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BeReal | Privacidade do app tem 5 pontos que exigem atenção

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Criada como uma rede social de fotos instantâneas em 2019, o BeReal só começou a ganhar tração no mercado durante a pandemia de covid, e, neste ano, alcançou o pico de uso entre os brasileiros. O grande apelo do aplicativo, que conta com registros e selfies de pessoas em todo o mundo, é oferecer uma atmosfera mais “intimista”, com momentos aleatórios do cotidiano gravados tanto com a câmera traseira quanto com a frontal do dispositivo móvel.

A cada dia, em um horário diferente, os usuários do BeReal são solicitados a tirar uma foto sem filtro em qualquer situação que estejam vivenciando naquele momento. A partir de uma notificação, as pessoas têm dois minutos para tirar uma foto com a câmera frontal e traseira e compartilhá-la com a rede de amigos.

Entre março e setembro deste ano, a startup Orbit Data Science fez um levantamento sobre a popularidade do BeReal nas redes sociais, com análise qualitativa de 672 comentários aleatórios feitos no Twitter, YouTube e Instagram citando o termo “BeReal”. Do total de comentários analisados, 70,7% se referem à adesão ao BeReal, 34,6% relataram já estarem utilizando regularmente o BeReal, e 12,34% disseram “Comecei/Quero começar a utilizar o BeReal”.

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O objetivo do BeReal, segundo a própria companhia, é promover as coisas como elas realmente são, sem filtros, o que, por si só, é uma ótima premissa, principalmente para melhorar a saúde mental das pessoas. Afinal, todos sabemos que os “mundos perfeitos” que só existem nos detalhes produzidos especificamente para “posts ideais” de rede sociais não fazem bem para a construção diária da realidade dos usuários.

Contudo, assim como todos os apps que bombam por aí explorando diariamente nossas fotos e vídeos, surgem as perguntas sobre privacidade. E abaixo estão alguns pontos a se considerar sobre o assunto quando se trata do BeReal.

O BeReal tem privacidade confiável?

Para tirar as dúvidas sobre os principais pontos envolvendo segurança e privacidade do BeReal, Jeff Williams, chefe global de segurança da firma de proteção online Avast, descobriu algumas coisas interessantes sobre o aplicativo.

1. O BeReal tem o direito de fazer o que quiser com as suas fotos por 30 anos

Após uma minuciosa leitura sobre os termos de serviço da BeReal, Williams notou um ponto que chamou a atenção: depois que você aceita usar o app, a plataforma tem 30 anos para reutilizar as fotos dos usuários da forma que quiser. Isso inclui campanhas publicitárias, materiais promocionais, vídeos, compilações, entre outras coisas.

Isso pode ser especialmente comprometedor para os mais jovens, já que, anos mais tarde, suas imagens podem estar atreladas a alguma situação em que eles não se veem mais — o que pode se tornar até mesmo em algo embaraçoso ou constrangedor. “Imagine o seu momento mais comprometedor e constrangedor sendo anexado a uma campanha publicitária para os seus amigos ou a um conteúdo que se torna viral e atrai milhões de espectadores”, exemplifica Williams.

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“Trinta anos são, em geral, um ‘para sempre’ no tempo da internet e potencialmente cobrem mais de 60% dos anos de carreira profissional de uma pessoa. Esta parece ser uma concessão particularmente longa de direitos com permissões de uso excepcionalmente amplas.”

2. Você pode acabar revelando coisas que não pretendia revelar

Assim como qualquer outra rede social, no BeReal também é muito fácil compartilhar dados de localização, assim como dados que podem revelar mais sobre você: como detalhes sobre o quarto da casa onde mora ou anotações de trabalho em alguma mesa do seu expediente. Embora essa exposição faça parte da própria proposta desses tipos de plataformas, é preciso tomar alguns cuidados com relação a isso.

