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Crítica | Diário de uma Futura Presidente e a trajetória do sucesso

Por| 21 de Janeiro de 2021 às 12h00

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Quando o Disney+ chegou ao Brasil, a maior parte dos assinantes resolveram desfrutar de obras clássicas que assistiam nas fitas cassetes ou na televisão fechada. De Branca de Neve e os Sete Anões (1937) a lançamentos mais recentes dos estúdios de animação, como Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (2020), o catálogo do streaming está repleto de memórias afetivas, mas como já adiantado pelos executivos da The Walt Disney Company, o foco agora é investir em cada vez mais conteúdos originais para a plataforma, colocando-a em concorrência direta com outros nomes gigantes do setor, como Netflix e Amazon Prime Video.

Entre esses títulos exclusivos, há produções que, embora estejam mais "escondidas" no catálogo, merecem atenção. Diário de uma Futura Presidente pode não ter sido derivada de uma franquia de sucesso, como High School Musical: O Musical: A Série, mas é digna de se apertar o play. A série segue o formato de sitcom, com dez episódios de até meia hora de duração e conta com grandes nomes do gênero na produção: criada e produzida por Ilana Peña, de Crazy Ex-Girlfriend, que também assina o roteiro ao lado de Hailey Chavez, roteirista de Superstore e Grown-ish.

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Atenção! A partir daqui o texto pode conter spoilers de Diário de uma Futura Presidente. Leia por sua conta e risco.

Diário de uma Futura Presidente já coloca o dedo na ferida nos minutos iniciais do primeiro episódio, apresentando a protagonista Elena Cañero-Reed como presidente dos Estados Unidos. Mulher e cubana, a personagem é interpretada por Gina Rodriguez (Jane the Virgin), que embora não possua tanto tempo de tela, está prestes a ter seu primeiro dia ocupando a cadeira mais importante do país. Antes de qualquer coisa, ela recebe um pacote confidencial de sua mãe, orientado rigorosamente para ser entregue em suas mãos: trata-se de seu diário de infância, em que narrou todos os acontecimentos de sua vida até aquele momento em questão.

A partir dali, o espectador é arremessado para o primeiro dia de aula de Elena (dessa vez interpretada pela revelação mirim Tess Romero) no Fundamental II e logo conhece a realidade da futura comandante da nação: de família cubana, a jovem de 12 anos perdeu o pai há pouco tempo e atualmente vive com seu irmão Bobby (Charlie Bushnell) e sua mãe, Gabi (Selenis Leyva, a Gloria em Orange is the new Black); juntos, a família lida não só com a ausência paterna, mas também com a realidade de ser descendente de Cuba e viver nos Estados Unidos, lembrando muito bem a dinâmica retratada em One Day at a Time (que, curiosamente, também tem um clipe de abertura semelhante), série cancelada pela Netflix que partia da mesma premissa, mas que agora possui um título que pode não substituir, mas ao menos ajudar a cicatrizar a perda da produção na plataforma concorrente.

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Diário de uma Futura Presidente leva os dois primeiros episódios para finalmente pegar embalo, mas depois acaba fluindo de forma divertida e leve. Com humor fácil e acessível, a série arrisca-se a mostrar a história de todos os personagens da vida de Elena, não se limitando a apenas desenvolver o arco protagonista, o que é um grande ponto positivo da produção: aproximando-os do público de uma forma que não dê outra alternativa aos espectadores a não ser se apegarem a eles. Retratando os típicos problemas e preocupações da adolescência como a rotina na escola, o círculo de amizades e chamar a atenção do garoto que gosta, os episódios apresentam as tradicionais problemáticas que serão resolvidas em menos de meia hora, mas também trabalha com uma narrativa longa, assemelhando-se a uma novela.

Além de pegar essas situações rotineiras da idade e criar humor pelo mais simples, Diário de uma Futura Presidente ainda explora, de forma acessível e praticamente didática, diversas questões de cunho social, racial e político (afinal, trata-se de uma biografia da próxima presidente dos Estados Unidos). Elena Cañero-Reed é uma garota inteligente, motivada e dedicada, disposta a arriscar qualquer coisa para atingir seus objetivos, mas que no desenrolar da série acaba aprendendo que o caminho ao poder exige humildade, sabedoria e principalmente paciência.

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A protagonista traz à tela diversos questionamentos que podem muito bem causarem reflexões num público de diversas idades, como em um dos episódios em que decide criar um abaixo-assinado para mudar o mascote da escola em que estuda, já que a figura homenageia um barão que ganhou a vida lucrando em cima de um trabalho mal pago exercido por mulheres. Esse tipo de assunto acaba sendo apresentado por outros personagens, como, por exemplo, por seu irmão Bobby, que sofre bullying no colégio por ter um sobrenome latino em outro episódio.

Diário de uma Futura Presidente não economiza na representatividade. Além de retratar uma família cubana, o que traz pessoas não-brancas nos papéis principais, a série ainda oferece não só um, mas vários personagens gays e lésbicas em diversas fases do processo de aceitação dentro da sociedade e da família, desde o conhecimento da própria sexualidade (acontecendo no meio da série) quanto numa situação já conjugal e com filhos. Todas essas situações são bonitas e interessantes de se acompanhar, o que coloca o título como uma boa surpresa do catálogo do Disney+ que, infelizmente, ainda não teve a devida atenção.

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Vale destacar também a atuação de Selenis Leyva como a mãe e chefe de família Gabi. Advogada e viúva, a personagem mostra ser muito mais do que um luto ambulante e uma simples estrangeira vivendo nos Estados Unidos. Sua presença na série tem importância desde o primeiro segundo da trama, já que entrega o diário em que tudo começou para a filha já na presidência, mas também acompanha o amadurecimento emocional diante de uma nova oportunidade de relacionamento e como conciliar essa nova vida com os filhos e o emprego.

Como se não bastasse, a série ainda traz diversas referências a títulos da cultura pop, sendo entregues ao espectador de forma divertida como easter eggs: desde uma jogada de câmera que lembra muito os encontros de Eric e os amigos em That '70s Show a uma breve, mas divertido comentário com o drama jurídico The Good Fight.

Diário de uma Futura Presidente pode não inventar a roda entre as produções de comédia, mas também não merece ser deixada de lado ao rodar o catálogo do Disney+. A série conta com dez episódios, visto que a season finale chegou no streaming na última sexta-feira (15) e a segunda temporada já foi encomendada pela empresa. Indicada para todas as idades, a trama promete quebrar tabus e sensibilizar, ensinar e explicar questões atuais, como machismo, racismo, xenofobia e descoberta da própria sexualidade, além de entregar uma história leve e divertida de ser acompanhada em poucas horas de maratona.