Apple proíbe personalização de produtos com expressões políticas na Ásia
Por Vinícius Moschen | Editado por Wallace Moté | 19 de Agosto de 2021 às 10h48
No ato de compra de um produto da Apple — como iPhones, iPads, Airpods ou Apple Pencil, entre outros — a marca traz uma opção em que o usuário escolhe uma palavra, frase ou símbolo para tornar o dispositivo único e original. Essa personalização é utilizada por muias pessoas que desejam colocar um contato em caso de perda do produto, escrever uma dedicatória para presente, evitar a confusão com aparelhos idênticos ou mesmo abaixar o risco de roubo, já que iPhones personalizados costumam ter menor preço de revenda e gerar menos atenção de ladrões.
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Porém, existe uma certa limitação relacionada ao conteúdo a ser escrito no dispotitivo: a Apple já costuma fazer um filtro contra palavras e expressões com caráter racista, vulgar ou outras violações de propriedade intelectual. Porém, de acordo com um artigo divulgado pelo CitizenLab, existem restrições adicionais em locais como a China, Hong Kong e Taiwan.
Proibições geram controvérsias
Entre as palavras censuradas na China, estão 政治 (política), 抵制 (resistir), 民主潮 (onda da democracia) e 人权 (direitos humanos). Nas AirTags, em que somente é possível gravar quatro caracteres, não é possível escrever a sequência 8964, uma referência conhecida do Massacre do 4 de Junho de 1989 (ou como consta no calendário local, 89-6-4), quando estudantes insatisfeitos com o governo foram protestar na Praça da Paz Celestial e acabaram sofrendo uma repressão violenta.
Em Hong Kong, as proibições incluem 雙普選 (sufrágio universal duplo, ou seja, voto universal para autoridades de cidades e também chefe de Estado), 雨伞革命 (Revolução dos Guarda-chuvas, em referência a protestos realizados em 2014), e 新聞自由 (liberdade de imprensa). Hong Kong é uma região administrativa da China com um certo caráter de independência e bandeira própria mas não possui autonomia completa, o que causa conflitos com parte de sua população.
Já em Taiwan, não é possível gravar carateres com referências a membros do Partido Comunista Chinês, como 孫春蘭 (Sun Chulan, vice-primeira-ministra da China) ou que fazem alusão a outros movimentos, como 法輪功 (Falun Gong, prática espiritual banida desde 1999). Ao contrário de Hong Kong, Taiwan é uma nação independente reconhecida pela comunidade global, mas não pelo governo chinês.
Segundo o CitizenLab, a censura da Apple tem como objetivo preservar a presença da marca na China, onde a gigante tem um quinto de suas receitas totais. A relação com o país está abalada após a recente divulgação de um sistema que checa o conteúdo dos iPhones para evitar o compartilhamento de fotos e vídeos de abuso sexual de crianças. Segundo críticos, o sistema pode se expandir e identificar outros conteúdos particulares e sensíveis por lá, como dissidências políticas.
Em resposta, a Apple diz que faz tais censuras em respeito às leis locais em vigência, e que a lista de palavras proibidas é distinta em cada país. No total, já foram registradas mais de 972 ocorrências de filtragem de personalizações de caráter político e social na China, 512 em Hong Kong e 367 em Taiwan.
Fonte: The Verge, CitizenLab