Bebida sideral: empresa da França prepara vodca com meteorito
Por Danielle Cassita | Editado por Luciana Zaramela | 19 de Junho de 2024 às 06h00
![N. Bartmann, ESO/M. Kornmesser, S. Brunier, N. Risinger](https://t.ctcdn.com.br/Z-V5Ad7DLVWFcBTBfOVWIg9vDVs=/640x360/smart/i690176.png)
A francesa Pegasus Distillerie criou uma vodca especial — ou, melhor dizendo, espacial. Não, não estamos falando de ingredientes da Dinamite Pangalática, drink apresentado em O Guia do Mochileiro das Galáxias, do escritor britânico Douglas Adams, mas sim do destilado produzido pela empresa a partir da infusão do meteorito Huntsman (b). Encontrado em 1977 em Nebraska (EUA), o objeto parece ter caído na Terra em 1910 e é do tipo condrito.
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Isso significa que Huntsman (b) pertence à classe dos meteoritos rochosos mais comuns e é feito principalmente de minerais de silicatos. Ele tem cor escura e crosta de fusão (uma camada de vidro formada conforme o meteorito é queimado pela fricção com o ar) irregular, e seu interior contém pedacinhos de ferro e níquel.
A Terra é atingida por quase 50 toneladas de meteoros e meteoritos todos os dias, mas como a maioria deles é queimada na atmosfera, passam despercebidos. Já Huntsman (b) parece ter vindo para nosso planeta naquele ano porque, na época, ele foi encontrado a alguns quilômetros de outro objeto.
Para os astrônomos, ambos são pedaços de uma única rocha espacial que acabou queimada ao atravessar a atmosfera. Independentemente das suas origens ou data de chegada, é certo que Huntsman (b) chegou às mãos de Maxime Girardin, fundador da Pegasus Distillerie, que decidiu em 2021 que gostaria de tentar algo diferente.
![Amostras de meteorito do tipo condrito carbonáceo (Imagem: Reprodução/SETI Institute/NASA Ames)](https://t.ctcdn.com.br/epbIx_SfvtAd_da3UpxkxfainWk=/660x0/smart/i443955.jpeg)
Inspirado por sua paixão pelo céu noturno nascida durante um período de voluntariado na África do Sul, Girardin percebeu que gostaria de dar um toque espacial às receitas da empresa e adquiriu o ingrediente — que, no caso, era o meteorito Huntsman (b). Depois, a vodca Shooting Star foi envelhecida em ânfora, um tipo de pote de barro poroso tradicional da Itália.
A ideia era que o oxigênio penetrasse o objeto e atuasse como um aglutinante entre a vodca e os minerais do meteorito. “De alguma forma, ele desperta uma área especial em sua língua. Ele fica em sua língua por minutos e minutos", comentou Vincent Girardin, pai de Maximine. "Na verdade, não é apenas o sabor. A sensação na boca é uma experiência própria", acrescentou.
E, afinal, é realmente seguro beber ou comer um meteorito? Bem, para geólogos, o consumo inusitado não deve oferecer grandes riscos. Apesar de o objeto ter recebido radiação no espaço, tanto as rochas no nosso planeta e até nossos corpos também têm suas respectivas doses radioativas.
Por exemplo, considere as bananas: o potássio delas as torna levemente radioativas, mas mesmo assim é seguro comê-las. "Suspeito que um condrito comum seja muito menos letal do que outras coisas encontradas na vodca", brincou Randy Korotev, geoquímico lunar aposentado da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.