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EUA acena com crédito para operadoras brasileiras que não usarem Huawei no 5G

Por| 20 de Outubro de 2020 às 19h35

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Rubens Eishima/Canaltech
Rubens Eishima/Canaltech
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E a guerra EUA vs. Huawei continua. Agora, o governo norte-americano está usando agências oficiais para oferecer linhas de crédito para as operadoras brasileiras que comprarem equipamentos para sua infraestrutura 5G de outras marcas que não sejam as da fabricante chinesa. As informações são do jornal Folha de São Paulo.

O objetivo do governo Trump é fazer com que Vivo, Claro e TIM adquiram tais equipamentos de fornecedores como Ericsson e Nokia. Para isso, os EUA querem usar a Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional (US DFC, na sigla em inglês), uma agência criada pelo mandatário norte-americano para dar suporte a objetivos geopolíticos estratégicos norte-americanos, para realizar as operações de crédito junto às operadoras.

Entre os produtos financeiros que poderiam ser oferecidos pela DFC - que teria uma carteira de US$ 60 bilhões disponíveis para empréstimos - para as empresas brasileiras interessadas em comprar novas tecnologias, estão o equity (aporte direto) e financiamento. Em junho, Todd Chapman, embaixador dos EUA no Brasil, afirmara que o governo Trump já estava discutindo com o governo Bolsonaro a compra de equipamentos 5G tanto da Ericsson, quanto da Nokia.

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Ainda de acordo com a Folha, a DFC ainda não abordou as operadoras, mas alguns de seus executivos já foram consultados, ainda que informalmente, por intermediários que representam a agência norte-americana.

Linha de crédito não seria vantajosa

Para as operadoras, no entanto, os financiamentos oferecidos pelo governo dos EUA para a compra de equipamentos 5G não apresentam grandes vantagens. Primeiro, porque boa parte da infraestrutura delas hoje, no Brasil, conta com componentes da Huawei - Nokia e Ericsson também. E realizar toda essa troca por equipamentos de outras marcas custaria muito mais do que o DFC teria disponível em sua carteira.

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Além disso, as condições de financiamento a serem oferecidas pela própria DFC não seriam das mais interessantes. Em conversa com a Folha, um executivo de uma das operadoras questionou:

“Você compraria um carro por R$ 100 mil financiado ou outro por R$ 40 mil à vista?”

Para completar o cenário, além de já estarem acostumadas em manusear equipamentos da Huawei, as operadoras do setor consideram os componentes da marca mais eficientes e com preços mais competitivos.

Bolsonaro considera proibir a Huawei de participar do 5G no Brasil?

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Essa possibilidade foi aventada em uma matéria do site da Bloomberg, divulgada no último dia 15 de outubro. Citando um membro sênior do gabinete do presidente - mantido em anonimato - a publicação afirma que Bolsonaro, a exemplo de Donald Trump, vê a China como uma ameaça global à privacidade e soberania de dados. A decisão definitiva ainda não foi tomada, até porque o mandatário brasileiro quer considerar opiniões de outros pessoas de seu staff, bem como de ministérios mais envolvidos com o assunto.

Outros funcionários expressaram opiniões mais pragmáticas sobre a China. O vice-presidente Hamilton Mourão e ministro da Ciência e Tecnologia Marcos Pontes defenderam um processo de licitação aberto e justo para escolher os construtores da rede 5G do Brasil. Já em julho desse ano, o ministro da Fazendo, Paulo Guedes, afirmou que seria interessante para o Brasil “deixar funcionar a competição” entre as fornecedoras de infraestrutura 5G. Guedes não repetiu as preocupações em vigor nos EUA com o uso de equipamentos da Huawei e atribuiu o problema à suspeição com relação à origem da COVID-19.

Risco de monopólio do 5G

Também no último dia 16 de outubro, o Canaltech conversou com uma fonte do setor de telecomunicação diretamente envolvida no tema e que pediu para manter o anonimato. Segundo o profissional, a saída da Huawei, o governo brasileiro ainda não se atentou para o impacto econômico que uma eventual saída da fabricante chinesa causaria ao país. "Atualmente, Huawei e Ericsson têm um duopólio no mercado de equipamentos que formam a infraestrutura de telecom no Brasil", afirmou. "Juntas, elas têm mais de 90% do mercado. A saída da Huawei criaria um monopólio, com um grande risco de controle de preços e um aumento nos valores desses equipamentos, o que impactaria as operadoras e, em última instância, os consumidores, já que parte desses custos, sem dúvida, seria repassado aos consumidores".

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Além disso, para essa mesma fonte, a saída da Huawei contraria o discurso liberal praticado por esse mesmo governo. "Quando pegamos o discurso econômico do governo, é um discurso liberal para tornar o ambiente mais propício ao investimento. Logo, banir a Huawei seria contraditório", declarou. "O sucesso do setor de telecom no Brasil é justamente por não ter a interferência do governo. Além disso, a Anatel regula o setor muito bem, usado a Lei Geral das Telecomunicações (LGT).

Para esse mesmo profissional, a solução passa não pelo banimento, mas sim pelo governo criar requisitos rígidos de segurança para os equipamentos da Huawei: "A escolha do fornecedor é um assunto de mercado. O governo deve criar níveis regulatórios que garantam a segurança dos equipamentos de infraestrutura, devidamente supervisionados pela Anatel".

Fonte: Folha de São Paulo