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Westworld: terceira temporada foge do padrão e começa bem linear

Por| 11 de Março de 2020 às 11h51

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HBO
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Westworld é confuso. Muito confuso. Qualquer fã da aclamada série de ficção científica da HBO vai confirmar isso. Apesar de sua história acontecer em um ritmo simples de seguir, pela ordem dos episódios, a narrativa da série adora pular no tempo, abordando o passado e o futuro como se fossem eventos consecutivos. Não são.

A terceira temporada de Westworld retorna após um hiato de dois anos, com estreia marcada para 15 de março. O Canaltech teve a oportunidade de, a convite da emissora, assistir ao primeiro episódio, e embora uma crítica inteira se desenvolva a seguir, não podemos deixar de ressaltar o quão fora dos próprios padrões foi a experiência.

O episódio serve para situar contextos ocorridos no mundo real, tirando do cenário a questão do parque temático de robôs onde humanos pagavam para fazer o que bem entendessem. A ideia aqui é óbvia: mostrar por onde andam os principais personagens — como Dolores Abernathy (Evan Rachel Wood) e Bernard Lowe (Jeffrey Wright) — ao mesmo tempo em que introduz novos nomes ao jogo, como Caleb Nichols (Aaron Paul).

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Paul, aliás, merece uns parágrafos à parte, tanto pelo lado bom como pelo lado ruim: é por meio do seu personagem que o espectador tem uma visão mais ampla de como está o mundo real em Westworld. Ambientada no futuro, obviamente a série introduz elementos que brincam com o imaginário das pessoas, como carros voadores e motocicletas autônomas, mas o “grosso” da sociedade continua igual — ou melhor, “desigual”. Suntuosas mansões servem de moradia para personagens mais ricos, enquanto a classe média e pobre continua tendo de brigar pelo seu pão diário.

Caleb não é diferente: trabalhando como instalador de fibra óptica de dia, mas com freelancers criminalmente mercenários à noite, Paul traz um empenho notável em mostrar um personagem que luta consigo mesmo, está em constante depressão e não sabe como seguir em frente com a própria vida. O problema: Caleb é duramente similar a Jesse Pinkman (personagem vivido por Paul em Breaking Bad), quando este se encontrava depressivo na segunda metade da série. Mudaram os nomes e os hábitos (Caleb não dá a entender que tenha hábito de consumir drogas de forma pesada ou dependente), mas as reações são quase sempre as mesmas. Apenas no final do episódio é que ele conta com uma epifania e toma uma decisão pela primeira vez sua.

Evan Rachel Wood continua dando um show à parte, agora exibindo uma Dolores bem mais confiante e segura de si. A própria reconhece que ainda tem muito a aprender sobre o mundo real, porém isso não a incomoda, fazendo com que ela execute seus objetivos com perspicácia e frieza incomuns — e muito bem-vindas. O mesmo pode ser dito de Jeffrey Wright, já que, do pouco que vemos Bernard no episódio, ele agora se encontra em constante estado de fuga e, mesmo sendo um androide, ainda busca manter resquícios de uma humanidade por outros esquecida. Essa dualidade é bem explorada pela (falta de) expressão emocional do ator, sinalizando que, algumas vezes, o androide vence (ou o humano se deixa vencer, quem sabe?).

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O restante, porém, segue um ritmo bastante linear de ocorrências, com a manipulação de alguns personagens secundários em posições de poder, de modo que eles passem a agir de forma errática, imprevisível ao público. Aqui, vale um destaque para Tommy Flanagan (o “Chibs” de Sons of Anarchy), que mesmo repetindo seu característico mote de “segurança perigoso e proficiente em combate”, se destaca na hora em que seu personagem entra em uma situação em que ele deve se impor aos seus senhores. Ele é um favorito pessoal, admito, mas Flanagan realmente vai muito bem nesse início.

O mais interessante nesse primeiro episódio é o empenho da produção em mostrar que, apesar do tom incrivelmente futurista, o visual do mundo humano em Westworld é apenas isso, um deleite visual. Aprofundando-se nos detalhes, ele não é muito diferente do que já vivemos hoje. Conexões online o tempo todo, monitoradas por provedores de serviços, são utilizadas pelas pessoas on the go: Caleb Nichols pega seus “frilas” por meio de um app de smartphone (alô, GetNinjas), Dorothy controla uma moto remotamente e também é vista em uma aeronave sem piloto (uma alusão à direção autônoma implementada pela Tesla em seus carros e pesquisada por empresas como Waymo e Apple). É engraçado como Westworld tenta esconder isso debaixo de um plano visual tão transparente. É como se a série quisesse que nós percebêssemos esses detalhes.

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De uma forma geral, esse primeiro episódio da terceira temporada de Westworld — apesar de suas diferenças de condução em relação ao que veio antes — faz um bom trabalho em estabelecer um pano de fundo mais contemporâneo. Funcionou para atiçar a curiosidade para saber quais rumos que a série vai tomar daqui para frente.

Valem citar duas coisas: a terceira temporada será mais curta, contando com oito episódios com média de 80 minutos cada. E se você gostou de Outsider, outra produção exibida na HBO, fique até depois dos créditos. Há cenas importantes depois que os nomes terminam de rolar.