Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

Quem é Eugene Kaspersky? | Grandes nomes da cibersegurança

Por| Editado por Claudio Yuge | 19 de Março de 2023 às 14h00

Link copiado!

Divulgação/Kaspersky
Divulgação/Kaspersky
Tudo sobre Kaspersky

Entre as empresas de cibersegurança que levam o nome de seus fundadores, a Kaspersky é uma das mais tradicionais do ramo. É, também, uma das poucas que ainda possuem o homem por trás da marca ativamente em seus rincões, gerenciando a companhia e sendo o rosto de eventos, anúncios e relatórios. Eugene Kaspersky segue à frente dos negócios, sendo também um dos principais estudiosos do uso da tecnologia em operações de guerra digital, com algumas polêmicas nesse sentido para chamar de suas.

Hoje um dos principais nomes quando o assunto é cibersegurança, a Kaspersky fornece softwares para smartphones e computadores de usuários finais, além de sistemas de proteção corporativa de dispositivos e plataformas de inteligência de ameaças. Um exemplo dessa força é o fato de a companhia ser a tricampeã do Prêmio Canaltech entre os melhores serviços do ramo, uma categoria que é decidida pelo voto popular.

Continua após a publicidade

Fora dos softwares e dos sistemas de proteção, Eugene Kaspersky também é um dos principais apoiadores de um tratado internacional que proíba os ataques digitais financiados por governos. Desde a década de 2010, o especialista já falava sobre o perigo de golpes digitais contra infraestruturas e serviços essenciais enquanto apoia uma ideia de regulamentação da internet, baseada em identidade e controle de acesso, que recebe críticas sobre seus alinhamentos políticos e possíveis quebras na privacidade dos usuários.

Do serviço secreto aos vírus

A simplificação é o nome pelo qual Yevgeny Valentinovich Kaspersky é conhecido. Nascido em 1965 na União Soviética, em uma cidade próxima à capital Moscou, ele demonstrou interesse por matemática e programação desde muito jovem, muito por influência do pai, que era engenheiro. Entre prêmios de excelência na disciplina e passagens por escolas focadas no ensino dos números, ele ingressou aos 16 anos na Escola Superior da KGB, como era chamado o Serviço Secreto do bloco soviético e uma das principais instituições preparatórias de agentes de inteligência para o país.

Continua após a publicidade

Formado em 1987, ele passou a trabalhar como engenheiro de software para o governo soviético. Dois anos depois, como em tantas outras histórias de especialistas em cibersegurança, o interesse pelo setor surgiu pelo contato direto com um dos primeiros vírus a surgirem no segmento. O Cascade foi uma das primeiras ameaças consideráveis a se espalharem principalmente pela Europa, e como tal, se tornou objeto de estudo da União Soviética, com Kaspersky se tornando um dos responsáveis por entender como a praga funciona e poderia ser removida de um computador.

Enquanto seguia seu trabalho oficial, o especialista começou a desenvolver um antivírus como um hobby que se tornou sua profissão em 1991, quando foi dispensado do serviço militar. Ele passou a trabalhar para uma empresa chamada KAMI que, em 1992, lançou a ferramenta rebatizada como Antiviral Toolkit Pro, focada nos mercados da Ucrânia e da Rússia. O sucesso comercial, assim como um prêmio recebido pela Universidade de Hamburgo, na Alemanha, fez com que o aplicativo ganhasse a atenção do mundo, principalmente de empresas nos Estados Unidos.

Foi assim que nasceu o Kaspersky Lab, que em 1997, tinha Eugene como diretor de pesquisas e sua então esposa, Natalya Kaspersky, como CEO. O sucesso não demorou a vir, com a disseminação do vírus CIH (também conhecido como Chernobyl) assustando usuários de todo o mundo por seu poder de destruição da BIOS dos computadores; o antivírus da marca era o único capaz de identificar ou neutralizar uma contaminação naquele momento, além de ser o pioneiro em recursos que hoje são comuns, como a quarentena para arquivos contaminados.

Continua após a publicidade

A empresa com 13 funcionários em 1997 chegou a 2000 com 65 trabalhadores e um crescimento anual de 280% no faturamento. Na virada do milênio, era lançada também a primeira versão do Kaspersky Antivirus, nome usado até hoje, enquanto o fundador e diretor de pesquisa seguia no estudo de novas variantes de praga e participava de conferências em que divulgava seus achados e os próprios produtos, acabando por ser reconhecido como um dos principais especialistas em segurança digital do mundo.

Hoje, a empresa alega ter a maior e mais completa coleção de vírus e ameaças em cibersegurança, com seus produtos sendo capazes de identificar e impedir ataques a partir de mais de 500 milhões de programas maliciosos. A Kaspersky tem negócios em mais de 200 países e 34 escritórios regionais, além de mais de 400 milhões de usuários.

Duro de Matar e o “início” da guerra digital

Enquanto trabalhava com usuários finais, o interesse de Eugene Kaspersky também se voltava à proteção corporativa e, principalmente, à ameaça do terrorismo digital, que considerava vindoura. Em meio a tais estudos, ele fundou o GReAT (Time Global de Pesquisa e Análise por Experts, na sigla em inglês), que existe até hoje, mas no início, era orientado a não falar publicamente sobre as ameaças de cunho geopolítico como forma de não incentivar quadrilhas a trabalharem nesse sentido.

