Spotify investiga possível manipulação do algoritmo do hit "Envolver", de Anitta
Por Igor Almenara • Editado por Douglas Ciriaco |
Assim como faz com todos os artistas que alcançam altíssima popularidade, o Spotify iniciou uma investigação sobre a possível manipulação dos números da Anitta no hit Envolver. A música alcançou o “Top 1” do Spotify Global, sendo a faixa mais ouvida no serviço no dia 25 de março.
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A suspeita é de que os fãs da Anitta utilizaram bots e métodos alternativos para inflar os números da cantora no Brasil e em outras regiões (através de VPNs). O impulso não só colaboraria com a imagem da cantora, como também nos ganhos em “royalties” pela música, valor calculado de acordo com a porcentagem de reproduções numa determinada região.
Foi o site Rest of World que levantou a suspeita ao identificar mais de 100 playlists com nomes relacionados ao hit de Anitta — “Envolver #1”, “Stream Envolver”, “Envolver 20x”, por exemplo — espalhados pelo serviço de streaming. A adição da música em listas teria como objetivo aumentar a popularidade da cantora e somar o número de reproduções.
"Fãs da Anitta e especialistas da indústria da música disseram ao Rest of World que parte do sucesso de Envolver pode ser atribuído a fãs que manipularam os algoritmos da plataforma de maneiras que potencialmente quebram os termos e condições do Spotify", contou o site. "Pelo menos parte desse comportamento foi incentivado pela própria equipe de Anitta", acusa a publicação.
Em alguns casos, o autor da lista de reprodução incluía instruções para burlar o algoritmo, como “toque uma vez por dia, sem modo aleatório”. Em várias das playlists, a música Envolver aparece repetidas vezes, interrompida por uma ou duas músicas — provavelmente, uma forma de tentar contornar contenções do algoritmo.
"Colocamos recursos de engenharia e pesquisas significativos para detectar, mitigar e remover a atividade de streaming artificial no Spotify para que nada atrapalhe nossa missão de dar aos artistas a oportunidade de viver de sua arte e para que os detentores de direitos sejam pagos da maneira mais justa possível para o seu trabalho”, disse o Spotify em comunicado enviado ao UOL.
Se identificada irregularidades no número de reproduções de Anitta, a plataforma pode reter os royalties da produção até que a cantora mostre que não teve envolvimento nas ações. “Quando identificamos ou somos alertados sobre casos potenciais ou confirmados de manipulação de stream, tomamos medidas que podem incluir a retenção de royalties, a correção de números de streaming e medidas para garantir que a popularidade do artista ou da música seja refletida com precisão em nossos gráficos”, informou a empresa.
“A matemática não mente”, diz equipe de Anitta
Em carta aberta relacionada ao caso, o assessor-chefe de comunicação da equipe de Anitta, Paulo Pimenta, defendeu o mérito da cantora na conquista do Top 1 mundial do Spotify. “Muito se fala sobre Envolver e seu sucesso que dura até hoje no top 50 global do Spotify. A primeira cantora latina a chegar à posição #1 de forma solo é brasileira e se chama Anitta”, afirmou.
Pimenta afirma que a música acumulou mais de 38 milhões de reproduções somente no Brasil, onde Anitta é mais popular. “Somados, os streamings dos 9 países que mais ouviram Envolver resultam em um número relevante e global: 42.801.642”, completou.
Para ele, outros fatores também colaboraram com a popularidade da música, como a letra em espanhol. O assessor alega também que a cantora “tem mais ouvintes mensais nos Estados Unidos do que grandes cantoras americanas”.
“Mas, ainda bem que a matemática não mente e que a grande maioria dos brasileiros ainda tem orgulho dos artistas nacionais e se envolveu com a Anitta ao ponto de quebrarem juntos barreiras nunca antes ultrapassadas”, encerrou.
Anitta pode ter sido vítima
Números inflados nem sempre são positivos para o artista, pois há quem use bots para impulsionar a popularidade de uma música somente para miná-la num crivo do Spotify. Pessoas mal intencionadas poderiam ativar contas automatizadas fáceis de detectar para chamar a atenção da plataforma e prejudicar Anitta com retenção de royalties ou até a sua suspensão da plataforma.
Além disso, uma punição invariavelmente seria notícia na mídia, com potencial para afetar significativamente a imagem da artista no mundo inteiro. A cantora poderia ficar marcada como alguém que manipulou o algoritmo para alcançar o topo de popularidade no serviço e, assim, não conseguir o mesmo espaço de novo.
Fonte: Tilt (UOL), Rest of World, Rolling Stone