Vale a pena fazer consórcio para comprar celular?
Por Renan da Silva Dores • Editado por Léo Müller |

Apesar de ocuparem um espaço cada vez mais essencial no nosso cotidiano, os smartphones não são exatamente itens acessíveis. Mais do que isso, as opções mais avançadas disponíveis hoje já quebraram a barreira dos R$ 10 mil, exigindo um poder aquisitivo que não é norma no Brasil. É nesse cenário que o parcelamento via cartão de crédito e até consórcios têm ganhado espaço no país. Mas o que essas opções realmente oferecem? E vale a pena comprar celular com consórcio? É isso que o Canaltech investiga neste especial.
O que é o consórcio de celular?
Muitos devem associar o consórcio a casas ou carros, modalidades bastante populares nos últimos anos, mas com o aumento da importância dos celulares, esse formato de pagamento também ganhou espaço no mercado de smartphones, especialmente com o aumento dos preços desses dispositivos.
Para quem não lembra ou mesmo não conhece, o consórcio trabalha no conceito de reunir um grupo de pessoas (físicas ou jurídicas) para comprarem um bem que seriam incapazes de adquirir sozinhas — sejam casas, carros ou celulares. Os participantes pagam uma parcela mensal de mesmo valor, definido em contrato, que combinadas formará o fundo usado para a compra do item em questão.
Uma das maiores vantagens desse formato é não haver a necessidade de pagar uma entrada, mais comum na compra de imóveis e automóveis, nem a aplicação de juros sobre as parcelas, aspecto encontrado em outras formas de pagamento, especialmente em prazos longos. Há apenas uma taxa de administração, que já é embutida nas parcelas.
Por outro lado, a aquisição do bem não é feita de imediato — os participantes são sorteados gradualmente, recebendo então uma carta de crédito para comprarem o celular. Também há alguns contratos que integram uma espécie de leilão, permitindo a quem der o maior lance antecipar sua contemplação. É essencial ter isso em mente ao considerar participar de um consórcio.
Também é importante considerar situações extremas, como o caso do atraso das parcelas. Nessa ocasião em específico, além de acabar com o nome sujo, o cliente ainda fica sujeito a perder o crédito caso não normalize os pagamentos em um determinado período se ainda não foi contemplado pelo sorteio.
Já há uma boa variedade de consórcios de celular no Brasil, muitos deles vinculados a bancos, apesar de ser possível encontrar algumas opções diferenciadas. Estão entre os destaques o Compra Planejada, da Klubi, com planos de até 36 parcelas e pagamento via PIX, e o Consórcio Magalu, com parcelamento em até 48 vezes e carta de crédito que chega aos R$ 18 mil.
As alternativas ao consórcio
Quem ainda tem receio de se comprometer com um consórcio pode apostar em outras formas de pagamento conhecidas, ainda que também haja prós e contras em cada uma. A mais óbvia delas é o parcelamento com cartão de crédito.
Hoje é comum que grande parte do varejo ofereça parcelamento em 10 ou mesmo 12 vezes sem juros, com algumas exceções superando esse número caso você esteja disposto a obter o cartão da loja em que pretende comprar. Também é possível utilizar o PIX ou boleto bancário para realizar esse parcelamento, ainda que seja preciso verificar se a loja da compra aceita esse formato.
Comparado ao consórcio, o parcelamento garante o acesso instantâneo ao produto comprado, e não há riscos da perda do crédito e consequente impossibilidade da compra do celular no caso de haver atrasos. Por outro lado, o número máximo de parcelas é bem menor, e há diversas taxas aplicadas (incluindo IOF) que podem se tornar uma bola de neve se os atrasos acontecerem.
Outra opção é buscar um empréstimo ou financiamento (uma modalidade de empréstimo restrito a um objetivo), que também garantem o benefício de comprar o celular de imediato, já que o dinheiro necessário para a aquisição é geralmente depositado na conta escolhida na hora em que o contrato é fechado.
Dito isso, esse é um dos métodos que mais exigem cautela, já que juros sempre são aplicados, independente do número de parcelas. As taxas costumam variar de 1,8% a pouco mais de 2%, e acabam aumentando o valor que você pagará no final. É essencial colocar esses números na ponta do lápis para verificar se de fato essa é uma opção vantajosa para o seu caso.
Por fim, a escolha de longe mais segura é guardar uma quantia de dinheiro aos poucos, juntando-o para quitar o celular à vista. Há inclusive instituições que aplicam as reservas e fazem o dinheiro render a cada mês. No entanto, assim como o consórcio, é necessário esperar o acúmulo da quantia necessária para a compra, ainda que haja uma previsão mais precisa.
