Unicamp desenvolve novo teste que identifica o coronavírus a partir de fungos
Por Fidel Forato |
Para controlar o novo coronavírus (SARS-CoV-2), a Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta a testagem, em massa, de casos suspeitos da COVID-19 para que se evite a transmissão descontrolada do vírus. Para isso, pesquisadores brasileiros desenvolveram um novo tipo de teste rápido para doença que usa como base alterações causadas em fungos, mais especificamente as leveduras.
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Segundo os cientistas do Laboratório de Genômica e bioEnergia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é possível relacionar alterações nas cores das leveduras — organismos unicelulares muito usados para a fabricação de iguarias fermentadas, como pão e vinho — com a presença do novo coronavírus em uma amostra salivar ou da nasofaringe do paciente. Nesse caso, uma tonalidade avermelhada confirmaria a infecção.
Com a promessa de ser mais acessível, esse novo modelo de teste foi chamado pelos pesquisadores da Unicamp de Coronayeast (que é a junção do nome do vírus com o do fungo, em inglês). Agora, a equipe aguarda a patente da invenção, enquanto busca financiamento de R$ 500 mil a R$ 1 milhão para disponibilizar o produto no mercado em, no máximo, seis meses.
Entenda o teste
No desenvolvimento do projeto, os pesquisadores inseriram na levedura um gene que facilita a entrada do novo coronavírus nas células humanas, a proteína humana ACE-2. No caso de uma amostra contaminada, após um período de incubação, um hormônio associado passa a ser abundante no local e, dessa forma, são ativados genes que tornam a levedura vermelha e fluorescente.
Segundo o professor da Unicamp, Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, que participa do projeto, esse novo exame seria barato e, como não é invasivo, pode ser aplicado inúmeras vezes, até mesmo pelos próprios pacientes. Quanto aos custos, a expectativa é de que a produção seja até 100 vezes mais em acessível do que de testes RT-PCR, que também usam amostras da nasofaringe para o exame da COVID-19. Isso porque eles se baseiam em métodos que dependem de insumos enzimáticos com preços mais elevados e que precisam ser importados.
Mais pesquisas
Mesmo que o teste tenha identificado o coronavírus, os cientistas ainda investigam o tempo mínimo para se chegar a um diagnóstico conclusivo da infecção. Por enquanto, foi notado que a coloração vermelha é percebida na levedura em no máximo 4h. Caso o vírus não esteja presente, a levedura deve manter a sua a cor natural, que é bege-amarelada. Outro desafio é entender a partir de quando o exame passa a identificar a doença.
Segundo os pesquisadores do estudo, o Coronayeast é considerado como o primeiro biossensor de levedura para detecção de vírus. Depois de concluído o projeto para o novo coronavírus, a meta é usar a mesma tecnologia para detecção de outras doenças, aperfeiçoando as aplicações desse conhecimento.