Vermífugo mostra potencial para tratar covid grave
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 15 de Setembro de 2022 às 10h58
Cientistas brasileiros testam os efeitos do vermífugo niclosamida contra o vírus da covid-19. Em laboratório, o efeito do medicamento parece ser promissor para combater a inflamação provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2. No entanto, mais estudos ainda são necessários para confirmar a eficácia da fórmula que, originalmente, é usada para combater casos de tênia.
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Publicado na revista Science Advances, o estudo sobre os potenciais benefícios da niclosamida contra a covid-19 foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP). Em tese, o medicamento poderia ser usado em pacientes com casos graves da infecção.
Aqui, é importante destacar que nem todo o medicamento que demostra ser eficaz em laboratório gera efeitos práticos. O principal exemplo na pandemia da covid-19 foi o antiparasitário e vermífugo ivermectina. Atualmente, a medicação não é recomenda para o tratamento do coronavírus SARS-CoV-2.
Vermífugo precisa ter nova formulação para tratar covid
Segundo os autores do estudo, a atual fórmula do vermífugo niclosamida — aquela que é vendida em farmácias — não funciona para tratar os efeitos da covid-19 nos pulmões e, por isso, precisaria ser reformulada, caso a pesquisa avance conforme o esperado.
“O comprimido contendo niclosamida comercialmente disponível não é absorvido no estômago, por isso ele funciona para vermes intestinais. Mas não vai funcionar para covid-19 se tomado por via oral. Para contornar esse problema, será necessário desenvolver uma nova formulação da droga, que chegue diretamente aos pulmões”, explica Dario Zamboni, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e integrante do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (Crid), para a Agência Fapesp.
Como atua a niclosamida contra o coronavírus?
No estudo, os pesquisadores da USP avaliaram os efeitos do vermífugo niclosamida em camundongos infectados com SARS-CoV-2 e em glóbulos brancos presentes no sangue de pacientes com a covid-19. Em ambos os cenários, o medicamento demostrou ser promissor e provocou melhor resposta do que outros remédios já testados.
Segundo o professor Zamboni, os efeitos anti-inflamatórios da niclosamida podem bloquear um mecanismo imunológico conhecido como inflamassoma. Este provoca uma resposta do sistema imune desproporcional. Nesses casos, o organismo ataca o próprio corpo — através das citocinas —, piorando o quadro já grave do paciente da covid-19.
O inflamassoma também está envolvido em doenças autoimunes, neurodegenerativas, gripe, alguns tipos de câncer e de doenças infecciosas, incluindo zika, chikungunya e febre do Mayaro. Isso significa que, no futuro, o medicamento pode ser testado e ajudar no tratamento de outras doenças. "Esses resultados abrem possibilidades para uma série de novas pesquisas”, completa o professor.
Fonte: Science e Agência Fapesp