ANPD investiga práticas de empresa que coleta íris em troca de dinheiro
Por André Lourenti Magalhães | •

A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) informou que conduz uma investigação sobre a empresa Tools For Humanity, do criador do ChatGPT, para entender sobre o tratamento de dados sensíveis ao escanear a íris das pessoas. A companhia tem um projeto chamado World para criar uma identidade única através da íris e oferece uma criptomoeda em troca do serviço.
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A World viralizou nas redes sociais nas últimas semanas, com relatos de filas para escanear a íris em São Paulo (SP) e pessoas que supostamente teriam ganho até R$ 700 pela prática. De acordo com a autarquia, a investigação começou em 11 de novembro de 2024 e a Tools For Humanity já cooperou com informações e documentos pedidos.
O que a ANPD quer saber?
A investigação ocorre para entender o tratamento de dados considerados sensíveis: informações biométricas como impressões digitais e, nesse caso, a íris exigem medidas mais rigorosas de segurança porque podem oferecer um risco à privacidade do usuário.
A ANPD pediu informações gerais sobre o tratamento e a transparência da empresa, tais como:
- Contexto em que o tratamento ocorre;
- Aspectos materiais da operação do tratamento;
- A hipótese legal para fundamentar o tratamento;
- A transparência do processo de tratar os dados pessoais;
- Como os titulares podem exercer seus direitos;
- Quais as medidas de segurança da informação e proteção dos dados pessoais já existentes;
- O tratamento de dados de crianças e adolescentes;
- A avaliação das possíveis consequências envolvendo privacidade e proteção de dados.
Quais os próximos passos?
A autarquia confirma que já recebeu a documentação da Tools For Humanity e agora analisa todas as informações até publicar uma nova decisão.
Houve uma reunião com o Coordenador-Geral de Fiscalização da ANPD, Fabrício Guimarães Madruga Lopes, e representantes da empresa em novembro deste ano, e a companhia enviou mais informações no dia 7 de janeiro, de acordo com dados públicos no Sistema Eletrônico de Informações.
Como a World funciona?
Criada por Sam Altman (CEO da OpenAI, responsável pelo ChatGPT) e Alex Blania, a Tools For Humanity (TFH) divide a iniciativa World em três frentes principais: World ID, Worldcoin e World App.
A World ID é uma sequência de identificação gerada após escanear a íris de uma pessoa — para isso, o indivíduo precisa comparecer a uma das estações da empresa e fazer o processo com um dispositivo chamado Orb. Segundo a TFH, o objetivo é ter um registro capaz de diferenciar humanos de bots na internet e o uso da íris seria a melhor opção para diferenciar cada pessoa.
Após ceder as informações da íris, o indivíduo ganha o identificador e um pagamento na criptomoeda Worldcoin. O valor é movimentado no aplicativo World App, que atualmente funciona como uma carteira virtual, e pode ser convertido em reais.
A ideia da Worldcoin viralizou no TikTok e no Instagram pela promessa de dinheiro fácil, mas o projeto levanta preocupações em vários países. O governo da Coreia do Sul já conduziu uma investigação sobre o tratamento dos dados no ano passado, enquanto usuários em países de África, América do Sul e Ásia já reclamaram que não foram pagos pelo serviço no passado.
A empresa defende que o identificador gerado é protegido por criptografia e o Orb apaga as imagens da íris após processar os dados. No Brasil, a World opera desde novembro do ano passado com estações em São Paulo.
O que diz a Tools For Humanity
Em contato com o Canaltech, a Tools For Humanity reforçou que o serviço está em conformidade com as leis brasileiras, incluindo a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), e se disponibiliza a conversar com autoridades para explicar a tecnologia. Veja a nota da empresa na íntegra:
A rede World está criando as ferramentas que as pessoas precisam para se preparar para a era da IA, ao mesmo tempo preservando a privacidade individual.
Não é incomum que ideias inovadoras e novas tecnologias levantem questões. A Fundação World acredita que é importante que os reguladores busquem informações ou esclarecimentos sobre suas preocupações.
A Fundação World está em total conformidade com todas as leis e regulamentos aplicáveis que regem o processamento de dados pessoais nos mercados onde a World opera. Isso inclui, mas não se limita à Lei de Proteção de Dados Pessoais do Brasil ou LGPD (13.709/2018). Por meio do uso de tecnologia de ponta, a World define os mais altos padrões de privacidade e segurança e incorpora recursos avançados de preservação da privacidade.
A Fundação World dá alta prioridade ao envolvimento com indivíduos e organizações para responder a quaisquer perguntas que possam ter e garantir a transparência em nossas operações e continuará a colaborar ativamente e oferecer as informações necessárias para garantir a compreensão completa de sua tecnologia.
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