Quanto o Spotify paga aos artistas?
Por Igor Almenara | Editado por Douglas Ciriaco | 21 de Março de 2022 às 15h50
Como uma das principais plataformas de streaming do mundo, o Spotify serve como de músicas e podcasts para milhões de ouvintes a todo instante. A alta popularidade torna o Spotify um meio interessante para que artistas e criadores de conteúdo alcancem novos públicos, popularizem suas obras e façam dinheiro a partir delas.
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Segundo a plataforma, cerca de 1,2 milhão de artistas tiveram mais de 1 mil ouvintes, contudo, não é a partir da quantidade de cliques no botão “play” que é calculada a receita — ou, como o Spotify batiza, “royalties”. Cerca de dois terços do dinheiro obtido por assinaturas e anúncios de contas gratuitas são direcionados para os detentores de direitos autorais — gravadoras ou compositores, por exemplo.
Da assinatura à carteira
Após deduzir impostos, taxas de processamento de cartões de crédito, cobranças e outros gastos, o Spotify tem a receita líquida, valor que será distribuído para os detentores de direitos autorais pelo número de streamings.
Obviamente, aquele mais escutado na plataforma ganha mais dinheiro, mas o valor não é convertido diretamente da quantidade de reproduções ou seguidores. O cálculo é a soma do total de streamings em um determinado mês num país específico e a proporção que corresponde às músicas daquele detentor de direitos autorais. “Calculamos a cota por streamings mensalmente em cada país onde operamos somando o número de vezes que as músicas de um detentor de direitos específico foram ouvidas e dividindo o resultado pelo número total de reproduções deste mercado”, esclarece o Spotify.
Isto é, se sozinho um artista consegue uma reprodução a cada 1 mil no Brasil, ele recebe US$ 1 a cada US$ 1 mil do fundo de royalties do país — este fundo de royalties sendo a receita líquida, obtida de assinaturas e anúncios e já com devidas deduções.
O streaming mudou as coisas
Na página de suporte Loud&Clear, dedicada à transparência de pagamentos no aplicativo, o Spotify esclarece que as mudanças provocadas pelo streaming no mundo da música alteraram a percepção sobre o valor de cada reprodução. Em uma das perguntas que questiona o pagamento de centavos por cada clique no play, a plataforma pontua que “os ouvintes não pagam por cada música”.
A atividade no aplicativo é altíssima, o que também favorece na minimização do valor por streaming. Se no exemplo dado pela empresa é necessário figurar conquistar uma reprodução a cada 1 mil, imagine quanto isso deve dar quando chega à casa dos milhões — ou, possivelmente, bilhões — de reproduções num só país? A fração para cada detentor vai ficando cada vez menor.
Acordos com gravadoras
Naturalmente, nem sempre o detentor dos direitos autorais é o próprio autor da faixa. Quando há acordos feitos com gravadoras, o tamanho do repasse é decidido por acordos, algo que geralmente não é revelado ao público por questões contratuais.
Existem também outros intermediários, como as distribuidoras — algumas, inclusive, listadas pela plataforma no site Provider Directory. Novamente, os repasses podem variar — alguns indo até a 100% dos royalties. Daí, resta ao artista escolher qual a melhor opção para se vincular.
Como é o pagamento para podcasts?
Quando o assunto é podcast, porém, a situação é diferente: o Spotify não remunera diretamente os criadores de conteúdo — nem por clique, nem por upload. Não há pagamentos para quem cria programas e publica no Anchor, o braço da plataforma dedicado ao formato.
Isso só não acontece para os podcasts patrocinados ou “adquiridos” pelo Spotify — estes, geralmente, exclusivos da plataforma. Neste caso, o valor pago aos criadores de conteúdo e aos estúdios envolvidos fica sob sigilo, então é difícil cravar o valor que a empresa tende a pagar para financiar os programas.
Podcasters precisam buscar alternativas
Em uma conversa com o Canaltech, o podcaster dono do programa Emoções Misturam Ovos, Pablo Sarmento, conta que a comunidade de criadores cobra bastante da plataforma pela implementação de ferramentas de monetização com base na audiência. “Uma das coisas que os podcasters mais cobram das plataformas é exatamente termos um tipo de remuneração por trazermos ouvintes”, disse.
Uma alternativa viável para monetizar o conteúdo, segundo ele, é estabelecer parcerias com marcas em troca de divulgação dentro do programa, criar campanhas de financiamento coletivo em sites como Apoia.se ou recorrer a plataformas vizinhas que já contam com recursos de monetização com base em acessos — YouTube, por exemplo.
Outro meio para obter dinheiro é pelo “serviço de assinatura” para podcasts. Neste caso, o ouvinte pode pagar um valor mensal para o programa favorito para obter acesso a conteúdo exclusivo. Apesar de ser um meio de monetização direto no app, a ferramenta gera ainda mais trabalho para o criador, que terá que manter não só o canal público com lançamentos recorrentes, como também o exclusivo para pagantes.