify venceu com $ 1.360,41, contra quase $ 3 mil do Uber.

A minha surpresa veio quando conferi quanto tinha gastado em reais nesse deslocamento. Embora o preço em pesos tenha sido muito semelhante ao pago em Puerto Iguazú, ao usar o cartão de crédito, gastei bem mais que R$ 45: foram R$ 85,48. Ou seja, esse método de pagamento usa a cotação oficial do país — nada favorável para o turista. Eu já tinha visto depoimentos no YouTube sobre essa diferença, mas achei que fosse exagero. Não era.

Uma semana na capital argentina

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Fiquei em três hotéis diferentes na cidade, para conhecer regiões distintas. Um dica para os nômades digitais: sempre procure internet em todos os lugares, públicos ou não. Em Buenos Aires, encontrei uma rede pública no centro da cidade (e em outras regiões) e conexões disponíveis em hotéis e restaurantes. Foi essencial em diversos momentos, pelos mais variados motivos.

Em um dos hotéis em que fiquei, o café da manhã é entregue no quarto para evitar contaminação por covid-19. Nos outros dois, era necessário dividir o ambiente com outros hóspedes — e houve situações em que precisei mudar de mesa para evitar chances de contaminação porque havia pessoas sem máscara. Nas ruas de Buenos Aires, quem usava máscara era turista: elas não são obrigatórias ao ar livre.

Todos os estabelecimentos em que me hospedei na Argentina tinham internet estável e rápida. Se não tivessem, no entanto, eu já havia identificado locais próximos que ofereciam conexão gratuita — tanto pública quanto em estabelecimentos privados — e, em caso de necessidade, eu poderia manter minhas atividades facilmente.

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Uma semana em Foz do Iguaçu

A volta para o Brasil foi um pouco mais tranquila: voei entre Buenos Aires e Puerto Iguazú em um sábado no fim da tarde. Como não havia preocupação com horário de trabalho, decidi ir para o Aeroparque, próximo ao centro de Buenos Aires de ônibus comum. Fiz a pesquisa do trajeto e capturei telas para saber onde deveria trocar de ônibus, já que não sabia se conseguiria internet nos lugares em que passaria.

Isso não foi suficiente porque o trajeto recomendado pelo Google Maps tinha erros. Por sorte, quando precisei trocar de ônibus, estava próxima ao centro da cidade e a conexão pública funcionou adequadamente. Mais uma dica: sempre considere que isso pode ocorrer e tenha um plano alternativo para esse caso. Depois de chegar ao Aeroparque, apesar do atraso do voo, deu tudo certo.

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Eu pretendia visitar o Parque Nacional Iguazú, onde ficam as cataratas argentinas, mas minha experiência com o uso do cartão de crédito em Buenos Aires me desencorajou. Em razão da covid-19, os ingressos são vendidos apenas online, com pagamento em cartão. Imediatamente lembrei da minha experiência com o Cabify: esses ingressos custariam praticamente o dobro do preço pago em dinheiro. Desisti.

Como cheguei tarde a Puerto Iguazú, dormi na cidade. Só atravessei a fronteira de volta para o Brasil no dia seguinte por volta das 11h: sem limitação de horário, não tive dificuldade para conseguir um táxi. Na fronteira, apenas o taxista argentino teve de comprovar vacinação completa. Para mim, não houve inspeção sanitária na saída da Argentina nem na entrada no Brasil. A verificação passou a ser feita alguns dias depois por determinação federal.

Em Foz do Iguaçu, passei por três hotéis. Todos tinham boa internet, mas, em um deles, o quarto era muito grande e o ar-condicionado não era suficiente: na semana em que estive lá, às 6h o calor já superava os 25°C e, no decorrer do dia, chegava facilmente próximo de 40°C. Esse é mais um aspecto a ser considerado: a acomodação precisa ser o mais confortável possível para que a experiência como nômade digital seja mais produtiva.

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Já vacinada com duas doses contra a covid-19, aproveitei para tomar a terceira dose na cidade. O Conecte SUS estava fora do ar e não era possível confirmar os dados, mas mesmo assim fui muito bem atendida e devidamente vacinada. Em janeiro, com o sistema já normalizado, a informação apareceu no app.

No último dia que passei em Foz do Iguaçu, visitei o Parque Nacional das Cataratas. Assim como na Argentina, não há venda presencial de ingressos e a indicação é que a compra seja feita online. Apesar disso, há totens de autoatendimento que podem ser usados por quem não comprou pela internet.

