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Privacidade | Usuários estão mais atentos, mas ameaças ainda são grandes

Por| Editado por Claudio Yuge | 03 de Fevereiro de 2022 às 20h00

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monkeybusiness/envato
monkeybusiness/envato

Um ano que registrou alguns dos maiores números de cibercrime dos últimos anos também terminou com uma nota relativamente positiva no que toca a privacidade. É o que demonstrou um painel de especialistas reunidos pela Kaspersky, que entre preocupações com ameaças que estão por vir, o surgimento de novas tecnologias e populações marginalizadas, há também certo otimismo com a ideia de que a proteção dos próprios dados está se tornando ponto de atenção para os usuários.

“As pessoas estão entendendo [a falta de privacidade] como um problema real e tomando atitudes a respeito disso. Ainda estamos nos dias iniciais desse movimento, mas ele é positivo, afirmou Jon Callas, diretor de projetos de tecnologia da Electronic Frontier Foundation (EFF). À frente de uma das organizações mais proeminentes no combate a abusos e brechas de privacidade, ele delimita um cenário de maior conscientização e com a proteção contra intrusões se tornando cada vez mais um padrão.

Números como um total de 90% dos sites mais acessados da internet usando protocolos de segurança, como SSL, e exibindo termos de consentimento para coleta de dados, provam isso. Os navegadores, mesmo pertencentes a grandes empresas, estão cada vez mais orientados à privacidade e contando com opções de bloqueio de rastreamento. “O progresso para os próximos anos começa aqui”, complementa Callas, comemorando o fim até mesmo de um projeto da EFF, cuja extensão forçava conexões HTTPS em qualquer site; segundo ele, isso não é mais necessário, já que a criptografia e a proteção se aproximam cada vez mais de se tornarem padrão.

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Vladislav Tushkanov, cientista sênior de dados da Kaspersky, concorda com essa visão. Segundo ele, há uma mudança de postura das grandes empresas de tecnologia, seja diante de uma otimização de processos ou devido a legislações ou conscientização dos usuários. Se antes a ideia era coletar o máximo possível, o objetivo agora é obter o necessário e o relevante, preservando a privacidade e selecionando aquilo que é preciso para a prestação de serviços, exibição de anúncios ou fornecimento de acesso.

Essa busca por mais informações também aumenta a importância dos profissionais de segurança, que seguem como os vetores de dados confiáveis e orientações aos usuários. Isso vale, inclusive, diante de uma das tendências que ele enxerga para os próximos anos, com o uso de rastreamento com machine learning para escapar de legislações mais rígidas quanto à coleta de cookies e outros dados comuns de navegação. “Novas formas de monitoramento podem surgir caso [as leis] se tornem mais restritas, então é importante manter a vigilância”, completa.

Rachel Gibson, diretora do Centro Nacional de Vítimas de Crime dos EUA, volta seu olhar para a mesma coisa, mas em direção ao metaverso. Para ela, esse novo hub de contato, troca de informações e convivência online ainda está sendo explorado e, nesse meio, também deve acompanhar novas formas de rastrear e reduzir a privacidade. “A expectatitiva é que mesmo essas novas tecnologias acompanhem velhas formas de abuso, então nossas táticas de combate, se adaptadas, também funcionarão”, afirma.

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Privacidade como modelo de negócio

É um ciclo que se retroalimenta: mais e mais pessoas estão interessadas na proteção de seus dados pessoais e desejam se proteger, o que faz com que novos serviços surjam justamente com esse foco. De 2022 em diante, a expectativa é de uma concorrência ainda maior em setores como mensageria, navegadores e serviços online. “As pessoas estão dando um passo atrás e entendendo que o digital faz parte da vida. Nisso, buscam entender o papel da própria privacidade”, explica Gibson.

Por outro lado, ela demonstra preocupação quanto às populações marginalizadas, algo que vê de perto com seu trabalho diário com violência doméstica. Imigrantes e vítimas, por exemplo, mais do que ninguém sabem a necessidade de manterem seus dados pessoais em sigilo, mas nem sempre conhecem exatamente o caminho para fazerem isso, principalmente no que toca como seus dispositivos funcionam e coletam tais elementos.

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Na visão dela, existe uma segregação digital que faz com que não apenas o acesso à tecnologia seja bem diferente em variadas camadas da sociedade como, também, à informação. “Muitas pessoas ainda não entendem bem como podem se manter seguras com seus dados em um ambiente online cada vez mais social. A acessibilidade, nesse sentido, deveria ser uma prioridade [do setor]”, afirma.

Para Gibson, por mais que 2021 tenha trazido avanços significativos, a privacidade ainda é um luxo e fazer com que as tecnologias de proteção sejam abrangentes a aparelhos defasados e soluções gratuitas, por exemplo, pode ser um caminho para mudar esse distanciamento. “Criar apps [com esse foco] beneficia o coletivo, além de ser uma boa alternativa estratégia e um ótimo modelo de negócios”, completa ela.

Callas aponta o governo como coparticipante nesses esforços, tanto em prol de maior regulação como, também, em tentativas de ferir a privacidade dos usuários em nome da segurança. O diretor da EFF vê um papel ainda incerto e discussões polarizadas na esfera política, que acabam influenciando em medidas diretas e levando até mesmo a casos de doxxing ou exposição por conta de tais inseguranças.

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Ele cita, por exemplo, o acesso à documentação pública, que pode sim estar disponível a todos, mas não livremente e sem controle. O especialista dá um exemplo simples, como dirigir a um local para visualizar tais informações a partir de registros formais, em prol de maior proteção, em vez de liberar tudo na internet para que os interessados, mas também os maliciosos, possam usar. Privacidade e transparência, aponta, não precisam ser conceitos excludentes.

Enquanto enxerga e espera o surgimento de mais e mais empresas de tecnologia com foco em privacidade, gerando uma competição altamente benéfica para “ver quem faz melhor”, ela também aguarda maior investimento em conscientização por parte do poder público. Além disso, termina com um desafio: “os marginalizados devem ser prioridade, pois os abusos sempre começam com eles. Depois, seguem para o restante da sociedade.”