Tecnologia permite a entrega de remédios no cérebro de pacientes com Alzheimer
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 18 de Março de 2022 às 14h40
Uma equipe de pesquisadores norte-americanos testou uma estratégia que permite a abertura da barreira hematoencefálica (BHE), responsável por proteger o cérebro de toxinas e agentes infecciosos. Apesar de benéfica, a estrutura também impede que remédios sejam usados, por exemplo, no tratamento do Alzheimer e de outras demências.
- Tudo o que você precisa saber sobre o Alzheimer
- Dormir mal pode contribuir para o surgimento do Alzheimer
Publicado na revista científica Nature Communications, o novo estudo busca desenvolver uma estratégia que abra a barreira hematoencefálica, mas que possa fechá-la em seguida. A ideia é que fique aberta apenas para a entrada dos medicamentos, mas que, em um período curto de tempo, volte a proteger do cérebro.
Quando há uma doença neurológica, a barreira do cérebro “se torna o pior inimigo” do paciente, explica Anne Eichmann, professora de Universidade de Yale, nos Estados Unidos, em comunicado. Isso porque impede a viabilidade de qualquer tipo de tratamento e até mesmo de estudos na região para conter o avanço do quadro.
Por enquanto, os testes foram realizados, com sucesso, em roedores. Nos animais, a equipe de cientistas usou um anticorpo como ferramenta de abertura da barreira, mas a pesquisa é ainda inicial.
Como a barreira hematoencefálica é aberta no cérebro?
“Esta é a primeira vez que descobrimos como controlar a barreira hematoencefálica com uma molécula”, afirma Eichmann. Para chegar neste ponto, foi analisado como a estrutura do cérebro reagia em diferentes situações.
Os cientistas observaram que a barreira hematoencefálica é aberta na ausência da do receptor Unc5B. Em paralelo, descobriram que o ligante Netrin-1 também causava um tipo de defeito na barreira quando era removido.
A partir destas evidências, o grupo desenvolveu um anticorpo que poderia bloquear a ligação do Netrin-1 ao seu receptor Unc5B. Segundo os autores do estudo, ao injetar o novo anticorpo, a barreira é aberta de forma temporária e sob demanda.
Relação da estratégia com o tratamento do Alzheimer
Para os cientistas, ter controle sobre a barreira pode ser especialmente útil na entrega de medicamentos que afetam o cérebro, como no caso do Alzheimer. “Há potencial para usar isso como uma plataforma de entrega de medicamentos para penetrar no cérebro”, explica Eichmann.
Em resumo, a descoberta “abre caminho para pesquisas básicas mais interessantes sobre como o corpo constrói uma barreira tão justa para proteger seus neurônios e como ela pode ser manipulada para a entrega de medicamentos”, detalha a pesquisadora.
Agora, a equipe planeja estudar formas de aplicação do anticorpo no tratamento de tumores cerebrais. Em tese, a abertura da barreira deve facilitar a quimioterapia e potencializar seus resultados.
Fonte: Nature Communications e Faculdade de Medicina de Yale