Crítica | Lupin traz história divertida de "ladrão do bem" que só quer justiça
Por Natalie Rosa |
Títulos como La Casa de Papel, produção original da Netflix, nos fizeram ter uma certa afeição por ladrões — considerando que isso não seja algo que vem de décadas atrás por meio de personagens como Robin Hood. Gostamos de ver ladrões em ação, ao menos na ficção, quando é por um bem maior, seja em forma de protesto contra o sistema ou para vingar alguma questão pessoal.
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A premissa de "ladrão bonzinho" junto à simpatia natural e cativante de Omar Sy vem fazendo com que a série Lupin, também original da plataforma de streaming, conquistasse as primeiras colocações entre os títulos mais assistidos. Na série, que se passa na França, acompanhamos a vida do carismático Assane Diop, um ladrão que orquestra um grande roubo de uma joia no Museu do Louvre como forma de se vingar pela morte do pai, que foi vítima de um esquema sujo comandado pelos grandes e corruptos, e também descobrir exatamente o que fizeram com ele e como funcionou esse plano cruel.
O que torna Lupin uma série mais agradável e divertida é o fato de que a ação de Diop é baseada nas aventuras de um personagem de um romance francês de 1847, um ladrão que se veste como um cavalheiro, com uma capa, cartola e um monóculo, e que é capaz de se disfarçar de forma brilhante de qualquer pessoa. Esse mestre dos disfarces usa o seu talento para conduzir roubos sob diferentes identidades, inspirando o protagonista da série a fazer o mesmo, desde que herdou o livro do seu pai.
Atenção: esta crítica contém spoilers da primeira parte de Lupin!
Lupin, que estreou na Netflix em apenas uma parte com cinco episódios, mostra desde o primeiro episódio o motivo de estar entre os títulos mais assistidos do Brasil. Além do carisma natural já citado do ator, que carrega em seu currículo trabalhos como dublador, roteirista e até humorista, e filmes como Jurassic World: O Mundo Perdido e Os Intocáveis, a série conquista pela facilidade do personagem em se transformar em outras pessoas. Inclusive, demora algum tempo para que o espectador mesmo descubra qual é a real personalidade e como é a vida de Diop.
Com muita inteligência e, claro, esperteza, Diop consegue aplicar os ensinamentos do livro de Lupin com maestria, além de apresentar uma capacidade incrível de raciocínio rápido. A sua personalidade é misteriosa e ele é um homem tranquilo, o que é visto desde quando acontece a tragédia com o pai quando ele tinha apenas 14 anos e eram imigrantes do Senegal, o que naturalmente moldou o seu estilo de vida, que proporcionou facilidade para planejar o roubo e o que fazer com as possíveis consequências que o seu plano poderia trazer.
Devido a todo esse mistério natural do personagem, as reviravoltas da trama se tornam mais interessantes ainda, da mesma forma em que apresenta as situações de forma leve e descontraída. A série, apesar de contar com cenas que podem ser consideradas gatilho de suicídio por muitos, não apela para o grotesco simplesmente por falar sobre crimes e contar com pessoas criminosas. Todos os momentos acabam sendo fáceis de assistir, trazendo a leveza da esperança de que a justiça será feita, mesclada com um pouco de humor.
A calmaria presente no olhar de Diop mostra que as suas habilidades na hora de se transformar em outra pessoa são realmente admiráveis, com seus truques surpreendendo pela naturalidade na qual o personagem consegue enganar os outros, seja pela lábia e a capacidade de saber o que falar no momento certo, quanto pela linguagem corporal que em nenhum momento mostra uma falta de segurança naquilo que está fazendo.
Lupin, em apenas cinco episódios, conseguiu nos apresentar uma obra de roubo, investigação e justiça que cumpre muito bem o seu papel de divertir e entreter. A história, no entanto, ainda não chegou ao fim e muita coisa deve acontecer até que Diop consiga vingar a morte do pai. E, talvez, sossegar dessa vida agitada do "crime para o bem", para viver tranquilamente com a sua família, principalmente com o seu filho, que no último episódio passou a sofrer as consequências do plano do pai.
A segunda parte da série, felizmente, já está confirmada pela plataforma de streaming, tamanho o seu sucesso, mas ainda não há uma data de estreia. A primeira parte de Lupin está disponível na Netflix em cinco episódios.