Independente do método de pagamento escolhido, sempre confira se a fabricante ou a loja do celular que você pretende comprar não oferece um programa de troca com descontos, em que é possível levar um celular ou outro dispositivo antigo para abater o valor final. Algumas soluções famosas do tipo incluem a Troca Smart da Samsung e o Buyback da iPlace, especializada em iPhones.
Simulando a compra
Para exemplificar os cenários de compra, vamos considerar dois dispositivos: o iPhone 15 Pro Max de 1 TB, e o Galaxy S24 Ultra, também de 1 TB. Listagens de lojas como o KaBuM! visitadas durante a produção deste especial indicam que, em média, o aparelho da Apple é vendido por R$ 9.499 à vista, ou R$ 11.180 parcelado, enquanto o celular da Samsung sai por R$ 8.990 à vista, e R$ 9.989 parcelado.
Tanto no consórcio, quanto no financiamento e no empréstimo, pagaríamos o valor à vista, enquanto o cartão de crédito levaria ao pagamento do valor mais alto parcelado. Assim sendo, vamos simular o valor de R$ 10 mil em consórcio na Compra Planejada da Klubi e em empréstimo no Nubank, junto ao pagamento via cartão.
Para o consórcio, é possível parcelá-lo entre 24 ou 36 vezes, mas há um impacto no valor total pago. Para 24 vezes de R$ 535,67, o consumidor terá de desembolsar R$ 12.856,08 (28% a mais que o valor da carta de crédito), enquanto as 36 vezes de R$ 396,78 eleva o total para R$ 14.289,08 (43% a mais que a carta de crédito). O salto não é tão drástico como em outros métodos, mas é importante ser considerado antes do contrato ser assinado.
Por sua vez, o empréstimo é a alternativa mais problemática em termos de juros. Ainda que seja possível pagá-lo em até 48 parcelas, as taxas crescem exponencialmente: para as 48 vezes, em parcelas de R$ 610,28, o valor total é de R$ 29.293,44, quase três vezes o valor oferecido.
Já para as 36 vezes, de R$ 659,56 por mês, será preciso desembolsar R$ 23.744,56, ou 2,4 vezes mais que o emprestado. Há um “alívio” se o parcelamento for feito em 10 vezes de R$ 1.346,15, que totalizam R$ 13.461,50, ou 35% a mais que o valor oferecido.
Por fim, usando o cartão de crédito no exemplo dado, é possível parcelar os telefones em até 10 vezes sem juros, mas pagando os valores de R$ 11.180 para o iPhone, e R$ 9.989 para o Galaxy. As parcelas ainda ficam salgadas (R$ 1.180 e R$ 998 por mês, respectivamente), mas não há surpresas se o pagamento for feito sem atrasos. É possível estender esse prazo para até 12 vezes, mas com o acréscimo de juros, que curiosamente estão entre os mais baixos, chegando a apenas 3% (R$ 290 a mais no iPhone, ou R$ 259 no Galaxy).
Também é bom lembrar que há lojas com descontos mais agressivos, que podem tornar alguns dos métodos mais atraente, em especial no caso de pagamento à vista ou no cartão em um número menor de parcelas.
Vale a pena fazer consórcio?
No fim das contas, o uso de consórcio para pagar o celular vale a pena caso você não tenha opção de parcelar no cartão de crédito ou não consiga juntar dinheiro para pagar à vista. Considerando vantagens como a ausência de juros e outras taxas crescentes, a possibilidade de um amplo número de parcelas e uma flexibilidade maior para quem não tem crédito no mercado, o consórcio acaba sendo mais econômico que um empréstimo.
Dito isso, é necessário ter muita paciência, já que a aquisição não será feita de forma imediata, além de cautela com os pagamentos e cálculos para garantir que você não está pagando um valor acima da média.
Levando isso em conta, o cartão de crédito pode ser a escolha mais segura no geral, por ser ágil e já oferecer parcelamento sem juros em quase todas as lojas, especialmente se você possuir limite suficiente e conseguir colocar as parcelas no orçamento mensal. O cartão também é de longe a melhor opção em casos de emergência, como na quebra do aparelho que você esteja usando.
Por fim, para evitar quaisquer dores de cabeça, juntar o dinheiro para pagar à vista ou no PIX é a escolha mais acertada, por encerrar a dívida de imediato e não envolver nenhuma taxa. Se você tiver a paciência de esperar, guardar as moedas é o caminho para fugir de problemas e ainda ter acesso a descontos, já que frequentemente as lojas oferecem entre 5% e 15% de redução do valor em pagamentos do tipo.