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O que são os Elseworlds nos quadrinhos da DC e como eles vão chegar aos cinemas?

Por| Editado por Jones Oliveira | 07 de Fevereiro de 2023 às 09h00

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Um das principais novidades apresentadas por James Gunn e Peter Safran para o novo Universo Cinematográfico da DC (DCU, na sigla em inglês) é que nem todos os filmes de heróis da Warner vão se passar na mesma cronologia. Embora todas as atenções estejam voltadas para Superman: Legado e até para o longa do Authority, os chefes do DC Studios explicaram que projetos como The Batman: Parte 2 e Coringa 2: Folie à Deux vão ficar fora da continuidade, mas sob o selo Elseworlds.

O nome pode soar estranho para boa parte do público, mas ele é bastante conhecido pelos leitores de quadrinhos. Na verdade, o próprio conceito de histórias fechadas e não relacionadas à cronologia principal é algo que o cinema vai pegar emprestado das HQs.

Por isso mesmo, a chegada dos Elseworlds ao DCU é uma solução muito criativa e inteligente para solucionar um problema que vinha intrigando muita gente. E, ao mesmo tempo, a ideia abre as portas para que o novo Universo da DC tenha muito mais liberdade para brincar e testar coisas novas. Se seguir a lógica dos gibis, pode ser uma nova fábrica de clássicos.

O clássico Cavaleiro das Trevas é uma dessas realidades alternativas da DC (Imagem: Reprodução/DC Comics)
O clássico Cavaleiro das Trevas é uma dessas realidades alternativas da DC (Imagem: Reprodução/DC Comics)

O que são os Elseworlds

O selo Elseworlds não é mais usado pela DC já há alguns anos, mas a linha foi por um bom tempo um belo celeiro de ideias para explorar possibilidades para seus principais heróis sem se preocupar com a continuidade das histórias. Eram, basicamente, publicações autocontidas que exploravam realidades bem distintas daquelas que o leitor estava acostumado a ver.

A descrição presente em boa parte dessas revistas traduz bem o espírito da coisa:

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"Em Elseworlds, os heróis são retirados dos seus cenários habituais e colocados em locais e épocas diferentes. Locais e épocas que existiram ou que poderiam ter existido... ou que não podem, não poderiam nem deveriam existir. Trata-se de um exercício de imaginação cujo objetivo é subverter o contexto normal dos personagens. O resultado final é uma colecção de histórias que faz com que os heróis, que são conhecidos como o Ontem, sejam tão inéditos como Amanhã”.

E se você viu uma semelhança com o What If…? (O Que Aconteceria Se…) da Marvel, acertou — ainda que em partes. As duas iniciativas editoriais serviram para que que autores pudessem testar os conceitos mais malucos possíveis, seja com o Homem-Aranha mantendo seus seis braços ou o Superman crescendo na União Soviética ao invés de Smallville. Só que há uma diferença crucial entre os dois selos.

Ao trazer histórias mais sérias, os Elseworlds rapidamente viraram clássicos (Imagem: Reprodução/DC Comics)
Ao trazer histórias mais sérias, os Elseworlds rapidamente viraram clássicos (Imagem: Reprodução/DC Comics)

No caso da Marvel, o O Que Aconteceria Se… nunca escondeu sua vocação para ser uma brincadeira com o conceito dos personagens ou mesmo com acontecimentos importantes de sua história. Por isso mesmo, as coisas sempre tendiam para um absurdo ou mesmo para um cômico calcado no bizarro.

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Já na DC, por outro lado, os Elseworlds exploravam tramas bem mais sérias e aprofundadas sem esse descompromisso de ser algo efêmero e banal. Tanto que, na grande maioria das vezes, as histórias contavam com equipes criativas de renome e eram publicadas em edições especiais e até de luxo nas bancas. Não por acaso, muitas delas são clássicos dos quadrinhos até hoje.

Direto do Túnel do Tempo

O maior exemplo disso é justamente o quadrinho que dá origem ao termo Elseworlds. Em 1989, a DC publicou uma HQ que tirava o Batman de seu universo regular e o colocava em uma Londres do século 19 usando toda sua perspicácia que lhe é característica para caçar Jack, o Estripador.

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O primeiro Elseworld da DC levava o Batman para caçar Jack, o Estripador (Imagem: Divulgação/DC Comics)
O primeiro Elseworld da DC levava o Batman para caçar Jack, o Estripador (Imagem: Divulgação/DC Comics)

Batizada de Batman: Gotham 1989 (Batman: Gotham by Gaslight, no original), a HQ fez tanto sucesso que se tornou um clássico instantâneo. E, curiosamente, ela não carregava o nome Elseworlds em momento algum. O título só passou a ser apresentado a partir de 1991, com a publicação de Batman: Terror Sagrado (Batman: Holy Terror).

Ainda assim, a própria DC passou a considerar Gotham 1989 seu primeiro Elseworlds — e passou a carregar o selo após ter sido republicado — pois era o gibi que sintetizava toda a ideia. Ele trazia o herói que todo mundo conhecia, mas não nas mesmas condições de sempre. Ao invés de ser um bilionário do fim dos anos 1980, víamos esse Bruce Wayne como um londrino que usa toda sua habilidade de vigilante mascarado para desenvolver um novo tipo de história.

