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USP desenvolve capacete-respirador para tratamento de casos graves da COVID-19

Por| 20 de Maio de 2020 às 16h45

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Richard Manley/US Navy
Richard Manley/US Navy

Há no mundo quase cinco milhões de pessoas infectadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) e mais de 320 mil já morreram em decorrência da COVID-19, segundo dados da Universidade Johns Hopkins. Tanto para cientistas quanto para médicos um dos grandes desafios impostos pela pandemia é o longo período de internação dos pacientes nos casos mais graves da infecção respiratória, que pode se estender por semanas.

Para ajudar os pacientes internados em UTIs (Unidades de terapia intensiva), um grupo de pesquisadores da USP, em São Paulo, está desenvolvendo um capacete que, adaptado ao respirador artificial, dispensa o uso do tubo endotraqueal. A instalação desse tubo nos pacientes costuma ser extremamente dolorida e, por isso mesmo, é feita sob anestesia geral.

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Até agora, essa era a única maneira de permitir que o sistema respiratório do paciente continuasse a funcionar nos casos graves da COVID-19. Desenvolvido por pesquisadores da Escola Politécnica (Poli), Faculdade de Medicina (FM) e da Faculdade de Odontologia (FO), é isso que o protótipo da USP, em fase final de testes, promete mudar.

Como funciona?

Batizado inicialmente de Escafandro em referência ao traje usado por mergulhadores, o equipamento é formado por uma cúpula redonda de acrílico, uma membrana de látex que se ajusta ao pescoço, uma almofada inflável sobre os ombros, filtros e válvulas de acesso. “O acrílico é um material translúcido que pode ser higienizado até mesmo com bactericidas”, explica Raul Gonzales Lima, professor e coordenador da iniciativa, para o Jornal da USP.

Essa espécie de capacete-respirador tem dois tubos, diretamente, ligados a um respirador artificial. E será esse respirador artificial que fará com que o ar que entre tenha concentração e pressão específicos para melhorar a oxigenação sanguínea do paciente internado pela COVID-19.

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Em outras palavras, o aparelho é um facilitador para as internações. “Trata-se de uma opção menos invasiva, já que em muitos casos pode ser uma alternativa para evitar a necessidade de utilização do tubo endotraqueal introduzido no paciente”, explica o professor. 

“Outra vantagem do equipamento é que ele impede a contaminação no ambiente de uma UTI, já que o ar é filtrado. Assim, possíveis partículas da COVID-19 não serão dispersas no ambiente hospitalar, e isso resultará em mais segurança aos que atuam diretamente com esses pacientes”, explica o pesquisador Lima. “Além disso, como a estrutura permite a higienização, poderá ser reutilizada para outros pacientes depois de descontaminada, reduzindo custos e descartes”, orienta.

Mais pesquisas

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O protótipo do capacete ainda está sendo aperfeiçoado na sua terceira versão. “Desta vez estamos trabalhando para reduzir a complacência no equipamento, que resulta da movimentação do capacete de acordo com a entrada e saída do ar. Denominamos ‘complacência’ o espaço morto instrumenta,l que acaba armazenando o CO2 que é retirado dos pulmões. Se isso ocorrer, parte desse CO2 acaba retornando ao órgão, o que é prejudicial ao paciente que utiliza o respirador. Por isso, é importante utilizar materiais mais rígidos para que o volume do capacete varie pouco”, explica o professor.

Agora, as próximas etapas do projeto também deve avaliar o uso de outros materiais na composição do capacete. “Estamos na etapa que podemos chamar de física e biomédica, que deve ser concluída nesta semana para, assim que aprovado pela Comissão de Ética, passarmos aos testes clínicos”, comenta Lima.

Ainda segundo Lima, “há os trâmites junto à Anvisa e comissões de pesquisas, que já estão também em andamento”. Assim que concluída a etapa de pesquisa, a produção do capacete-respirador, em larga escala, poderá ser rápida, já que utiliza materiais e infraestrutura de fabricação disponível no próprio mercado nacional. Essa iniciativa é viabilizada pelo Projeto Inspire – Ventilador Pulmonar de Baixo Custo, que é mantido na Poli.

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Fonte: Jornal da USP