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O que é um anime shounen?

Por  • Editado por Jones Oliveira | 

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Reprodução/Sueisha
Reprodução/Sueisha

Você pode ter assistido a meia dúzia de animes em toda a sua vida, mas certamente conseguiu identificar algumas similaridades entre eles. A história do herói improvável que precisa se provar com muita determinação, o poder escondido que nem ele sabia que tinha, o grupo de amigos que se forma à sua volta e o inimigo que se torna aliado são apenas algumas das estruturas que compõem um bom shounen. Mas o que é um anime shounen?

De forma bem simples, um anime shounen (ou shonen, como também é chamado) é aquele desenho feito para meninos — até porque shounen significa literalmente isso em japonês. Trata-se do estilo mais comum das animações nipônicas, com histórias voltadas para garotos entre os 12 e 18 anos e engloba quase tudo o que a gente viu sendo exibido aqui no Brasil, de Cavaleiros do Zodíaco e YuYu Hakusho a Naruto e One Piece.

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É por essa razão que essas aventuras se tornam bastante parecidas, com o protagonista sendo um menino dessa faixa etária tendo que lidar com os desafios comuns à adolescência e à juventude, mas quase sempre ganhando alguma representação mágica ou fantástica. Assim, Naruto, Goku, Luffy, Seiya, Deku e Tanjiro são personificação desse público-alvo. Não por acaso, a principal revista em que esses mangás são publicados se chama Shounen Jump.

É claro que essa classificação baseada no gênero é algo que não faz muito sentido hoje em dia — afinal, quantas meninas não são fãs de Naruto ou Demon Slayer, por exemplo? —, mas ela é algo que vem justamente dos mangás e que é anterior à publicação de muitos desses quadrinhos. Essa divisão surge no próprio mercado editorial japonês que, no final do século XIX, já trazia revistas voltadas para meninos (shounen) e meninas (shoujo), e é bem parecido com o que temos aqui no Ocidente. A partir disso, essa ideia foi levada para os mangás e os animes herdaram a nomenclatura.

Um estilo, diferentes gêneros

Ao mesmo tempo, é impossível traçar um denominador comum para o que é um anime shounen padrão. São tantas opções que a gente logo percebe que ele é muito mais um estilo do que um gênero e que se subdivide em diferentes categorias de acordo com o tipo de história que é apresentada. É quase como um guarda-chuva que abriga diferentes tipos de anime.

O mais comum deles é o que ficou popularmente conhecido como shounen de lutinha. Como o próprio nome sugere, é a clássica história do herói que precisa se provar para o mundo na base da porrada. E as razões para isso são diversas: ou ele é um pária em sua sociedade e quer mostrar seu valor (Naruto e Black Clover), quer se tornar o maior e melhor guerreiro que o mundo já viu (One Piece e Shaman King) ou é apenas alguém que luta por paz e justiça e a briga vai atrás dele (Samurai X, YuYu Hakusho). Tem até anime que traz tudo isso misturado, que é o caso de Dragon Ball.

Ao mesmo tempo, temos animes shounen que deixam de lado as lutas e os poderes especiais para focar em gêneros mais específicos. É o caso das histórias esportivas, que seguem a mesma fórmula de todo shounen, mas trocando os socos e chutes por partidas de futebol, vôlei, natação e até ping-pong.

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E por mais diferente que esses animes sejam de um Naruto da vida, a estrutura ainda é bastante parecida. Em Haikyu!!, por exemplo, a gente acompanha o protagonista que é baixinho demais e, por isso, ninguém acredita que ele é capaz de jogar vôlei. Ainda assim, ele decide entrar em um time para mostrar que toda a sua força de vontade e dedicação são capazes de superar a baixa estatura.

Algo parecido acontece com o clássico Slam Dunk, que é quase como um YuYu Hakusho de basquete: o protagonista é um delinquente juvenil que não leva a vida a sério, até que acaba entrando no time da escola para impressionar uma menina. Embora não leve jeito e nem mesmo goste do esporte, ele logo cria uma rivalidade com alguém que é realmente bom e, com isso, começa a criar gosto pelo esporte e a melhorar continuamente. A diferença entre o protagonista Sakuragi e Yusuke Urameshi é que o primeiro não precisou morrer para passar por esse processo.

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Há ainda aqueles animes em que esse herói é levado para um outro mundo — os isekai, como Digimon Adventures e Sword Art Online — ou que retratam o dia a dia do protagonista, puxando mais para a comédia e às vezes até para o romance. É nessa mistura que acabam surgindo os chamados shounen de harém, em que o protagonista acaba sendo disputado por várias meninas, como em Love Hina.

Ao mesmo tempo, temos alguns shounen que são um pouco mais maduros e que trazem histórias que conseguem ser um pouco mais profundas que a maioria, mas sem entrar em uma abordagem mais adulta. Death Note e Attack on Titan são belos exemplos disso, com histórias bem focadas no duelo psicológico entre seus protagonistas ou na conspiração política de seu mundo e fugindo bastante dos clichês do gênero.

O que está por trás de um shounen clássico

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Apesar de todas as diferenças e de um ou outro anime acabar fugindo à regra, um shounen tem um estilo bem claro. Por terem histórias voltadas a um público-alvo bem desenhado, as mensagens e as narrativas acabam sendo as mesmas, mudando apenas a roupagem dada a elas.

Independentemente de estarmos falando de FullMetal Alchemist, One Piece, Demon Slayer, Boruto ou Dragon Ball, esse herói que precisa se provar para o mundo e enfrentar diversos desafios que aparentam ser impossíveis de serem vencidos é algo que vai ressoar muito com esse público que ainda está se desenvolvendo como indivíduo. É o tipo de mensagem universal, mas que faz muito sentido dentro da cultura oriental de que você precisa dar o melhor de si, ter disciplina e se esforçar em tudo o que for fazer.

E da mesma forma com que esses animes replicam o modo de pensar de um país, alguns shounens também traduzem suas frustrações. Alguns animes de sucessos mais recentes passaram a apresentar um estilo de trama que até então não era tão comum: a viagem no tempo. Histórias como as de Erased e Tokyo Revengers mostram o herói tendo uma vida adulta medíocre e, por alguma razão, acaba voltando ao tempo de infância com a possibilidade de mudar o rumo das coisas — o que pode ser lido justamente como reflexo de uma geração de autores que aparenta estar frustrada com a atual situação do Japão (ou mesmo do mundo) e que expressa nos mangás e animes essa vontade de fazer as coisas diferentes no passado.