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Por que Vênus é o segundo objeto mais brilhante do céu noturno?

Por| Editado por Patricia Gnipper | 15 de Julho de 2021 às 09h12

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Por que Vênus é o segundo objeto mais brilhante do céu noturno?
Por que Vênus é o segundo objeto mais brilhante do céu noturno?

O planeta Vênus tem alguns apelidos muito conhecidos, como “estrela d'alva” ou "estrela da tarde". Isso porque civilizações antigas pensavam haver duas estrelas aparecendo no céu, uma pela manhã e outra ao fim da tarde. No entanto, trata-se na verdade do mesmo objeto, o planeta considerado “irmão gêmeo” da Terra e o segundo objeto celeste mais brilhante do nosso céu, perdendo apenas para a Lua. Mas já se perguntou por que ele brilha tanto?

Um dos motivos mais notáveis — talvez o primeiro que podemos perceber ao olhar o planeta mais de perto — é que Vênus está completamente coberto por várias camadas de nuvens. Na Terra, as nuvens também são bastante reflexivas, mas nosso planeta está apenas parcialmente coberto por elas, de modo que alguém no espaço pode ver cerca de 50% de sua superfície. Em Vênus, não podemos ver sua superfície em momento algum, graças às suas nuvens.

As nuvens venusianas são feitas de ácido sulfúrico, e cobrem cerca de 20 km de altitude do planeta. Isso leva Vênus a temperaturas e pressão extremas. Na Terra, as nuvens aprisionam apenas cerca de 25% do calor em nosso planeta, mas em Vênus elas são responsáveis por mais de 90%. Portanto, o volume de nuvens desempenha papel fundamental tanto na temperatura de Vênus quanto no brilho visto na Terra.

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Por falar em temperatura, uma das curiosidades de Vênus é que faz muito mais calor por lá do que em Mercúrio — o planeta mais próximo do Sol, com 427 °C no lado iluminado e -180 °C na face noturna. Vênus, por sua vez, permanece consistentemente entre 440- 480 °C, ou seja, em todo o planeta faz sempre mais calor que qualquer parte de Mercúrio. Mais uma vez, isso ocorre por causa da atmosfera venusiana, que cria um efeito estufa estupendamente eficaz na retenção do calor.

Para se ter uma ideia, a superfície de Vênus está sempre quente o suficiente para derreter o chumbo, e justamente por isso é tão difícil enviar naves e sondas para investigar o planeta. As sondas mais bem-sucedidas duraram menos de 3 horas após tocar a superfície. Mas caso você se perca em Vênus, talvez haja alguma chance de sobreviver se conseguir chegar a 60 quilômetros acima do solo, pois nessa altitude o clima é curiosamente semelhante ao da Terra. O mesmo vale para a pressão atmosférica, e este é o motivo de alguns cientistas cogitarem a possibilidade da existência de formas de vida microbiana nas nuvens de lá.

Mesmo sem ter nenhum desses dados é possível confirmar que Vênus é o planeta mais reflexivo do Sistema Solar. Isso pode ser feito ao calcular o albedo, que é a quantidade de luz refletida em um objeto em comparação com uma superfície plana idealmente refletiva. Enquanto mundos como Mercúrio ou a mesmo Lua refletem apenas cerca de 11 a 14% da luz total que chega neles, Vênus reflete entre 75 e 84% da luz total. Os únicos corpos do Sistema Solar que superam esse nível de refletividade são luas cobertas de gelo, como Encélado, de Saturno.

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Há outros fatores que colaboram para que Vênus seja não apenas o mais reflexivo dos planetas em brilho absoluto, mas também o que aparece mais iluminado para nós (para entender bem a diferença basta lembrar que a Lua parece muito mais brilhante simplesmente por estar mais perto da Terra, mas em brilho absoluto perde para Vênus). Entre esses fatores está justamente a distância — Vênus às vezes fica bem pertinho de nós, apenas a 261 milhões de km de distância. Nenhum outro planeta chega tão perto.

Por causa dessa proximidade, podemos ver até mesmo as fases de Vênus, assim como as fases da Lua. Com um telescópio simples, você pode observar o planeta diariamente e conferir as fases completas. Aliás, quando Vênus passa em frente ao Sol (do nosso ponto de vista), a luz solar parece fazer uma curva em torno da borda do planeta, e foi assim que os astrônomos tiveram o primeiro indício de que Vênus possui uma atmosfera. O mesmo não ocorre com Mercúrio.

Graças a essa descoberta, os pesquisadores puderam também medir o conteúdo dessa atmosfera, ou melhor, as moléculas presentes por lá. É que quando a luz solar atravessa a atmosfera venusiana e chega até nós, ela deixa no planeta vizinho algumas linhas de determinados comprimentos de onda. Isso ocorre porque cada tipo de molécula consegue absorver um pouco da luz, e os cientistas podem medir quais são os comprimentos de onda absorvidos. Tendo essa informação em mãos, basta conferir quais são as moléculas capazes de “remover” aquelas linhas específicas.

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Essa técnica é chamada espectroscopia de trânsito e, embora o conceito seja um pouco mais antigo, foi demonstrada na prática pela primeira vez durante o trânsito de Vênus em 2004. Desde então, essa se tornou a principal técnica usada para descobrir a composição de atmosferas de mundos que orbitam outras estrelas distantes do Sol. Agora, sempre que você conseguir identificar nosso “planeta gêmeo”, saberá por que ele aparece tão brilhante em nosso céu noturno e por que ele é tão precioso para a astronomia.

Fonte: Starts With a Bang