Se em outras redes sociais já é necessário o cuidado para se expor demais, já que os bandidos podem explorar essas informações, no BeReal essa questão toma uma proporção ainda maior. Isso acontece devido ao formato da plataforma, que pressiona o usuário a realizar postagens rapidamente. Isso pode facilitar equívocos, por exemplo, já que alguém pode, sem querer, acabar compartilhando mais do que gostaria.

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“O aplicativo usa as câmeras voltadas para frente e para trás como forma de capturar a atividade do momento, independentemente do que seja ou de quem está em segundo plano”, diz Williams. “Esse modelo pode resultar no compartilhamento de informações confidenciais, como o conteúdo de uma tela de computador ou em um quadro branco da empresa, ou fotos invasivas de privacidade de pessoas que não optaram pelo serviço e que podem ter direito a uma expectativa de privacidade. A pressão do tempo também pode resultar no compartilhamento de um momento pessoal que traz impactos negativos no futuro ou onde os metadados expõem a localização exata.”

3. Falta moderação de conteúdo

O BeReal, na verdade, não se posiciona como uma rede social, e sim como uma “empresa de hospedagem”. Pode parecer um detalhe pequeno, mas, dessa forma, a plataforma parece evitar a responsabilidade sobre o conteúdo postado no app — ou seja “não sou eu que estou postando isso, são os outros”.

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Dessa forma, não é raro encontrar no BeReal conteúdos perturbadores, discurso de ódio, entre outras coisas que seriam facilmente banidas por uma mínima moderação. “Foi dito na imprensa repetidamente que a Meta faz um trabalho inadequado de moderação de conteúdo e isso é jogar centenas de pessoas no problema”, destaca Williams.

“Penso que o BeReal não vai chegar nem perto desse investimento. Então, o resultado provavelmente será que tudo de ruim que você já ouviu sobre a falta de moderação de conteúdo no Facebook, você verá ainda mais no BeReal”, projeta o chefe global de segurança da Avast.

4. A geolocalização não é desativada automaticamente

Devido justamente a problemas relacionados à privacidade dos usuários, muitos aplicativos como o Instagram são obrigados a manter a geolocalização desligada como padrão. O BeReal, contudo, demanda o recurso ativado por padrão. Os usuários são solicitados a ativar/desativar a geolocalização e se desejam compartilhá-la com toda a comunidade BeReal ou apenas com seu círculo de amigos.

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“É nossa forte recomendação que os usuários desativem a geolocalização, especialmente ao compartilhar fotos na seção Discovery. A seção Discovery exibe fotos para usuários fora de seu grupo de amigos e pode ser acessada por qualquer usuário do aplicativo. Uma localização em tempo real pode ser mal utilizada para perseguição ou criação de perfil”, sugere Williams.

5. O BeReal permite cookies de terceiros

Assim como o Facebook, o Instagram e outros aplicativos de mídia social, o BeReal usa cookies de terceiros. Ainda que isso facilite a experiência dos usuários com uma plataforma customizada de acordo com os perfis armazenados, também indica que cada atividade está sendo rastreada pelos anunciantes para veicular publicidade personalizada — e sabemos que essas informações têm o potencial de serem exploradas de maneira invasiva.

Bom uso do BeReal também depende da preservação da privacidade pelos próprios usuários

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Em suma, o BeReal traz consigo muitas das mesmas preocupações de privacidade que envolvem todas as mídias sociais, desde o começo da proliferação da maioria delas, há mais de uma década. Então, cabe também aos usuários pensarem sobre o quanto de sua vida pessoal querem expor ao público.

Vale fazer as seguintes perguntas antes de postar algo: “Realmente quero que mais uma corporação tenha acesso a tantas informações sobre mim?”, “Para pertencer a um grupo vale a pena expor a mim e aos outros de maneiras que podem ser perigosas?” ou “Qual é o impacto dessa publicação no meu trabalho, em casa ou na vida de meus familiares?”.

O Canaltech entrou em contato com o BeReal para saber o que a plataforma tem a dizer sobre essas preocupações em torno da privacidade e dos termos de uso do app. Assim que tivermos uma resposta, publicaremos aqui também.

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