Continua após a publicidade

Tudo mudou, porém, em 2007, quando foi lançado o filme Duro de Matar 4.0. O longa de ação trazia o personagem clássico de John McClane (Bruce Willis) na missão de proteger um hacker que, sem saber, colaborou com um grupo terrorista no lançamento de um ataque cibernético contra a infraestrutura dos Estados Unidos, atingindo desde o sistema de transportes até o mercado de ações. Para Kaspersky, o que antes era uma tendência estava prestes a se tornar realidade com uma ajudinha de Hollywood.

Três anos depois, a previsão se tornava realidade com o lançamento do vírus Stuxnet contra centrais de enriquecimento de urânio usadas pelo Irã. Foi o primeiro malware criado com foco em sistemas industriais e escrito especificamente para o golpe em que foi usado, disseminado em massa mas só agindo no hardware específico para que foi designado; enquanto sua origem não é conhecida, se acredita que ele foi desenvolvido por um governo internacional, devido ao funcionamento de cunho político e militar.

Os grupos de estudo da Kaspersky, então, passaram a se focar em ameaças internacionais, sendo responsáveis pela revelação de pragas focadas em diferentes países. Foram dos relatórios da companhia que saíram os primeiros detalhes sobre o grupo Equation, que realizaria operações de espionagem digital a mando do governo dos Estados Unidos e o malware Flame, focado em operações contra países do Oriente Médio.

Continua após a publicidade

Bases sólidas, ataques e relações perigosas

Em 2007, Eugene Kaspersky se torna CEO da empresa que fundou, enquanto em 2011, decide não abrir as ações da companhia na Bolsa. O especialista acreditava que negociar papeis atrapalharia os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento da empresa, desagradando investidores e resultando na saída de alguns dos principais executivos-chave da companhia, incluindo sua ex-esposa, de quem se separou em 1998.

Enquanto isso, seu trabalho em prol de regulamentações contra os ataques governamentais continua. Em 2012, Kaspersky abre um novo braço de sua empresa, focado apenas em sistemas de proteção para infraestruturas críticas, enquanto continuava a rodar o mundo apresentando não apenas seus produtos, mas também as controversas ideias de uma rede baseada em verificação de identidade e diferentes controles de acesso.

Continua após a publicidade

Para ele, a internet deveria ser dividida em “zonas”: uma vermelha para usos críticos como sistemas essenciais, finanças, votação e manipulação de documentos, uma cinza com checagem de idade, mas não de identidade, para acesso a sites impróprios e uma terceira, verde, mais aberta e irrestrita, com notícias, blogs e demais elementos relacionados à liberdade de expressão, sem rastreamento ou acompanhamento. Assim, aponta, seria possível coletar dados de agentes mal-intencionados e chegar mais facilmente aos atacantes cibernéticos.

Tais registros seriam gerenciados por uma entidade internacional autônoma que associaria identidades virtuais às do mundo real, compartilhando informações com agências de segurança quando necessário. A proposta, entretanto, recebe críticas quanto a eventuais quebras de privacidade, anonimato e abuso de poder, além de ser associada aos métodos de controle da rede usados pelo governo da Rússia.

Essa associação também rendeu acusações de que Kaspersky e sua empresa seriam aliadas do governo de Vladimir Putin. Entre as alegações estariam posturas lenientes quanto a spywares e outras pragas afiliadas ao país ou manipulações dos softwares para compartilhamento de informações com o Kremlin; Eugene sempre negou tais acusações e afirma que parte de sua rotina de trabalho é, justamente, lidar com tais desconfianças e garantir a confiabilidade de suas soluções, principalmente, ao mercado corporativo.

Continua após a publicidade

Ainda assim, em 2019, o governo dos Estados Unidos proibiu que agências oficiais usem os produtos de segurança da Kaspersky. Além disso, Eugene Kaspersky foi incluído em um ato assinado por Donald Trump em 2017 que impõe sanções a empresas e executivos de origem russa, iraniana e norte-coreana; no caso dele, a citação aparece em relatórios de identificação de oligarcas associados a Putin e outros membros importantes do governo do país.

Mais recentemente, cerca de dois meses após o início da guerra da Ucrânia contra a Rússia, o governo da Alemanha recomendou que empresas do país desinstalassem os produtos da companhia. Em resposta, a Kaspersky afirmou que a indicação tem fins meramente políticos e buscava punir uma companhia que nasceu no país invasor, mas que não teria qualquer ligação direta com o governo de Putin.

Hoje, Eugene Kaspersky permanece no posto de CEO da empresa que fundou e continua aparecendo em eventos da indústria de cibersegurança. Ele tem dois filhos e é considerado um dos homens mais ricos da Rússia, com um patrimônio estimado em US$ 1 bilhão. Fora do trabalho, ele gosta de automobilismo e fotografia, também patrocinando eventos e projetos focados em ciência, tecnologia, proteção digital e pesquisa aeroespacial.