Crítica Parasyte: The Grey | Uma luta um tanto corrida pela coexistência
Por André Mello • Editado por Durval Ramos |
Parasyte, o mangá criado por Hitoshi Iwaaki, é uma história que mistura horror, ficção científica, humor ácido e discussões filosóficas. Por outro lado, Parasyte: The Grey, spin-off dirigido por Yeon Sang-ho (Invasão Zumbi) que acaba de chegar à Netflix, é uma história de ação com toques de horror e ficção científica, que tenta ser um pouco mais profunda do que realmente consegue ser.
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Fazer essa diferenciação logo de cara entre mangá e spin-off live-action ajuda bastante a entender o que você pode assistir na Netflix e como cada obra funciona. A produção que chegou ao streaming oferece uma experiência um pouco diferente da obra original — que também já foi adaptada em anime e filme — funciona muito bem sozinha, mas é sensível como precisava de mais tempo para realmente se tornar brilhante.
A desgraça vem dos céus
Os primeiros momentos de Parasyte: The Grey dão o tom do resto da série. Enquanto questionamentos sobre o que a humanidade estaria disposta a fazer para perdurar, vemos pequenas criaturas caírem do céu e chegando até uma cidade da Coreia do Sul. Um show em um estádio lotado é o primeiro local de uma infecção de um parasita que toma conta do corpo de um dos presentes.
A cena da revelação do monstro é impactante e violenta, mostrando alguns dos momentos em que os efeitos especiais são realmente efetivos durante a série. Tudo é muito sério e sem brechas para leveza, algo que se estende à apresentação da personagem principal, Su-in, interpretada por Jeon So-nee (Soulmate).
Ela é uma caixa de supermercado que é ameaçada por um cliente perturbado e perseguida após o trabalho. Após o homem jogar o carro em cima dela, a persegue com uma faca, em uma cena bastante violenta.
Su-in consegue se salvar apenas com a chegada de um dos parasitas, que entra em seu corpo, mas gasta tempo e energia demais tentando curá-lo dos seus ferimentos. Por conta disso, Su-in e o alienígena Heidi não se integram totalmente, virando uma espécie de mutante nesse novo mundo, cada um mantendo sua própria consciência, mas dividindo o corpo.
Isso faz de Su-in um alvo para outros infectados e para humanos em busca dos alienígenas, já que ela passa a ser rejeitada pelos dois grupos. A série ainda traz outros dois personagens centrais para a trama, um jovem criminoso que busca sua irmã desaparecida e uma agente criminal que lidera uma força-tarefa para acabar com os invasores de corpos.
Isso tudo acontece já no primeiro episódio de Parasyte: The Grey. Parece pouco, mas o ritmo da série é bastante rápido e com saltos de tempo que acabam tornando alguns acontecimentos um pouco vazios.
Durante todo o período de formação da força-tarefa,tudo é desenvolvido de forma muito apressada, de modo que é até difícil se conectar com as tramas que são desenvolvidas, seja sobre a real identidade de Seoul Kang-woo, o criminoso em busca de sua irmã, ou mesmo orelacionamento de Su-in com Heidi. As coisas simplesmente vão acontecendo e o espectador precisa aceitar que boa parte desse desenvolvimento aconteceu em algum momento que o diretor optou em não mostrar.
Cada um dos seis episódios da temporada da série passa essa sensação de que há muita coisa para mostrar, mas escolhe deixar trechos para trás, apenas mencionando-os para conseguir entregar a ideia geral da história. Isso não chega a deixar o seriado ruim, até porque ele está longe disso, mas parece que ele não tem tanta força quanto poderia.
Até mesmo suas cenas de ação, que são bem interessantes, acabam se tornando apenas momentos violentos para agitar a trama.
Os verdadeiros parasitas
Algo que Parasyte: The Grey tem em comum com a obra original é como aborda a ideia de parasitas alienígenas e como eles são próximos dos seres humanos. Enquanto o mangá e anime buscam levantar questões filosóficas sobre os sentimentos da raça humana quando não está mais no topo da cadeia alimentar, a série da Netflix coloca seus olhos sobre a sociedade e organizações como religião e corporativismo, e como essas estruturas dominam a humanidade.
A história original também traz um questionamento sobre coexistência com outras espécies e como os humanos praticamente não conseguem sobreviver sem prejudicar alguma coisa. Já a série da Netflix leva a trama para outro tipo de questionamento, mais voltado para a questão de comunidades e como figuras se deixam levar pela fome de poder, se tornando tão parasitas quanto os invasores alienígenas.
É aqui que a série mostra o seu valor, pois ao colocar essas ideias, mesmo embaixo de uma trama de ficção científica e cenas de ação mirabolantes com uma moça com um negócio saindo de sua cara, ela faz o espectador pensar sobre a sociedade em um geral.
Confesso que os questionamentos feitos na obra original me são mais certeiros que os do live action, mas ambas as abordagens são bastante válidas. No fim das contas, Parasyte: The Grey acerta mais do que erra, ainda que não seja tão impactante quanto a obra do qual se origina.
Seu maior problema é ser corrido demais, o que acaba prejudicando no desenvolvimento de personagens e situações, que parecem insuficientes frente ao que nos foi apresentado. Mais do que isso, essa pressa afeta também a profundidade que o seu discurso poderia alcançar. Ainda funciona, mas você percebe que o potencial não foi alcançado de verdade. Tudo isso pode ser resolvido em uma possível segunda temporada e, se os criadores seguirem os planos que apresentam no último episódio, as coisas podem ficar realmente interessantes.
Parasyte: The Grey está disponível na Netflix.