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Crítica | Dinheiro Fácil: A Série explora violência urbana e crime organizado

Por| Editado por Jones Oliveira | 14 de Abril de 2021 às 09h09

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Não é de hoje que o crime organizado, a violência urbana e a atividade ilícita rendem boas produções na cultura pop. Em um mundo politicamente correto, a premiada Breaking Bad e a biográfica Narcos com certeza não existiriam, bem como as franquias campeãs de bilheteria e com a sequência de cenas bombásticas em câmera lenta (vulgo Velozes e Furiosos, a farofa que adoramos amar em segredo). Acontece que, recentemente, o cinema e as produções para a televisão e o streaming estão cada vez mais próximos da realidade ao retratar histórias, e trazer essas questões para tela em 2021 já vem com um aviso prévio bem claro: haverá violência.

Em Òlòtūré, por exemplo, o diretor Kenneth Gyang não poupou o espectador ao mostrar a dura realidade da vida nas ruas de garotas de programa em 100 minutos do longa nigeriano. 120 Dias de Sodoma, longa de Pier Paolo Pasolini, o cineasta leva o público à cidade italiana de Saló, mostrando uma série de torturas realizadas por quatro líderes fascistas em jovens. A nova série da Netflix, Dinheiro Fácil, viaja à Suécia numa realidade em que o crime organizado, que inicialmente surgiu na periferia, já toma conta de grandes cidades como Malmo, Gotemburgo e Estocolmo, a capital onde foi gravada.

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Atenção! A partir daqui o texto pode conter spoilers sobre a série. Leia por sua conta e risco.

É na correria que Dinheiro Fácil começa justamente para mostrar a quem assiste o ritmo da vida dos três arcos principais que serão retratados em tela, sobretudo o de Leya (Evin Ahmad), cujo desenvolvimento é a mais interessante de se acompanhar. A personagem é mãe solteira e aspirante a empreendedora no ramo da tecnologia, fundando sua própria startup e determinada a fazer o impossível para seu negócio dar certo. No entanto, os "bicos" para o restaurante em que trabalha como garçonete não são o suficiente para juntar o dinheiro que precisa, o que a faz recorrer ao cunhado traficante de drogas e pegar um empréstimo.

Em paralelo, o espectador é apresentado a Salim (Alexander Abdallah) e Tim (Ali Alarik), dois personagens que eventualmente terão suas histórias cruzadas à de Leya e também um com o outro. O primeiro leva uma vida similar a de um assassino de aluguel ao mesmo tempo que obedece à gangue liderada por Rayv (Dada Fungula Bozela), mas o jeito, rosto e expressões angelicais o mascaram da encrenca que Leya se meterá a partir do momento em que se envolve com o rapaz. Já Tim tem apenas quinze anos e foi aos poucos sendo introduzido à vida do crime, incentivado por um motivo apenas: ganhar muito dinheiro em pouco tempo e sem muito esforço.

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Talvez o mais interessante na experiência em assistir Dinheiro Fácil: A Série é como os diretores Jesper Ganslandt e Måns Månsson usam e abusam do fôlego e físico da equipe de produção. Isso porque a maioria das cenas (principalmente as de ação e violência) são gravadas com as câmeras à mão, o que embora possa parecer um ato amador ou de pouco orçamento, passa a ser proposital justamente para inserir o público na cena e sentir o coração batendo junto aos personagens — seja por falta de ar após uma fuga a pé, o momento de tensão diante de alguém prestes a puxar o gatilho ou as cenas que mostram as negociações e diálogos dos traficantes, como o espectador fosse um mero intruso observando tudo sobre o ombro dos protagonistas.

A forma como o roteiro de Oskar Söderlund costura os arcos de Leya, Salim e Tim uns aos outros ao desenrolar da trama, de forma fluida e orgânica, e outro ponto que cativa a quem assiste. Sem perceber, os personagens se veem como não só parte da vida um dos outros, mas também testemunhas de seus próprios atos — enquanto o espectador possui um local de observador, e conforme a história evolui, possui a sensação de que já sabia do que estava por vir.

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Quanto à duração, Dinheiro Fácil: A Série foi feita sob medida para os assinantes confusos que procuram algo rápido no catálogo e assistirem de uma só vez. A série conta com seis episódios de até 45 minutos (o primeiro sendo uma exceção e tendo quase uma hora de duração) e não depende diretamente do filme homônimo lançado em 2010, cuja história acabou se desdobrando para mais dois títulos em 2012 e 2013 e transformando-se numa trilogia. A franquia é originada do livro escrito pelo autor sueco Jens Lapidus, mas cuja produção da Netflix não depende da história tanto literária quanto cinematográfica, o que pode ser apenas um adicional para os curiosos que maratonaram os seis capítulos e ainda querem mais.

Dura e explícita, Dinheiro Fácil não se preocupa em disfarçar o choque de diferentes vivências que hoje toma conta da Suécia, com personagens falando tanto em sueco quanto em inglês — e cuja multicultura acaba concentrando-se e também sendo distribuída pela personagem de Evin Ahmad, que consegue entregar em tela a discrepância social em que Leya está inserida: seja como mãe; cunhada de um traficante ou dona de uma startup de tecnologia.

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Dinheiro Fácil: A Série pode precisar do play no segundo episódio para enfim cativar o espectador e então ser assistida de uma só vez, mas a experiência fervorosa e bicuda de sua trama faz a qualidade duvidosa de seu primeiro episódio ser esclarecida no restante. Indicada para quem tem estômago forte, a série está disponível na Netflix.