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Como o carro popular pode voltar ao Brasil?

Por| Editado por Jones Oliveira | 16 de Abril de 2023 às 08h00

Felipe Ribeiro/ Canaltech
Felipe Ribeiro/ Canaltech
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Os carros estão cada vez mais caros no Brasil e isso não é novidade. A pandemia da covid-19 mudou completamente o mercado, já que a produção foi diretamente afetada pela falta de componentes e mazelas econômicas decorrentes das medidas restritivas da época. Entramos em um mundo do qual dificilmente sairemos.

No entanto, o executivo da que hoje é a maior montadora do Brasil, a Stellantis, trouxe de volta um tema que há algum tempo estava adormecido: o do carro popular. Esse tipo de veículo, morto no Brasil há um bom tempo, pode estar na pauta das empresas e entidades que comandam o setor automotivo.

O executivo em questão é o italiano Antonio Filosa, presidente da Stellantis para a América Latina. Em declarações recentes, o executivo abordou a possibilidade de que o Brasil poderia ter novamente modelos populares, mas que uma série de fatores teriam que ocorrer.

O Fiat Mobi já não pode mais ser chamado de carro popular (Imagem: Divulgação/Stellantis)
O Fiat Mobi já não pode mais ser chamado de carro popular (Imagem: Divulgação/Stellantis)

A principal delas seria um incentivo governamental, ou seja, um movimento do governo para reduzir impostos, obrigatoriedades de construção e abertura de crédito para que esse carro popular saia do papel. Segundo Filosa, as montadoras se interessariam caso o cenário fosse esse.

Mas será que isso é mesmo possível? Vamos especular.

Carros pelados?

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A equação para se formar o preço do carro também passa pelo que ele entrega. Para quem vivenciou os anos 1980 e 1990, os carros populares da época eram muito básicos, por vezes até sem o retrovisor do lado direito. Tudo custa na produção de um veículo e isso, claro, é repassado ao consumidor.

Atualmente, modelos de entrada no Brasil já saem de fábrica com um pacote razoável de equipamentos, muito em função de obrigatoriedades. Por exemplo: itens como freios ABS e os dois airbags frontais hoje são de série em todos os carros fabricados ou vendidos no Brasil. Mas vamos além.

O VW Polo Track foi uma tentativa da Volkswagen de ter seu carro popular. Mas ele custa R$ 80 mil (Imagem: Divulgação/Volkswagen)
O VW Polo Track foi uma tentativa da Volkswagen de ter seu carro popular. Mas ele custa R$ 80 mil (Imagem: Divulgação/Volkswagen)

Mesmo modelos de entrada dos hatches compactos saem de fábrica com ar-condicionado, direção elétrica e vidros elétricos. Dependendo do modelo, há também rádio com Bluetooth, vidros elétricos, controles de estabilidade e tração a até assistente de partida em rampa.

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Segundo Filosa, o Governo precisaria diminuir algumas dessas obrigatoriedades, mas sem que as montadoras tornassem esses carros menos seguros. A conta, porém, pode não fechar. Em breve, recursos como luz de condução diurna e os já citados controles de estabilidade e tração também serão obrigatórios.

Como criar um carro popular sem esses equipamentos? A resposta pode estar na criação de uma categoria nova, com veículos até menores do que o Fiat Mobi ou o Renault Kwid, e que possam ser bons meios de transporte.

Muito imposto, muita ganância?

Se você circular pela internet, vai ver muitos comentários sobre impostos e sobre "ganância" das montadoras. A equação para se criar um preço passa pela vontade do governo em buscar arrecadação de algumas maneiras e das empresas em ter lucro. Não há um horizonte tão favorável para mudar esse cenário.

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O Citroën C3 parte de R$ 68 mil. É um preço interessante no atual mercado (Imagem: Divulgação/Stellantis)
O Citroën C3 parte de R$ 68 mil. É um preço interessante no atual mercado (Imagem: Divulgação/Stellantis)

A nova administração federal tem claramente uma visão de arrecadação com aumento de impostos e taxações. Não vamos entrar no mérito disso e nem temos a pretensão de fazer uma análise macroeconômica, mas como pedir para que impostos sejam retirados se há um movimento justamente em outra direção?

Sobre as montadoras, a estratégia é muito clara: investir em modelos mais caros para ampliar a margem de lucro, já que carros mais baratos custam caro para serem produzidos hoje e não dão o mesmo retorno. Teria que haver um enorme aumento no volume. Essa, aliás, é a visão de Filosa.

"Nós não somos filantropos. Temos interesse econômico na escolha do etanol como motriz da eletrificação no Brasil, mas também enxergamos as vantagens para todo o mercado. No caso dos carros populares, há mais ramificações que precisam ser vistas. Todos têm que conversar", disse o executivo, em coletiva recente em São Paulo.

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Versões topo de gama do Chevrolet Onix passam de R$ 100 mil (Imagem: Divulgação/General Motors)
Versões topo de gama do Chevrolet Onix passam de R$ 100 mil (Imagem: Divulgação/General Motors)

O mercado entende que a Fenabrave (Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores) pode liderar esse movimento, já que representa as concessionárias e distribuidores, um dos maiores interessados em mais volume de vendas. Pelo lado das montadoras, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) terá de coordenar as empresas e convencê-las de que o melhor caminho é o de lançar modelos mais baratos.

Não tem como fugir. Sem uma diminuição significativa dos impostos e uma readequação da margem de lucro, esse carro popular pode nem ir para o papel. Vale lembrar que o preço de um carro 0KM no Brasil tem perto de 50% de imposto, segundo a Receita Federal.

O que seria o novo carro popular?

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Imaginando que tudo convergisse para a criação de um carro popular, como ele seria? Se a ideia é ter um certo nível de conforto, economia de combustível e segurança, ele teria que, necessariamente, ser 1.0 e com porte semelhante aos subcompatos de hoje: Mobi e Kwid. Mas e se a conta não fechar?

Modelos de apenas dois lugares são comuns na Europa (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)
Modelos de apenas dois lugares são comuns na Europa (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)

Talvez a solução seja de criar carros ainda menores, com porte parecido com do Smart For Two, só que com bem menos requinte e tecnologia do que o modelo do grupo Mercedes-Benz possui.

Seja como for, esse assunto ainda vai muito longe e temos que tomar cuidado com as emoções. Não existe almoço grátis e a criação de modelos realmente populares depende muito mais de fatores macroeconômicos e de cadeia de produção do que somente de canetadas.

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Nos resta esperar.