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Crítica Frieren e a Jornada para o Além | Uma aventura apaixonante e melancólica

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Madhouse
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O que é a nossa vida se não um grande acúmulo de histórias e experiências? É a partir da mais pura filosofia de buteco que a gente começa a entender um pouco do mundo de Frieren e a Jornada para o Além, novo anime que chega à Crunchyroll com uma proposta um pouco diferente das animações convencionais. Isso porque, ao invés de se focar na ação ou na parte aventuresca de seu universo, o título usa essa ambientação bastante conhecida para refletir sobre a própria experiência humana.

Baseado no mangá de Kanehito Yamada e Tsukasa Abe, a trama começa justamente do ponto que se convencionou a ser o fim da história — o momento em que um grupo de heróis derrota o Rei Demônio e o mundo passa a viver em paz. Diante dessa realidade, o que resta para aqueles que sempre viveram de aventuras?

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É a partir disso que somos apresentados à protagonista Frieren. Por ser uma elfa, a maga tem uma vida praticamente imortal e, por isso, a sua percepção de tempo é bem diferente a de seus companheiros humanos. Enquanto, para eles, a aventura que se estendeu por mais de dez anos foi algo determinante em suas vidas, a feiticeira vê esse mesmo período como algo banal, um nada diante de sua existência quase milenar.

E é a partir da morte desses velhos aliados que a personagem passa a perceber não só a efemeridade da vida humana, mas também como ela própria nunca se conectou de verdade às pessoas à sua volta. E é na sua jornada para ressignificar suas próprias memórias e se tornar um indivíduo mais empático é que o anime se torna uma das maiores surpresas da temporada.

O que nos torna humanos

Essa discussão sobre o que nos torna humanos e o que faz a vida realmente valer a pena é mesmo a grande força de Frieren e a Jornada para o Além. E os quatro primeiros episódios a que tivemos acesso mostram bem como a trama consegue estabelecer esse tom quase melancólico na aventura de autodescoberta da protagonista sem cair no piegas e no melodrama exagerado.

A escolha da personagem como essa elfa e de toda a temática fantástica do RPG é mais do que acertada para levantar o tema em meio ao lúdico de uma aventura clássica. A ideia de um elfo distante da humanidade é algo até recorrente na ficção, mas o anime faz um ótimo trabalho ao trazer uma heroína interessada em criar essas conexões ao perceber o tempo perdido em sua vida imortal.

Para além da descrição quase poética dessa percepção toda, o anime costura muito bem passado e presente para nos colocar dentro da cabeça e dos sentimentos de Frieren. Ainda que a personagem não seja muito de falar e parte da própria narrativa acompanhe o olhar de seu aprendiz, a humana Fren, o modo como a história faz esse vai e vem dos fatos é suficiente para nos dar a completa noção de como a maga se sente e o que ela busca em cada uma de suas missões aparentemente sem propósito.

Como dito, o grande ponto é justamente essa ressignificação de memórias. Frieren e a Jornada para o Além acerta ao não adotar um roteiro simplista de colocar essa protagonista percebendo que estava vivendo de forma errada e querendo experimentar um pouco dessa humanidade. Pelo contrário, ela viaja nas suas próprias recordações para entender e conhecer melhor aqueles companheiros que viajaram ao seu lado décadas atrás e que, agora, são apenas lembranças — e é esse olhar para o passado que a torna alguém melhor no presente.

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Assim, ainda que os quatro primeiros episódios sejam apenas o início dessa jornada, é muito prazeroso acompanhar e entender melhor tanto os sentimentos atuais da personagem como ver como cada uma dessas memórias ganha novos significados à medida que ela se aproxima das pessoas e se deixa tocar por elas — uma mensagem que diz muito sobre o nosso mundo e nossos estilos de vida.

No seu ritmo

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Um ponto muito importante a notar em Frieren e a Jornada para o Além é o ritmo da narrativa. Para quem espera algo mais acelerado como em boa parte dos animes atuais — principalmente os shounen —, é melhor ir com calma.

Até por causa da própria temática, a animação é bem mais lenta e, por vezes, adota até mesmo um tom bastante contemplativo. É algo que pode incomodar os mais ansiosos, mas que faz bastante sentido e que ajuda a nos conectar com a própria Frieren e o seu modo de ver o mundo.

E é algo que funciona demais. Tanto que, já no primeiro episódio, você já compra todo o tom emocional do anime e entende perfeitamente a personalidade de Frieren pelo simples modo como a história é contada. Ao mesmo tempo, quando a gente passa a conhecer mais de sua aprendiz e como Fren é alguém muito mais imediatista e ansiosa que a mestra, esse conflito de ritmos vira algo que serve tanto para o alívio cômico como para mostrar a força dessa diferença de percepção do tempo e de suas experiências.

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Outro ponto que pesa muito a favor dessa coisa um pouco mais lenta é o próprio estilo da animação. A Madhouse traz uma arte muito bonita e detalhada que valoriza esse olhar mais calmo e sereno para as coisas — ao contrário de um traço mais ágil e dinâmico, como visto em animes mais de ação. Assim, por mais que às vezes você queira que as coisas avancem um pouco mais, o próprio traço faz questão de lembrá-lo qual a ideia por trás de tudo.

Ainda assim, parece certo que esse ritmo mais lento não deve ser a regra ao longo de toda a temporada. Esses quatro episódios funcionam quase como um grande prólogo para a história de verdade, que é quando a real jornada de Frieren e Fren deve começar de fato. Tanto que a explicação para o título — Jornada para o Além — só aparece no final deste quarto capítulo.

Contudo, mesmo que as coisas se acelerem um pouco, esse tom que conversa bastante com o espírito da protagonista é algo que deve ser mantido em maior ou menor escala — e que só mostra o quanto o estúdio entendeu perfeitamente a proposta do anime.

Uma jornada em si mesmo

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Por tudo isso, Frieren e a Jornada para o Além é uma das estreias mais interessantes da atual temporada de animes. Ele é bem diferente da grande maioria das produções que chegam ao streaming e, sem abandonar o clima aventuresco e todas as características que fazem uma excelente animação, traz uma história que vai além da simples diversão. É uma jornada que realmente nos faz refletir e pensar sobre as nossas próprias conexões e como encaramos as nossas memórias.

É interessante ver como essa protagonista aparentemente apática consegue se revelar tão carismática em tão pouco tempo. É divertido ver sua evolução e a dinâmica com Fren — que também se transforma bastante ao longo dos episódios — apenas deixa tudo mais rico e interessante.

Em um momento em que nós mesmo parecemos perder um pouco dessa conexão com o mundo e as pessoas, mergulhado em trabalho e no mundo de telas, a fantasia de Frieren e a Jornada para o Além vem para nos lembrar das memórias e das experiências que realmente importam. A função da ficção é justamente nos dar esse chacoalhão de vez em quando.

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Frieren e a Jornada para o Além chega à CrunchyRoll no dia 29 de setembro.