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Crítica Cangaço Novo | Série entrega um faroeste moderno e viciante

Por  • Editado por Jones Oliveira | 

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Prime Video
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Focado em entregar boas produções nacionais para os assinantes, o Prime Video lançou Cangaço Novo em agosto. A série de oito episódios atualiza a história do cangaço e ainda traz um enredo recheado de reviravoltas capaz de conquistar até aqueles que não gostam muito de ação.

A trama segue Ubaldo (Allan Souza Lima), um homem simples que trabalhava como contador em um banco em São Paulo, mas que é demitido e fica sem saber como vai cuidar do pai adotivo que está doente. Pensando nisso, ele decide viajar até Cratará, uma cidade no interior do Ceará, onde conhece suas duas irmãs — Dinorá (Alice Carvalho) e Dilvânia — e vai atrás da sua herança: um terreno no local.

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Sua semelhança física com o pai biológico falecido, o cangaceiro Amaro Vaqueiro, chama atenção da população, que logo o transforma na grande novidade da cidade, mas Dinorá não se rende aos seus encantos e o coloca para fora da casa. Com muitas reviravoltas e uma trama bem amarrada, Cangaço Novo avança sem dificuldade pelos capítulos, que, apesar de grandes, não causam tédio.

Ubaldo, o anti-herói com pinta de galã, rapidamente entra para o bando e, claro, faz jus ao sobrenome Vaqueiro, se tornando um líder da gangue. Sua trama bebe da água da história de Lampião, o maior (e verdadeiro) cangaceiro do Brasil, e de Valdetário Carneiro, nome responsável pelo movimento do novo cangaço que surgiu na década de 1990. Apesar disso, o texto não é uma simples adaptação da vida desses dois homens, e sim uma história nova com frescor e cheia de personalidade.

Na série, tanto a trama central (o cangaço), quanto as paralelas (a política local, a corrupção e o impacto da seca) são bem desenvolvidas. Além disso, o enredo ainda estimula no espectador uma discussão sobre o que é o cangaço de verdade e qual sua importância no Brasil.

Isso porque, assim que Ubaldo entra para o bando, ele começa a questionar os métodos dos cangaceiros, e o fato de eles roubarem dos pobres e não apenas os bancos. Além disso, põe em cheque algumas práticas amorais cometidas pelos demais.

Toda essa história é contada tendo como pano de fundo um cenário espetacular e genérico que representa grande parte das cidades do Nordeste brasileiro. A escolha dos diretores Aly Muritiba e Fábio Mendonça em usar o cenário a favor da história, transformando rochas e pedras em muros contra tiros, e os cactos no retrato da seca do sertão foi, certamente, um grande acerto.

Quanto à fotografia, apesar do sol estar sempre presente, a iluminação não é alegre e vibrante, beirando mais os tons de cinza para mostrar as desgraças e mazelas vividas pelo povo da cidade. Vale comentar que toda a fotografia e ambientação carrega referências à obra Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, ícone do cinema novo.

Elenco impecável e acertos nos sotaques

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Apesar de ter um enredo primoroso, Cangaço Novo só ganhou a força que tem porque foi encenada por um elenco de peso predominantemente nordestino. Allan, o protagonista, dá vida a um personagem que oscila entre o ódio, a mágoa e a dor de ver o pai adotivo morrendo pouco a pouco. O ator também dá vida ao doce e meigo Frei João na novela da Globo, Amor Perfeito, o que só comprova sua versatilidade em encarnar personagens tão distintos e excelentes.

Ele também viveu um dos irmãos Cravinhos (o Cristian) nos filmes A Menina Que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais, de 2021. Para dar vida a Ubaldo, o ator passou por uma preparação intensa e se isolou no sertão por oito meses. O resultado foi uma depressão (já curada) e uma performance espetacular vista em cena.

Outra que também se destaca é Alice Carvalho. A atriz que vive a Dinorá fica tão grande em cena que é a câmera que tem que se ajustar à ela, e não o contrário. Bruta e hostil, ela é o retrato da matuta que nunca saiu de Cratará e que se tornou dura com o tempo. Apesar disso, com o passar dos episódios suas emoções são mais exploradas, e a jovem que explodia tanto para fora com socos e cuspes, se torna uma mulher que olha pra dentro e sofre a morte do homem amado.

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Completam o time ainda Thainá Duarte como Dilvânia, uma mulher que ficou muda devido aos traumas sofridos, mas que mesmo sem dizer uma palavra consegue transmitir toda a dor que sua personagem carrega; Ricardo Blat e Luiz Carlos Vasconcelos, veteranos que não fazem feio em cena; Marcela Cartaxo, Rafael Losso e Hermila Guedes.

Vale ressaltar que ao contrário do que acontece em muitas novelas e filmes, em Cangaço Novo a preparação de elenco foi espetacular e cada personagem incorporou muito bem o sotaque que lhe foi atribuido. Apesar de todos serem nordestinos, fica fácil notar os sotaques de diferentes partes da região. A série teve o cuidado de não encarar o Nordeste como uma massa só e, sim, retratá-lo de maneira singular.

A problemática passagem de tempo

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Como nem tudo são flores, Cangaço Novo também erra em alguns pontos, o principal deles é na passagem de tempo. Se a série acerta ao iniciar com imagens em preto e branco para contextualizar o espectador do que aconteceu no passado, o mesmo não acontece com a linha do tempo, que é mal trabalhada.

Em um determinado momento Ubaldo está em Cratará, logo depois aparece em São Paulo, e isso parece simples demais, como se sair do interior do Ceará para chegar até a capital paulista de ônibus fosse tarefa fácil. Outras falhas semelhantes acontecem ao longo da narrativa, e é algo totalmente perceptível, mas que ainda assim consegue ser superado pela excelência da obra.

Continuando nos erros, no entanto, há alguns pontos que foram mal desenvolvidos no texto como o verdadeiro passado de Ubaldo, a história por trás da sua adoção, e também o crime de abuso sexual que as irmãs Vaqueiro sofreram. Espera-se que esses tópicos sejam melhor trabalhados na próxima temporada, que ainda que não tenha sido confirmada pelo Prime, deverá acontecer logo já que a primeira deixa um gancho importante para novos episódios.

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Por fim, quem quiser dar uma chance a Cangaço Novo não irá se decepcionar. A trama bem amarrada, a direção cuidadosa e o elenco afiado fazem da série uma ótima adição do Prime Video. Lembrando que os oito episódios já estão disponíveis no streaming da Amazon.