No Brasil, Elseworlds virou Túnel do Tempo (Imagem: Reprodução/Editora Abril)
No Brasil, Elseworlds virou Túnel do Tempo (Imagem: Reprodução/Editora Abril)
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O engraçado é que a ideia pegou tanta gente de surpresa que até mesmo as editoras que publicaram a HQ não souberam ao certo como lidar. No Brasil, a editora Abril traduziu Elseworlds como Túnel do Tempo com base nessa ideia de “um Batman do passado”, embora o conceito não fosse exatamente esse. Outras editoras que também trabalharam com a DC por aqui, como a Pandora Books e a Brainstorm chamaram, respectivamente, de Multiverso e Realidade Alternativa.

Criando clássicos

Embora os Elseworlds tenham levado a fama de serem as realidades alternativas da DC, devemos dizer que a editora já brincava com esse conceito há muito mais tempo. Assim como na Marvel, ela também publicava edições que brincavam com mundos fora da sua cronologia de forma descompromissada desde a década de 1940.

Por muito tempo, essas publicações levavam o título de Histórias Imaginárias (Imaginary Stories) — como se qualquer história não fosse imaginária — e seguiam a mesma lógica do What If…? de brincar com o absurdo.

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Reino do Amanhã é um dos Elseworlds mais aclamados até hoje (Imagem: Reprodução/DC Comics)
Reino do Amanhã é um dos Elseworlds mais aclamados até hoje (Imagem: Reprodução/DC Comics)

No geral, a Era de Prata explorou esse tipo de conceito à exaustão nos anos 1960. Eram roteiros bem bobos, como quando Jimmy Olsen se casa com a Supergirl ou imagina o que aconteceria se o Superman caísse em Marte e não na Terra.

O que os Elseworlds fazem a partir de 1989 é dar um novo verniz a essas reimaginações de personagens. Sem as amarras da cronologia, os autores tinham liberdade de explorar conceitos que a continuidade não permitia e mostrar novas facetas dos heróis, assim como discutir temas bem mais variados.

Por essa razão, os Elseworlds passaram a virar grandes celeiros de clássicos da DC. O próprio Batman: Gotham 1989 é um exemplo disso, mas não foi o único. Superman: Entre a Foice e o Martelo é celebrada até hoje como uma das grandes HQs do Homem de Aço e mostra uma versão do herói em que ele cai na União Soviética e se torna um soldado comunista ao invés do Escoteirão que conhecemos.

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O Superman comunista de Entre a Foice e o Martelo é um dos Elseworlds mais populares (Imagem: Reprodução/DC Comics)
O Superman comunista de Entre a Foice e o Martelo é um dos Elseworlds mais populares (Imagem: Reprodução/DC Comics)

Outras histórias que foram publicadas dentro do Túnel do Tempo são a celebradíssima Reino do Amanhã, que mostra uma realidade em que os heróis clássicos sumiram e há apenas uma nova legião de mascarados violentos e opressores, e a influente Batman: Cavaleiro das Trevas.

E, como não poderia deixar de ser, muita coisa que apareceu nos Elseworlds acabou sendo incorporada em algum momento pela cronologia. Originalmente, Batman: O Filho do Demônio pertencia ao selo e trazia uma história em que Bruce Wayne se envolvia com a assassina Talia al Ghul e tinha um filho com ela. Anos mais tarde, o conceito foi inserido com a chegada de Damian Wayne — que está prestes a fazer sua estreia no cinema.

Os Elseworlds no cinema

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Pelo que James Gunn e Peter Safran explicaram, a ideia de trazer os Elseworlds para o DCU é muito mais uma solução para evitar conflitos de cronologia e de confusão com o público do que algo aos moldes do que a Marvel fez com What If…?. Assim, pense menos em multiverso e veja isso muito mais como produtos diferentes.

É claro que podemos ser surpreendidos no futuro com o Batman de Robert Pattinson sendo confrontado por Amanda Waller (Viola Davis), mas o que foi apresentado até aqui não sugere nada nesse sentido.

E essa é uma saída bem interessante pelo mesmo motivo que os Elseworlds deram tão certo nos quadrinhos: liberdade criativa. Embora a gente adora ver esse universo coeso e uma cronologia contínua de filme para filme, esse é o pesadelo de qualquer roteirista e diretor que quer ter controle sobre sua história, seus personagens e os rumos que tudo isso vai tomar. Assim, criar um mundo compartilhado se torna uma dor de cabeça que o Túnel do Tempo pode ajudar a resolver.

Isso permite que James Gunn possa seguir com seu DCU e apresentar um Batman pai de família tendo que lidar com um Damian descontrolado enquanto, ao mesmo tempo, Matt Reeves expande o seu Batverso com essa pegada mais sombria e série que vimos em The Batman.

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Os Elseworlds provaram nos quadrinhos que essas diferentes visões podem coexistir no mercado e esse pode ser o grande trunfo da Warner e da DC em relação à Marvel. Em um momento em que as pessoas estão cada vez mais cansadas da obrigação de ver dezenas de filmes e série para assistir a uma estreia, oferecer uma alternativa mais contida pode ser uma bela solução.