"Tsunami" nas nuvens de Vênus foi observado por mais de 100 dias
Por Danielle Cassita | Editado por Patricia Gnipper | 28 de Março de 2023 às 13h29
Após mais de 100 dias de observações, cientistas de diferentes universidades realizaram o primeiro estudo da evolução da descontinuidade das nuvens de Vênus. Ela é como um “tsunami” gigante atmosférico que se espalha pelas nuvens mais profundas do planeta, e parece ter papel significativo na aceleração da velocidade de movimento da atmosfera por lá.
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Para o estudo, eles trabalharam com dados de astrônomos amadores de diferentes países, somados a observações realizadas pela missão Venus Climate Orbiter, ou Akatsuki, no ano passado. Ela foi lançada em 2010 com destino a Vênus para estudar os padrões meteorológicos do planeta, confirmar a presença de raios nas nuvens por lá e buscar sinais de atividade vulcânica.
Os autores perceberam que a câmera ultravioleta da Akatsuki parece indicar que a descontinuidade é capaz de se propagar por algumas horas, por cerca de 70 quilômetros acima da superfície de Vênus. “Isso é surpreendente, porque até agora, a descontinuidade pareceu ‘presa’ nas nuvens mais profundas e nunca a observamos a uma altitude tão alta”, disse Javier Peralta, membro da missão.
Além disso, as imagens da missão indicam que a descontinuidade se propagou para as nuvens superiores do planeta, e pode ajudar os cientistas a entender o motivo da mudança. Normalmente, as regiões com ventos à mesma velocidade da onda atuam como barreiras de bloqueio; contudo, a velocidade dos ventos pode aumentar no topo das nuvens.
Quando isso acontece, a descontinuidade tenta se propagar indo das nuvens mais profundas para cima, mas encontra o obstáculo em seu caminho; ao fim, ela acaba se dissipando. Por isso, os pesquisadores ficaram surpresos ao descobrir que os ventos estavam estranhamente lentos no primeiro semestre de 2022.
A equipe notou ainda que, se os ventos ficam ainda mais lentos com a altitude, a descontinuidade acaba levando mais tempo para encontrar regiões tão rápidas quanto ela. Desta forma, a onda consegue se propagar até altitudes maiores.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Astronomy & Astrophysics.
Fonte: Astronomy & Astrophysics; Via: Eurekalert