Para minha última noite na cidade, escolhi um hotel que aparentemente ficava mais perto do aeroporto. Quando cheguei ao local, entretanto, vi que era muito isolado. Nesse hotel, houve duas quedas de energia na noite em que estive lá — é verdade que o restabelecimento foi rápido, mas se fosse durante o meu horário de trabalho eu poderia ter problemas. Esse é mais um ponto a analisar.

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Como o local era isolado, imaginei que teria dificuldade para conseguir um carro de aplicativo para o aeroporto. No dia seguinte, o recepcionista me confirmou que seria difícil ser atendida por Uber ou 99 ali. Preferi não arriscar e optei por um táxi. A viagem, que por aplicativo sairia cerca de R$ 15, ficou por R$ 50. Mais um aprendizado: vale a pena se hospedar em locais centrais, mesmo que estejam mais distantes de aeroportos e rodoviárias.

Porto Alegre e Torres

Minha próxima parada foi Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Era segunda-feira, cheguei à cidade às 11h e me dirigi ao hotel. Cheguei e fiz check-in em tempo para iniciar as atividades profissionais às 12h. Era uma unidade de rede, bem localizada em um bairro residencial, com café da manhã saboroso e internet boa e estável.

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No segundo dia, porém, a conexão de internet foi interrompida. De acordo com a recepção do hotel, era um problema na provedora do serviço. Como meu 4G funcionava bem, optei por usá-lo naquele dia. Imaginei que o sinal voltaria a ficar disponível em pouco tempo. Isso não aconteceu: passei o dia todo apenas com minha conexão móvel.

Havia um shopping próximo ao hotel e decidi que iria para lá se a internet não estivesse disponível no dia seguinte. Por sorte, a conexão voltou no fim da tarde. Vale reforçar: no exterior, se não tiver um chip local, é importante identificar lugares que ofereçam internet rápida para o caso de precisar recorrer a ela. No Brasil, é possível usar o próprio 4G do celular, mas se ele não for suficiente vale estar perto de locais que possam oferecer a conexão.

Depois de quatro dias em Porto Alegre, fui para Torres, no litoral. A viagem foi em um dia em que eu não trabalharia: escolhi assim porque se tratava de um deslocamento de três horas em ônibus — que pode ser afetado por trânsito. Lembre-se sempre de ter seus horários profissionais em mente. No site da empresa de ônibus, onde comprei as passagens, pude ver horários e estimativa de tempo de chegada. As informações eram bastante precisas.

Passei cinco dias por lá e pude curtir a praia depois de quase dois anos de pandemia. Só que isso não ocorreu de forma suave: houve algumas quedas de energia. A falta de eletricidade é mais problemática que a de internet: se ela perdurar, as baterias do notebook e do celular podem acabar. Se puder, então, sempre leve carregadores de bateria consigo.

Internet em todos os lugares

Ao reservar hotéis, lembre-se de escolher locais com boa conexão com a internet. Se não tiver certeza, entre em contato para confirmar se o serviço é oferecido e se é estável e rápido. Paralelamente, garanta que seu celular tem acesso a 4G. No meu caso, me salvou quando o hotel sofreu um apagão de internet enquanto eu estava hospedada lá.

Se tudo isso falhar, a alternativa é procurar um estabelecimento que tenha internet à disposição. Boas opções são shoppings, cafés (como o Starbucks) e restaurantes (como o McDonald’s). Isso é importante especialmente quando se está fora do país e não se tem um chip local para usar a internet móvel.

Outra boa alternativa é recorrer a pontos turísticos e outras atrações no centro da cidade. Esses lugares costumam ter internet pública disponível. Em Buenos Aires, por exemplo, a região do Obelisco e da Avenida 9 de Julio tem internet para qualquer um usar. Em geral, os aeroportos têm internet gratuita à disposição. Se for necessário, é possível até trabalhar por algumas horas nesses locais.

Minha primeira viagem depois de dois anos de pandemia foi bem diferente das que fiz antes da covid-19. Para começar, é muito estranho ficar por horas em um ambiente fechado com desconhecidos. Tornei-me uma fiscal da máscara e jamais fico perto de estranhos que estejam sem o acessório. O álcool em gel fica constantemente na minha bolsa em companhia do hidratante para as mãos. Mesmo assim, deu para perceber que, já vacinada, posso voltar a fazer algumas viagens e aproveitar as possibilidades da tecnologia e do nomadismo digital.